Por Josias de Souza
No caso do mensalão
a explicação de Lula evoluiu da traição companheira para a tentativa de golpe
da oposição e o excesso de preconceito da mídia de direita. O PT não fez nada
além do que todos os partidos sempre fizeram nesse país. No caso da máfia dos
pareceres, Lula ainda não se explicou. Natural. Não há no manual de crises do
PT nenhum complô que se encaixe no novo escândalo.
Falta à encrenca um Roberto
Jefferson. Dessa vez o delator é Cyonil Júnior, um obscuro ex-auditor do TCU.
Um sujeito que não tem razões aparentes para se vingar do governo ou de Lula. A
oposição golpista, coitada, foi a última a saber. A mídia de direita, a
penúltima. As denúncias chegaram primeiro à Polícia Federal, que as repassou ao
Ministério Público.
Golpe? Não colaria. Deposição de
ex-presidente é coisa nunca antes vista na história do universo. Conspiração
midiática? Faltaria nexo. As manchetes chegaram atrasadas no lance, correm
atrás do fato consumado. Caixa dois? Não ficaria bem. Os meios não
justificariam os fins. Como se vê, o episódio, por inusitado, exige explicações
mais criativas.
Não há dúvida de que está havendo
um complô. De quem? Talvez do acaso. É melhor acreditar nisso do que ter que
acreditar que todos os indícios colecionados pela PF correspondem ao que está
na cara. Melhor aceitar a tese de que as apurações não passam de anomalias da
lei das probabilidades conspirando contra um ex-presidente insuspeito.
O curto-circuito tem uma das suas
pontas não explicadas na sala ao lado do gabinete do presidente da República em
São Paulo. Mas há de existir uma explicação para os super-poderes de Rosemary
Noronha, a Rose. Lula estava tão obcecado pela Copa que talvez estivesse à
procura de um símbolo para o evento de 2014. Sim, só pode ser isso.
Visionário, Lula enxergou em Rose
um projeto de logomarca para tudo o que acontece no Brasil. Em vez de um
tatu-bola Fuleco, uma assessora mequetrefe com talento para grandes jogadas. Na
Era da presidenta, nada mais adequado do que uma mascota para
receber os visitantes no aeroporto. Daí as dezenas de viagens de Rose ao
exterior. Lula levava a auxiliar a tiracolo para dar-lhe cancha internacional.
Ao chegar para a Copa, os
estrangeiros se divertiriam ao saber que Rose é personagem típica do Brasil de
hoje - um país em que o Estado foi tão aparelhado que até uma servidora Fuleca
pode alçar protegidos a postos graúdos. Com o tempo, a lenda de Rose cresceria.
Os brasileiros logo invocariam Rose para ajudá-los a alcançar objetivos
inatingíveis - de amores idealizados a empregos dos sonhos.
Como qualquer mascote, Rose seria
estampada em bonés, sacolas e camisetas. Ela viraria boneca. Você daria corda
para a esquerda e Rose ditaria ordens ao Lula: "Faça isso ou aquilo." Você daria
corda para a direita e Rose telefonaria para uma agência reguladora: "O PR já
deu o Ok. O JD já liberou."
Nesse contexto, a tentativa de
transformar Rose em algo mais do que um embaraço para Lula não passaria de um
dos maiores mal-entendidos da história desse país. Uma sequência de coincidências
maliciosamente interpretadas por delegados, procuradores e jornalistas que
acabou fazendo de um político modelo um gestor descuidado, capaz de mandar
imprimir no 'Diário Oficial' os nomes de quadrilheiros.
Não, não e não. Melhor acreditar
que tudo não passa de coisa de gente que, não tendo o que fazer, fica
procurando pelo em ovo e discutindo o sexo dos anjos.
Fonte: "Blog do Josias"
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