Editorial
Com lucro de R$ 21,18 bilhões em 2012, 36%
menor que o do ano anterior e o mais baixo em oito anos, a Petrobrás paga um
preço devastador pela sujeição aos interesses político partidários do Palácio
do Planalto. Investimentos mal planejados, orientação ideológica, loteamento de
cargos e controle de preços de combustíveis comprometeram a eficiência e a
rentabilidade da empresa e a desviaram de seus objetivos principais. Os danos
impostos à companhia são parte da herança desastrosa deixada pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva à sua sucessora.
Desde o ano passado a nova presidente da
estatal, Maria das Graças Foster, vem tentando corrigir seu rumo. Mas a
interferência nos preços permanece, os reajustes são insuficientes e a geração
de caixa continua prejudicada. Mais dificuldades surgirão neste ano, avisaram
ao mercado, nessa terça-feira, dois dos principais dirigentes da Petrobrás.
Pelo menos esse dado positivo acompanhou a divulgação das más notícias: a
presidente da empresa e o diretor financeiro, Almir Barbassa, falaram sobre a
situação e as perspectivas da companhia com uma franqueza incomum durante a
maior parte dos últimos dez anos.
Os problemas vão muito além de uma piora
temporária das condições financeiras. A produção de petróleo e gás no Brasil,
no ano passado, equivalente a 2,35 milhões de barris diários, foi 0,9% menor
que a de 2011. Com a parcela produzida no exterior a média diária alcançou 2,59
milhões de barris equivalentes, volume 0,8% inferior ao do ano anterior. A meta
de 2,02 milhões de barris diários, fixada para 2012, continuará valendo para
este ano, com possibilidade de desvio de 2% para mais ou para menos. Se o
desvio ocorrer, advertiu a presidente, será provavelmente para baixo. Não há
possibilidade física, deixou claro a presidente, de um aumento de produção.
As previsões para o ano incluem também,
segundo Maria das Graças Foster, mais R$ 6 bilhões de baixas correspondentes a
poços secos. Além disso, nenhum novo projeto deverá ser iniciado em 2013. A
empresa continuará empenhada em realizar os investimentos já programados, mas o
total aplicado, de R$ 97,7 bilhões, deverá ser R$ 5 bilhões maior que o
anteriormente previsto. A empresa continua analisando a qualidade econômica dos
projetos enquadrados em 2012 como "em avaliação". Ao assumir o posto, a nova
presidente anunciou no ano passado a intenção de rever os planos e prioridades.
Não se anunciou, na ocasião, o abandono de nenhum projeto, mas ficou clara a
disposição de submeter o programa da empresa a uma revisão crítica.
Sem perspectiva de maior produção a curto
prazo, a empresa terá de continuar importando grandes volumes para atender à
demanda crescente de combustíveis. Isso será inevitável mesmo com o aumento da
parcela de álcool misturada com a gasolina. A necessidade de maior importação
foi uma das causas da redução do lucro no ano passado. O controle de preços foi
um complicador a mais. A presidente da empresa reafirmou a intenção de
continuar buscando o realinhamento de preços. Mas isso dependerá de como o
governo pretenda enfrentar a inflação. Se insistir na manipulação de preços, os
problemas da Petrobrás poderão agravar-se.
Com dificuldades de geração de recursos, a
companhia foi forçada a aumentar seu endividamento. Com problemas de caixa, a
diretoria decidiu pagar dividendos menores aos detentores de ações ordinárias
do que aos demais acionistas, explicou Barbassa. Disso resultará uma economia
de R$ 3 bilhões para investimentos, acrescentou.
A Petrobrás necessitará de novo aumento de
capital, segundo alguns analistas. A presidente da empresa negou essa
possibilidade neste ano. Seja como for, o passo mais importante deve ser a
consolidação de um novo estilo administrativo, moldado segundo objetivos
típicos de uma empresa de energia. A Petrobrás será beneficiada, também, se as
suas encomendas de equipamentos e serviços forem decididas com base em
critérios empresariais. Não é sua função assumir os custos de uma política
industrial. Ter sucesso como uma gigante do petróleo já é um desafio mais que
suficiente.
Fonte: O Estado de S. Paulo", edição desta quarta-feira, 6
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