Por
Nelson Motta
Se os eficientíssimos serviços de
repressão cubanos, que há anos espionam Yoani Sánchez dia e noite, tivessem
descoberto a menor prova de suborno, a "agente milionária da CIA" já estaria
presa. É sintomático que, para eles, alguém só discorde do governo se levar
dinheiro. Freud diria que estão falando deles mesmos.
Antigamente eles queriam ser mais
realistas que o rei, hoje tentam ser mais tirânicos que os tiranos, como
mostraram os protestos contra Yoani em Recife, Salvador e Feira de Santana, não
só com gritos e faixas, mas esfregando dólares falsos no seu rosto e puxando os
seus cabelos.
Mas Yoani até gostou dos protestos, como
um sopro de democracia para quem vive numa ditadura sufocante, e se divertiu
ouvindo velhas palavras de ordem "que nem em Cuba se ouvem mais". O resultado
foi uma repercussão muito maior - maciçamente a favor da blogueira - do que
teria a sua viagem ao Brasil.
No sertão baiano, uma milícia de talibãs
tropicais impediu a exibição do filme "Conexão Cuba-Honduras", porque não
queriam discutir nada, mas calar o opositor no grito. Quando conseguiu falar,
Yoani disse que vive numa sociedade "onde opinião é traição" e eles vaiaram.
Mas deveriam aplaudir, porque no Brasil
que eles sonham também será assim. A maior fragilidade da democracia é poder
ser usada livremente pelos que querem destruí-la, a começar pela liberdade de
expressão.
Yoani escreve, descreve e analisa muito
bem o cotidiano de Cuba, mas suas críticas não são violentas, debochadas ou
incendiárias. Muitas vezes são crônicas sobre as dificuldades para comprar um
ovo, o elevador quebrado há oito anos, a escassez de quase tudo, os roubos e
malandragens sistêmicos, a *Internet lenta e censurada, os privilégios da elite.
Como quase todos num país ainda na idade
do byte lascado, Yoani não tem conexão em casa. É obrigada a postar em hotéis a
preços absurdos porque as poucas lan houses são só para estrangeiros e seu blog
não pode ser acessado na ilha.
Agora Yoani quer usar o dinheiro dos seus
prêmios culturais ganhos no exterior para fundar um jornal independente. Ley de
Medios em Cuba já!
Nelson Motta é jornalista
Fonte: "Blog do Noblat"
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