Por Mary Zaisan
Em meados de junho de 2007, três meses e meio antes de o Brasil ser anunciado como país sede da Copa 2014, o presidente Lula assinava, com pompa e circunstância, a carta-compromisso em que o país oferecia mundos e fundos para seduzir a Fifa.
Com 11 itens genéricos - jamais detalhados ao público durante as negociações com os donos do futebol mundial -, o documento seria a base da Lei Geral da Copa, que, de acordo com o governo, estaria pronta, acabada e aprovada em 2009.
"Caso declare o Brasil sede da Copa 2014, a Fifa dará prazo até 2009 para o governo brasileiro fazer as mudanças necessárias aos ajustes na lei", explicou Alcino Rocha, à época coordenador do Grupo de Trabalho Interministerial das Ações do Governo para a Copa 2014.
Pessoalmente, Lula reforçou as garantias. Assegurou aos fifeiros que mudaria o que fosse necessário para trazer a Copa para o Brasil.
E a Copa veio.
Mas a tal proposta de lei só foi enviada ao Congresso pela presidente Dilma Rousseff em setembro de 2011, dois anos depois do que fora acertado.
Portanto, não há patriotismo algum que justifique críticas à Fifa quando esta se diz irritada com o Brasil, principalmente agora, com a indefinição quanto à venda de bebidas alcoólicas durante os jogos, algo acordado desde sempre. Muito menos tem sentido tentar transformá-la em vilã, ladra da dignidade brasileira, como alguns governistas querem fazer o país crer.
Até agora, só o Brasil falhou. Não cumpriu um único prazo. Seja para fazer a lei, seja para tocar as obras, todas, sem exceção, com atrasos de deixar em pé cabelos até de torcedores mais fanáticos.
Para se ter uma idéia do tamanho da leniência, a Rússia, sede da Copa 2018, já está finalizando a sua lei, que pretende aprovar até o final deste ano. E não só a lei. Por lá, pelo menos seis estádios já estão sendo construídos, o que forçará a Fifa a aceitar as cidades indicadas pelo governo russo. E não ao contrário, como aconteceu por aqui.
A Copa, só para lembrar, é da Fifa (que nunca foi santa). Será no Brasil pelas vantagens e mais vantagens oferecidas pelo governo. Mas não pertence ao Brasil. Pertence a uma federação que, embora muitos insistam em fingir não saber, preocupa-se mais com lucros do que com o esporte que apaixona o país verde-amarelo.
Lula sabia das regras. Muitas delas - como a venda de bebidas alcoólicas, e sabem-se lá quais outras - foram negociadas em sigilo, sem contar para ninguém. O resultado está aí. Uma lei para regular que deixa de regular o que tem de ser regulado. Que, mais uma vez, adia soluções.
Do jeito que vai, pontapé no traseiro é pouco.
* Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais 'O Globo' e 'O Estado de S. Paulo', em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa
Fonte: "Blog do Noblat"
Com 11 itens genéricos - jamais detalhados ao público durante as negociações com os donos do futebol mundial -, o documento seria a base da Lei Geral da Copa, que, de acordo com o governo, estaria pronta, acabada e aprovada em 2009.
"Caso declare o Brasil sede da Copa 2014, a Fifa dará prazo até 2009 para o governo brasileiro fazer as mudanças necessárias aos ajustes na lei", explicou Alcino Rocha, à época coordenador do Grupo de Trabalho Interministerial das Ações do Governo para a Copa 2014.
Pessoalmente, Lula reforçou as garantias. Assegurou aos fifeiros que mudaria o que fosse necessário para trazer a Copa para o Brasil.
E a Copa veio.
Mas a tal proposta de lei só foi enviada ao Congresso pela presidente Dilma Rousseff em setembro de 2011, dois anos depois do que fora acertado.
Portanto, não há patriotismo algum que justifique críticas à Fifa quando esta se diz irritada com o Brasil, principalmente agora, com a indefinição quanto à venda de bebidas alcoólicas durante os jogos, algo acordado desde sempre. Muito menos tem sentido tentar transformá-la em vilã, ladra da dignidade brasileira, como alguns governistas querem fazer o país crer.
Até agora, só o Brasil falhou. Não cumpriu um único prazo. Seja para fazer a lei, seja para tocar as obras, todas, sem exceção, com atrasos de deixar em pé cabelos até de torcedores mais fanáticos.
Para se ter uma idéia do tamanho da leniência, a Rússia, sede da Copa 2018, já está finalizando a sua lei, que pretende aprovar até o final deste ano. E não só a lei. Por lá, pelo menos seis estádios já estão sendo construídos, o que forçará a Fifa a aceitar as cidades indicadas pelo governo russo. E não ao contrário, como aconteceu por aqui.
A Copa, só para lembrar, é da Fifa (que nunca foi santa). Será no Brasil pelas vantagens e mais vantagens oferecidas pelo governo. Mas não pertence ao Brasil. Pertence a uma federação que, embora muitos insistam em fingir não saber, preocupa-se mais com lucros do que com o esporte que apaixona o país verde-amarelo.
Lula sabia das regras. Muitas delas - como a venda de bebidas alcoólicas, e sabem-se lá quais outras - foram negociadas em sigilo, sem contar para ninguém. O resultado está aí. Uma lei para regular que deixa de regular o que tem de ser regulado. Que, mais uma vez, adia soluções.
Do jeito que vai, pontapé no traseiro é pouco.
* Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais 'O Globo' e 'O Estado de S. Paulo', em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa
Fonte: "Blog do Noblat"
Um comentário:
Como sempre, com o falastrão, era só gogó, mesmo. Usou tão mal o gogó, que...Deus que me perdoe.
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