Por Reinaldo Azevedo
A Copa do Mundo está chegando. Depois, vem a Olimpíada. Se setores
da imprensa não pararem de flertar com a bagunça; se as autoridades, de
situação e de oposição, não deixarem claro com todas as letras que a violência
é inaceitável; se a Justiça não decidir se voltar para o que dizem as leis,
pouco importando os anseios subjetivos do juiz, as coisas podem se complicar
bastante.
Está em curso uma marcha de irresponsáveis, mais ocupados em
cuidar de sua própria reputação "progressista" - tanto quanto possível,
ajustando também as contas com o passado - do que em preservar o clima de
normalidade democrática. E, atenção!, na normalidade democrática, o corriqueiro
é que manifestantes respeitem a autoridade policial. E que a autoridade
policial se comporte segundo as regras do seu manual de conduta.
Na normalidade democrática, os que protestam não cospem em
policiais, não os atacam com coquetéis molotov, não usam estilingues para
atingi-los com bolotas de aço, não depredam bancos, não ocupam prédios públicos
com marretadas. Na normalidade democrática, os que agem assim são severamente
punidos.
Atenção! Nas democracias, é desnecessário acionar a Justiça para
desocupar uma prédio público ou privado invadido. Basta chamar a polícia. O ato
é um crime como qualquer outro. Não é preciso acionar um juiz para decidir se o
ladrão pode ou não bater uma carteira ou se o potencial homicida pode ou não
matar alguém. Assim, dispensa-se o concurso do Judiciário para arbitrar sobre
uma invasão de propriedade pública ou particular. Como se trata de uma
flagrante agressão ao direito de terceiros, a força policial atua.
Por aqui, há um processo de legitimação da violência, desde que os
violentos digam atuar em nome de uma causa justa ou do povo. Regras elementares
da lógica deixam de ter validade. O ministro Luiz Fux, por exemplo, avalia que
descontar dias parados de grevistas agride o direito à greve. Errado! O direito
persiste. O não-pagamento apenas distingue o óbvio: o trabalho do não-trabalho.
Não para Fux. Assim, quando um professor deixa de trabalhar, o único
prejudicado mesmo há de ser o aluno. É uma sandice. Invasores da reitoria da
USP, cuja ação deveria ter sido coibida no ato, têm agora mais 60 dias para
deixar o local. Expirado o prazo, então se vai ver o que fazer.
No Rio, o batalhão de advogados da OAB, sob o comando de Wadih
Damous, vai à luta para soltar desordeiros, todos eles presos em flagrante depredando
a cidade, mas todos eles, claro!, inocentes - porque, sabe-se, violenta mesmo é
a Polícia… Nessa concepção, os que seviciaram e mataram Amarildo contaminam
toda a corporação, mas os incendiários que estão à solta nada dizem sobre o
manifestantes… Isso corresponde a investir na desordem.
A parceria do sindicato dos professores do Rio com os black blocs
é admitida pelos próprios sindicalistas, sobre palanques. Nesta terça,
caminharam, mais uma vez, unidos. Não obstante, anuncia-se que eles são apenas "infiltrados" no movimento. Estou entre aqueles que admitem "Jornalismo de
Tese" - para tanto, existem colunistas, analistas, gente que dá opinião (sim,
sou um deles).
Quando a tese insiste em negar o fato evidente, comprovado e
admitido até por aqueles que são protegidos pela falácia, então se tem é uma
tentativa de enganar a opinião pública. A troco de quê?
É curioso, um caso a se pensar, que a violência na capital
fluminense tenha dado uma trégua durante o "Rock in Rio". Ora, se o objetivo
era mostrar para o mundo isso e aquilo, as lentes do mundo estavam ali mesmo,
ao alcance de qualquer quebra-quebra. E, no entanto, felizmente, nada
aconteceu. A contrário: por alguns dias, o Rio voltou a ser a cidade da
alegria, da paz, do congraçamento, dos solos de guitarra ecoando pelas
tardinhas que caíam e os barcos que iam… "Qual é a sua hipótese conspiratória,
Reinaldo?" Não tenho. Constato um fato à espera de uma explicação.
Observo que os violentos estão ficando cada vez mais ousados. Já
que a sua tática do quebra-e-esfola foi, na prática, admitida como uma forma de
manifestação, o normal é que procurem aprimorar a ação, tornando-se ainda mais
agressivos. Não adianta demonizar os vândalos e preservar da crítica aqueles
que estão, na prática, contratando os seus serviços.
Setores importantes do jornalismo têm de decidir se prestam um
serviço ao conjunto dos brasileiros ou aos militantes do PSOL, do PSTU e, no
caso do Rio, do PT.
PS – Por falar nisso, alguém ouviu a voz de Marcelo Freixo ou de
Lindberg Farias condenando a violência?
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário