Por Reinaldo Azevedo
Há uma
espécie de pacto informal em escala verdadeiramente mundial - e parte
substancial da imprensa brasileira não escapa, é claro! - para esconder os
crimes cometidos pelo governo Obama no caso da perseguição do fisco a entidades
ligadas ao Partido Republicano. Essa mesma imprensa já tinha feito questão de
minimizar a quebra de sigilo telefônico de jornalistas. Não há a menor dúvida,
a esta altura, de que o primeiro escalão da Casa Branca, gente da estrita
confiança do presidente, promoveu perseguição política. Moral e criminalmente,
se querem saber, isso é mais grave do que mandar invadir a sede do partido
adversário na calada da noite. É claro que estou me referindo ao caso Watergate,
que acabou resultando na renúncia de Richard Nixon. E por que é mais grave?
Nixon
sabia que estava cometendo um crime e, por isso, mandou que a coisa fosse feita
à socapa, fora do funcionamento regular do estado. Ou por outra: como tinha
clareza da gravidade da operação, não tentou transformá-la em algo
regulamentar, parte dos procedimentos etc. Agora, a coisa é diferente.
À luz
do dia - como se coubesse a órgãos do estado, como parte de suas incumbências
burocráticas -, órgãos do governo foram mobilizados para perseguir os "inimigos" do presidente - ou, vá lá, do Partido Democrata. Leiam o que vai na
VEJA.com. Volto em seguida.
*
A advogada Kathryn Ruemmler, conselheira da Casa Branca, sabia "há semanas" que funcionários do Fisco estavam perseguindo grupos conservadores que pediam isenção de impostos. A informação torna cada vez mais difícil para o presidente Barack Obama sustentar a tese - bastante conhecida dos brasileiros - de que ele não sabia de nada. O democrata afirmou que só soube do escândalo quando ele vazou para a imprensa, no dia 10 deste mês. Nesta data foi revelado o caso criminoso em que o IRS, a receita federal americana, foi usada para intimidar opositores do governo democrata, endereçando-lhes questionamentos que pouco teriam a ver com o escopo de uma investigação fiscal - como perguntas sobre os livros que liam e até mesmo o conteúdo de orações.
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A advogada Kathryn Ruemmler, conselheira da Casa Branca, sabia "há semanas" que funcionários do Fisco estavam perseguindo grupos conservadores que pediam isenção de impostos. A informação torna cada vez mais difícil para o presidente Barack Obama sustentar a tese - bastante conhecida dos brasileiros - de que ele não sabia de nada. O democrata afirmou que só soube do escândalo quando ele vazou para a imprensa, no dia 10 deste mês. Nesta data foi revelado o caso criminoso em que o IRS, a receita federal americana, foi usada para intimidar opositores do governo democrata, endereçando-lhes questionamentos que pouco teriam a ver com o escopo de uma investigação fiscal - como perguntas sobre os livros que liam e até mesmo o conteúdo de orações.
Neste
domingo, o Wall Street Journal, citando fontes da Casa Branca, afirmou que
Kathryn sabia do esquema desde o dia 22 do mês passado, quando foi informada
pelo Departamento do Tesouro que "um pequeno grupo de funcionários do IRS
perseguiu inapropriadamente organizações usando termos como 'tea party' e 'patriot'". Esses termos eram usados para identificar os grupos de oposição ao
governo democrata. O departamento que Kathryn comanda trabalha no
aconselhamento da Presidência sobre questões legais.
Em
entrevista ao canal NBC, o porta-voz de Obama, Dan Pfeiffer, tentou afastar
Obama do escândalo. "Lidamos com a questão da forma mais apropriada. Como eu
disse, não tivemos qualquer interferência na investigação. Seria um escândalo,
isso sim, se tivéssemos nos envolvido nela", disse.
A
tentativa de blindar o presidente, no entanto, esbarra em outros depoimentos,
como o de J. Russell George, inspetor-geral do Tesouro americano para a
administração de impostos. Na sexta-feira, em audiência no Congresso, ele disse
que a cúpula do governo foi informada em junho do ano passado, a cinco meses da
eleição presidencial, de que havia uma investigação em andamento sobre a
perseguição do Fisco. A declaração de George comprova que as investidas do IRS
contra grupos de oposição eram de conhecimento do alto escalão - e com isso
reforça a ideia de que a máquina do governo, no mínimo por omissão de quem
poderia ter interrompido imediatamente os abusos, foi usada para atingir
inimigos políticos.
