Por Reinaldo
Azevedo
Há quem não tenha se dado conta da gravidade dos atos
praticados pelo deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira. Seu
relatório tem mais importância do que parece. Ele revela a vocação do PT para
construir, se não for devidamente enfrentado, um estado policial no país. Não
estou exagerando, não! Ao contrário! Estou dando à coisa o nome que ela tem. Se
as palavras, os conceitos e a instituições fazem sentido, então é isto mesmo:
os petistas, se julgarem necessário, transformam instâncias do estado em
instrumento de perseguição dos adversários.
Não é de hoje que os petistas desmoralizaram as CPIs. A
dos Correios - ou do Mensalão - já exibia figuras grotescas, que lá estavam
para sabotar as investigações, não para apurar o eventual cometimento de crimes
contra a ordem do estado. Quem não se lembra da voz maviosa e bela da agora
ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) tentando impedir, a todo
custo, que se chegasse à verdade dos fatos? Coube a dois parlamentares da base
governista - o senador e presidente daquela comissão, Delcídio Amaral (PT-MS),
e o deputado e relator, Osmar Serraglio (PMDB-PR) - zelar pela dignidade
possível da comissão. Se, por causa das chicanas, não avançaram tanto quanto
deveriam, fizeram, é fato, um trabalho digno.
Desde o início, como é sabido, a CPI do Cachoeira
prometia se transformar em mero palco de vingança. Como esquecer aquele vídeo
em que Rui Falcão, presidente do PT, afirmava: "As bancadas do PT na
Câmara e no Senado defendem uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da
farsa do mensalão".
A fala, em si, era uma sandice. Afinal, qual era a
relação entre Cachoeira e o escândalo do mensalão? Nenhuma! Mas Falcão estava
lá a anunciar que a comissão seria usada para um ajuste de contas. No radar do
partido, políticos da oposição, o procurador-geral da República, Roberto
Gurgel; ao menos um ministro do Supremo - Gilmar Mendes - e, evidentemente, a
imprensa independente.
A CPI já começou torta, convenham! No mundo inteiro,
comissões parlamentares de inquérito são instrumentos da minoria para enfrentar
eventuais desmandos perpetrados pela maioria. A razão para que seja assim é
óbvia: quem está no comando do estado dispõe dos instrumentos para conduzir
investigações policiais, aplicar punições administrativas, exonerar
malfeitores… A oposição é que tem pouca coisa. Diante de uma eventual
irregularidade impune, apela, então, ao Poder Legislativo para que a
investigue. Atenção, meus caros! Uma CPI proposta pela minoria, se instalada,
costuma ser instrumento de aperfeiçoamento da democracia. E assim é porque a
minoria não tem como esmagar a maioria. Quando, no entanto, se dá o contrário,
aí a gente começa a sentir o fedor dos fascistoides. E é precisamente esse o
caso.
Cunha pede, por exemplo, o indiciamento do jornalista
Policarpo Júnior, da VEJA e de outros. Polícia
Federal e Ministério Público investigaram as lambanças de Cachoeira. Nem um
órgão nem outro falaram em indiciamento de Policarpo porque, como deixa claro o
conjunto dos fatos, nada havia de irregular na relação do jornalista com uma de
suas fontes. Na raiz desse pedido - e o relatório de Cunha nem procura esconder
- está o rancor contra aquilo que os petistas e os blogs e sites sujos chamam
"a mídia".
Os próprios parlamentares da base do governo - os não
petistas - deram sinais claros de descontentamento com o texto, e Odair Cunha
já admite revê-lo: "É uma tentativa de constrangimento de quem faz
jornalismo investigativo. Tem caráter de vingança. A fiscalização do desempenho
das autoridades é feita por diversas entidades públicas, mas é a imprensa que
tem feito denúncias. Este relatório não tem como ser consertado",
afirmou, por exemplo, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).
Que coisa! A direção do PT emitiu há dias uma longa nota
atacando o STF e a condenação dos mensaleiros. Todos os réus tiveram amplo
direito de defesa. Para os petistas, mesmo assim, assistimos à ação de um
tribunal discricionário. Cunha não apresenta em seu relatório um único fato, um
indício miserável que seja, que deponha contra o jornalista da VEJA. E não
apresentou porque não há. Mesmo assim, o relator propõe o seu indiciamento. E
aproveita a oportunidade para dar algumas aulas sobre o que considera bom
jornalismo: parece ser aquele em que os petistas sempre se dão bem…
Cunha adota prática mensaleira
Cunha, à sua maneira, tornou-se também um "mensaleiro". Explico-me. Os quadrilheiros - como restou fartamente demonstrado pela CPI dos Correios, pelo Ministério Público e pelo STF - assaltaram os cofres públicos em benefício de um projeto de poder. O relator da CPI resolveu assaltar a institucionalidade em proveito desse mesmo projeto.
Cunha, à sua maneira, tornou-se também um "mensaleiro". Explico-me. Os quadrilheiros - como restou fartamente demonstrado pela CPI dos Correios, pelo Ministério Público e pelo STF - assaltaram os cofres públicos em benefício de um projeto de poder. O relator da CPI resolveu assaltar a institucionalidade em proveito desse mesmo projeto.
Odair Cunha, quem diria?, já fez história. E que
história!
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Um comentário:
É enervante a acusação da petralhada, dizendo que a oposição implica de graça com o relatório de Cunha. Êles não implicam com o que está ali, mas com o que NÃO está no relatório. Capenga como está, melhor não tivessem feito o tal relatório, porque a sensação que fica é de injustiça e de impunidade.
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