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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

"Como a oposição acha que não se bate em mulher nem com palavras, Dilma agora entrega casas sem água e sem luz"



Por Augusto Nunes

Confrontados com a notícia de que Dilma Rousseff anda enxergando cachorros ocultos atrás de todas as crianças do Brasil, os craques do duelo retórico que desapareceram da paisagem política teriam demolido a usina de maluquices com meia dúzia de contragolpes contundentes. Um Carlos Lacerda, por exemplo, provavelmente sugeriria que a chefe de governo dedicasse ao exame dos incontáveis problemas reais o tempo que desperdiça em visões mediúnicas. Um Jânio Quadros talvez perguntasse se os cães também são distribuídos de acordo com as classes sociais ou se a presidente já viu um galgo afegão seguindo um pequeno favelado (ou vira-latas escoltando a filharada da elite golpista).
Para sorte de Dilma, a Era da Mediocridade transformou numa espécie em extinção a tribo dos bons de briga, ágeis no raciocínio e rápidos no gatilho - o antagonista mal acabara de disparar uma bala bêbada e o revide imediato, certeiro e letal. Em vez de Lacerda, Jânio e tantos outros que nunca negavam fogo, que jamais deixavam de apanhar a luva atirada pelo desafiante, o neurônio solitário lida com adversários exemplarmente gentis, que insistem em valsar com quem só dança quadrilha. Previsivelmente, os candidatos à Presidência não abriram a boca sobre a história do cachorro oculto.
Poupada de chacotas e lambadas merecidíssimas, é natural que Dilma tenha desembarcado em Itajubá, dois dias depois da discurseira alucinada em Porto Alegre, tão à vontade quanto Rosemary Noronha num voo noturno do Aerolula. Caprichando na pose da supergerente que chegou de trem-bala para mergulhar nas águas já transpostas do Rio São Francisco, a candidata à reeleição inaugurou uma fábrica que não construiu, jurou em comícios disfarçados de entrevistas que não está em campanha e, generosa, ensinou aos adversários o que devem fazer para tomar-lhe o emprego.
"Acredito que, para as pessoas que querem concorrer ao cargo, elas têm de se preparar, estudar muito, ver quais são os problemas do Brasil", ensinou. Um Leonel Brizola teria retrucado que, se os demais pretendentes precisam estudar para melhorar a cabeça, a cabeça de Dilma é que precisa ser estudada enquanto é tempo. É um caso clínico e tanto (e, como a ciência não para de avançar, pode até ter cura). Os líderes da oposição oficial, sempre cavalheirescos, preferiram murmurar algumas ressalvas.
A falta de contragolpes ajuda a entender o crescente atrevimento da governante à caça do segundo mandato. Nesta terça-feira, apareceu em Vitória da Conquista, na Bahia, para entregar aos eleitores 1.740 casas populares. O lote incluiu mais de mil moradias sem água e sem luz. Até agora, os adversários não pareceram indignados com o monumento ao cinismo. Devem achar que não se pode bater em mulher nem com palavras.
Fonte: "Direto ao Ponto"

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