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Voltei
Não há nada mais parecido com as patacoadas petistas no Brasil do que a fala de Dan Pfeiffer, segundo quem o presidente de nada sabia e que absurdo seria se o governo tivesse se metido na investigação. Uma ova! Afinal de contas, a perseguição era promovida por esse governo. Fato para o qual não há resposta: mesmo depois do alerta, as práticas discriminatórias continuaram. A perseguição ficou evidente em 2012. Só que havia eleições pela frente. A disputa foi difícil. Obama teve 50% dos votos válidos (29% do eleitorado americano), contra 48% de Mitt Romney (27,5% do total). A diferença foi de 2,8 milhões de votos. Só 56,4% dos 213 milhões aptos a votar compareceram às urnas.
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Voltei
Não há nada mais parecido com as patacoadas petistas no Brasil do que a fala de Dan Pfeiffer, segundo quem o presidente de nada sabia e que absurdo seria se o governo tivesse se metido na investigação. Uma ova! Afinal de contas, a perseguição era promovida por esse governo. Fato para o qual não há resposta: mesmo depois do alerta, as práticas discriminatórias continuaram. A perseguição ficou evidente em 2012. Só que havia eleições pela frente. A disputa foi difícil. Obama teve 50% dos votos válidos (29% do eleitorado americano), contra 48% de Mitt Romney (27,5% do total). A diferença foi de 2,8 milhões de votos. Só 56,4% dos 213 milhões aptos a votar compareceram às urnas.
É
evidente que é pouquíssimo provável que Obama ignorasse o que estava em curso -
ou alguém acredita que Lula ignorava as lambanças do mensalão? Mas digamos que
nem um nem outro soubessem de nada… Cumpriria indagar: que outras ilegalidades
se praticavam às costas do nosso Apedeuta e se praticam ainda às do Apedeuta
Ilustrado dos EUA? Fiquemos ainda nessa hipótese menos maligna para um e para
outro: por que os aloprados, então, de um governo e de outro se sentiram à
vontade para fazer as safadezas? A resposta é óbvia: porque o ambiente era
favorável; porque o ambiente conspirava em favor do crime.
Na
glorificação estúpida que se operou no Brasil da figura de Getúlio Vargas (o
Estado Novo matou muito mais gente do que o regime militar), por exemplo, há,
podem perceber, certa tentativa de culpar Carlos Lacerda pelo atentado de que
ele e o major Rubem Vaz foram as vítimas - no caso do militar, fatal. O
executor do plano foi Gregório Fortunato, o faz-tudo de Getúlio - que também
não sabia de nada, claro! Talvez Getúlio não tenha mandado Fortunato praticar o
atentado. A questão é saber por que este se sentiu a tanto estimulado. Algo no
ambiente que ele respirava lhe dizia que era aquele o modo de tratar os
inimigos.
Mas
derivei um pouco. Volto ao ponto. Os que, na gestão Obama, usaram o estado para
perseguir adversários só o fizeram porque havia, ou há, uma cultura interna que
lhes dizia, ou que diz, que se opor ao governo e ao presidente não faz parte do
jogo político. Também nos EUA está em curso, em muitas áreas, um processo de
criminalização da política.
Isso
está presente não só na pena de muitos colunistas pró-governo. A imprensa
liberal (leia-se "progressista") americana demonizou de maneira impressionante
o Tea Party. Na questão do abismo fiscal, os republicanos foram acusados de
investir no caos do país. A resistência à reforma do sistema de saúde foi
tratada como sabotagem. Da satanização do adversário, passou-se para a
satanização da própria política. Ou não vimos Obama, antes e depois de eleito,
a atacar os "políticos de Washington", como se ele próprio fosse de outro
planeta? E ele não é, certo? Com um pouco de boa vontade, hehe, acredita-se que
tenha nascido no Havaí…
A
perseguição empreendida aos grupos conservadores, ligados ao Partido
Republicano, é coisa de república bananeira. Como sabem, sempre apontei aqui o
lado, deixem-me ver…, terceiro-mundista do jeito Obama de fazer política. Está
aí. Reitero: Nixon sabia que invadir o escritório do partido adversário era
crime e mandou que se fizesse aquilo à socapa. No caso de agora, não se tomou o
cuidado nem mesmo de armar um esquema criminoso paralelo. Tentou-se fazer de
conta que, entre as atribuições do estado, estava perseguir adversários.
Não
obstante, prestem atenção à sublinha de 90% das coisas que se publicam por aí:
há sempre a sugestão de que os republicanos estão exagerando e estão
politizando excessivamente a questão, como se o caso não remetesse à política,
mas apenas à polícia. Afinal, sabem como é, eles são "progressistas", e, a essa
gente, tudo é permitido, inclusive a prática fascistoide de instrumentalizar a
lei para perseguir os que dizem "não".
Não
estou surpreso com a coisa em si. Mas confesso que não esperava estar tão certo
sobre Obama. Encerro lembrando que uma ocorrência como Watergate, por suas
consequências, depura a política e diminui o espaço do estado criminoso. Uma
ação como essa, da gestão Obama, que tende a não punir ninguém de forma
exemplar, alarga as possibilidades do estado delinquente.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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