Por Dora Kramer
Seria impreciso dizer que o Senado chegou ao fundo do poço quando decidiu constituir um Conselho de Ética ao arrepio do decoro indispensável à atividade parlamentar. Isso porque o poço em que o Poder Legislativo resolveu já há algum tempo jogar sua credibilidade parece não ter fundo.
Entra ano, sai ano, entra escândalo, sai escândalo, os acontecimentos bizarros não têm fim, medida nem limites.
A presença de oito processados na Justiça entre os 15 titulares do conselho soa como uma contradição em termos. Agride à lógica da vida normal, mas está absolutamente de acordo com as regras do Congresso.
Mais: compõe perfeitamente o cenário da degradação. Todos os integrantes do conselho destinado a zelar pela ética na Casa são tão senadores quanto qualquer outro. A partir do momento em que seus pares não impuseram reparos a condutas julgadas no passado e os eleitores lhes confiaram delegação, podem participar de todas as atividades sem restrição.
A questão não é o que Renan Calheiros, que trocou a renúncia à presidência do Senado pela absolvição em processos por quebra de decoro, ou Gim Argello, investigado pela Polícia Federal e obrigado recentemente a renunciar à relatoria do Orçamento da União por suspeita de desvios na distribuição de emendas, estão fazendo no Conselho de Ética.
A pergunta correta é o que esses e outros estão fazendo no Senado e o que o Senado faz consigo ao, entre outras façanhas, reconduzir à presidência da Casa José Sarney e seu manancial de escândalos, cuja mais recente leva data de dois anos atrás.
Esse episódio do conselho ganhou repercussão, é tratado como um grande problema, mas é apenas parte do infortúnio que assola o Parlamento e, em boa medida, a sociedade que não exerce ela mesma o voto limpo enquanto não se institui de vez a obrigatoriedade legal da ficha limpa: a indiferença à ética, ao conjunto de valores que disciplinam o comportamento humano como atributo essencial à vida civilizada. Pública ou privada.
Embora a completa ausência de pudor, ainda que em grau apenas suficiente para a manutenção das aparências em colegiado presumidamente ético, fira os espíritos mais sensíveis, não se configura uma novidade em face da revogação geral de quaisquer valores balizadores de condutas.
Em ambiente onde um senador pode roubar um gravador - como fez Roberto Requião ao surrupiar o equipamento pertencente à rádio Bandeirantes e apagar do cartão de memória uma entrevista que não lhe interessava ver divulgada - e ainda assim ser defendido pelo presidente da Casa, não há poço que seja fundo o bastante para delimitar a fronteira entre a civilidade de fachada e a selvageria total.
Fonte: Jornal "O Estado de S. Paulo"
Entra ano, sai ano, entra escândalo, sai escândalo, os acontecimentos bizarros não têm fim, medida nem limites.
A presença de oito processados na Justiça entre os 15 titulares do conselho soa como uma contradição em termos. Agride à lógica da vida normal, mas está absolutamente de acordo com as regras do Congresso.
Mais: compõe perfeitamente o cenário da degradação. Todos os integrantes do conselho destinado a zelar pela ética na Casa são tão senadores quanto qualquer outro. A partir do momento em que seus pares não impuseram reparos a condutas julgadas no passado e os eleitores lhes confiaram delegação, podem participar de todas as atividades sem restrição.
A questão não é o que Renan Calheiros, que trocou a renúncia à presidência do Senado pela absolvição em processos por quebra de decoro, ou Gim Argello, investigado pela Polícia Federal e obrigado recentemente a renunciar à relatoria do Orçamento da União por suspeita de desvios na distribuição de emendas, estão fazendo no Conselho de Ética.
A pergunta correta é o que esses e outros estão fazendo no Senado e o que o Senado faz consigo ao, entre outras façanhas, reconduzir à presidência da Casa José Sarney e seu manancial de escândalos, cuja mais recente leva data de dois anos atrás.
Esse episódio do conselho ganhou repercussão, é tratado como um grande problema, mas é apenas parte do infortúnio que assola o Parlamento e, em boa medida, a sociedade que não exerce ela mesma o voto limpo enquanto não se institui de vez a obrigatoriedade legal da ficha limpa: a indiferença à ética, ao conjunto de valores que disciplinam o comportamento humano como atributo essencial à vida civilizada. Pública ou privada.
Embora a completa ausência de pudor, ainda que em grau apenas suficiente para a manutenção das aparências em colegiado presumidamente ético, fira os espíritos mais sensíveis, não se configura uma novidade em face da revogação geral de quaisquer valores balizadores de condutas.
Em ambiente onde um senador pode roubar um gravador - como fez Roberto Requião ao surrupiar o equipamento pertencente à rádio Bandeirantes e apagar do cartão de memória uma entrevista que não lhe interessava ver divulgada - e ainda assim ser defendido pelo presidente da Casa, não há poço que seja fundo o bastante para delimitar a fronteira entre a civilidade de fachada e a selvageria total.
Fonte: Jornal "O Estado de S. Paulo"
3 comentários:
É o fim mesmo! Nunca pensei que aessa turma atual de senadores, com raríssimas excessões, fôsse tão descarada! Eu, se tivesse poder prá tanto, acabaria com o senado e daria um tempo prá que se fizesse uma lavagem cerebral nêsse povo e, com uma nova eleição, elegeriamos um novo senado, sem nenhuma dessas figuras viciadas em poder tudo, acima de tudo e de todos.
As vezes imaginamos ter visto algo e, depois, constatamos que não era nada daquilo que imaginávamos ter visto: concluimos que foi uma "ilusão de ótica".
O PT, lá no início, era a ética em sua essência, parecendo que eles a inventaram. Depois, com o mensalão, dólares na cueca, aloprados, Bancoop, etc.chegamos a conclusão que tudo não passou de "ilusão de ética".
Honestidade é outra palavra que, lá no início, os pestistas pareciam ter inventado; você perguntava por que o cara era pestista e eles respondiam: porque o PT é um partido honesto;e muitas vezes o cara que dizia isto, nosso conhecido, não passava de um grande safado; ora, todos os partidos são honestos; neles podem existir pessoas honestas e desonestas; aí eu lembro da história aquela da mulher do César, que, acusada de o estar traindo, e tendo havido o julgamento no Senado romano do suposto "Ricardão" (Clódio), sendo o mesmo absolvido por falta de provas, pois não ficou provada a traição, mesmo assim César separou-se de Pompéia; perguntado por que a separação, uma vez que nada tinha sido provado, ele teria dito a famosa frase: não basta a mulher de César ser honesta; tem que parecer honesta.
Já eme relação aos pestistas a coisa é ao contrário: não basta ser petista para parecer honesto; tem que ser honesto de verdade.
Sérgio, sabe que Marina Silva, certa vez, mencionou esta passagem, dizendo que "...não basta o político ser honesto, TEM que parecer ser, também".
E o pior de tudo, é quando alguns de oposição é que se esquecem de tudo o que diziam crer, passando a terem um pé em cada lado da política, sem quererem perder nenhuma "oportunidade"...a êsses eu não perdôo e jamais terão meu voto nem prá síndico de condomínio. Os de esquerda, nunca me convenceram.
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