NOTA DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA
CONTRA A ENTRADA DE MÉDICOS
ESTRANGEIROS
O Conselho Federal de Medicina (CFM)
condena veemente qualquer iniciativa que proporcione a entrada irresponsável de
médicos estrangeiros e de brasileiros com diplomas de Medicina obtidos no
exterior sem sua respectiva revalidação. Medidas neste sentido ferem a lei,
configuram uma pseudoassistência com maiores riscos para a população e, por
isso, além de temporárias, são temerárias por se caracterizarem como programas
políticos-eleitorais.
O CFM
e os Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) envidarão todos os esforços
possíveis e necessários, inclusive as medidas jurídicas cabíveis, para
assegurar o Estado Democrático de Direito no país, com base na dignidade
humana. Este princípio passa a ser desrespeitado pela irreverência do Poder
Executivo ao pretender ofertar à parcela maior e mais carente da população
brasileira assistência à saúde sem segurança e qualificação.
Se a Constituição Federal não estipulou
cidadãos de segunda categoria, então, o país não pode permitir que tais
segmentos sejam atendidos por pessoas cuja formação profissional suscita
dúvidas, com respeito a sua qualidade técnica e ética.
Ao contrário do que asseguram os
defensores desta proposta, estudos indicam que os médicos estrangeiros tendem a
migrar para os grandes centros a médio e longo prazos. No entendimento do CFM,
a criação de uma carreira de Estado para o médico do SUS - com ênfase na
atenção primária (com a previsão de infraestrutura e de condições de trabalho
adequadas) - asseguraria a presença de médicos e um efetivo atendimento nas
áreas distantes e nas periferias dos grandes centros.
Além disso, para o SUS se manter
público, integral, gratuito, de qualidade e acessível a toda a população, o
Estado Brasileiro não deve se furtar da responsabilidade de destinar-lhe mais
recursos (um mínimo de 10% da receita bruta da União), buscando o
aperfeiçoamento de seus serviços, dotando-os de infraestrutura e recursos
humanos valorizados, para atender de forma eficaz e com equidade a população.
Conclamamos o Poder Legislativo; o
Poder Judiciário; o Ministério Público; as entidades médicas; as universidades;
a imprensa; e todos os movimentos da sociedade civil organizada a se
posicionarem contra esta agressão à Nação e em benefício de um sistema público
de saúde de qualificado.
Não podemos admitir que interesses
específicos e eleitorais coloquem em risco o futuro de um modelo enraizado na
nossa Constituição e que pertence a 190 milhões de brasileiros. O que
precisamos é de médicos bem formados, bem preparados, bem avaliados e com
estímulo para o trabalho. Tratar a população de maneira desigual é sinal de
desconsideração e de desrespeito para com seus direitos de cidadania.
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