Por Lúcia Oliveira
Das lembranças de minha infância feliz, uma que me vem com a maior nitidez é a de quando eu vi, pela primeira vez, uma geladeira.
Foi na casa de minha querida tia Judite, irmã de papai. Sua casa todinha era um festa para mim. Iluminada, parecia-me um outro mundo, um verdadeiro milagre - não tínhamos luz elétrica onde vivíamos. Muita gente: tia Calu, tio Cassiano - ele era caminhoneiro, uma alegria só -, todos os meus primos. Localizada na praça Fróes da Motta, era enorme a casa: um corredor bem comprido, cheio de portas que davam para os quartos, salas grandes, copa, cozinha, um sanitário com uma banheira maravilhosa, objeto de meus desejos, com torneiras lindas, brilhantes, de onde saía ora água quente, ora água fria. E havia bastantes cômodos ainda, um grande quintal repleto de plantas e uma garagem gigantesca que dava para a rua de Aurora. Imensa, tudo lindo, admirável mesmo. A casa ficava ainda mais cheia com a nossa chegada...
Naquela época, morávamos em São bento das Lajes, onde nasci, depois em Angico, distritos de Mairi. Vínhamos, todos os anos, passar as férias aqui em Feira e ficávamos na acolhedora casa de minha tia, paciente e hospitaleira. Eu era bem pequenina e, daquela vez, quando chegamos, havia uma grande novidade: a geladeira.
O que me recordo é um encantamento: aquele aparelho bonito, enorme, todo branco, com uma porta gorda que, quando se abria, da parte de cima, que depois eu soube ser o congelador, saía uma nuvem densa de fumaça branquinha, branquinha, e de lá tiravam uma vasilhas de alumínio (cubas de gelo) com uma pequena alavanca que, quando se puxava, saltavam um pedacinhos duros de água, parecendo cristais, todos iguais, e eu fiquei boquiaberta, completamente maravilhada... Aqueles pedacinhos de água dura iam derretendo aos poucos... Eu não acreditava no que via... ENCANTAMENTO TOTAL...
Na minha inocência, naqueles dias que passamos na casa de minha tia, eu só vivia para ver abrirem aquela porta daquele aparelho mágico e deliciar-me com tudo de novo: a fumaça branca como uma nuvem caída do céu, e os pedacinhos de gelo pulando... pulando... e, magicamente, aos poucos, derretendo... derretendo... como as doces recordações que me vêm sempre aos pedaços, vagamente, e que me são tão caras,
* Maria Lúcia Oliveira Fonseca é professora aposentada
Foi na casa de minha querida tia Judite, irmã de papai. Sua casa todinha era um festa para mim. Iluminada, parecia-me um outro mundo, um verdadeiro milagre - não tínhamos luz elétrica onde vivíamos. Muita gente: tia Calu, tio Cassiano - ele era caminhoneiro, uma alegria só -, todos os meus primos. Localizada na praça Fróes da Motta, era enorme a casa: um corredor bem comprido, cheio de portas que davam para os quartos, salas grandes, copa, cozinha, um sanitário com uma banheira maravilhosa, objeto de meus desejos, com torneiras lindas, brilhantes, de onde saía ora água quente, ora água fria. E havia bastantes cômodos ainda, um grande quintal repleto de plantas e uma garagem gigantesca que dava para a rua de Aurora. Imensa, tudo lindo, admirável mesmo. A casa ficava ainda mais cheia com a nossa chegada...
Naquela época, morávamos em São bento das Lajes, onde nasci, depois em Angico, distritos de Mairi. Vínhamos, todos os anos, passar as férias aqui em Feira e ficávamos na acolhedora casa de minha tia, paciente e hospitaleira. Eu era bem pequenina e, daquela vez, quando chegamos, havia uma grande novidade: a geladeira.
O que me recordo é um encantamento: aquele aparelho bonito, enorme, todo branco, com uma porta gorda que, quando se abria, da parte de cima, que depois eu soube ser o congelador, saía uma nuvem densa de fumaça branquinha, branquinha, e de lá tiravam uma vasilhas de alumínio (cubas de gelo) com uma pequena alavanca que, quando se puxava, saltavam um pedacinhos duros de água, parecendo cristais, todos iguais, e eu fiquei boquiaberta, completamente maravilhada... Aqueles pedacinhos de água dura iam derretendo aos poucos... Eu não acreditava no que via... ENCANTAMENTO TOTAL...
Na minha inocência, naqueles dias que passamos na casa de minha tia, eu só vivia para ver abrirem aquela porta daquele aparelho mágico e deliciar-me com tudo de novo: a fumaça branca como uma nuvem caída do céu, e os pedacinhos de gelo pulando... pulando... e, magicamente, aos poucos, derretendo... derretendo... como as doces recordações que me vêm sempre aos pedaços, vagamente, e que me são tão caras,
* Maria Lúcia Oliveira Fonseca é professora aposentada
** Esta crônica foi publicada originalmente no jornal "NoiteDia", em 2002
Um comentário:
Thaís, também acho, mas sabe que cheguei a ficar triste de verdade quando li esta crônica, por me fazer lembrar de tantas situações assim, na minha infância, me dando uma saudade gigantesca daquela que sempre estêve presente nesses meus momentos, que era a minha mãe. Agora, a geladeira a que Lúcia Oliveira se refere, deve ser AQUELA com cara de cheinha, arestas arredondadas, tipo fôfa, né? Hoje, faz sucesso a cozinha que tem uma dessas.
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