De Millôr Fernandes
- Dá licença?
- Licença só na Prefeitura.
- Como é que é?
- Sendo.
- Mas como é que vai?
- Aquela coisa.
- E a família?
- Na mesma.
- Mas, fala, o que é que há?
- Está para haver o diabo e você está no meio.
- E quando é que você revela de onde veio o dinheiro?
- No Dia de São Nunca a qualquer hora em ponto.
- Ah, é? E agora?
- Suja na mão e bota fora.
- O que é que você quer dizer com isso?
- Chouriço.
- Mostra, eu quero ver.
- Não tem vista nem revista. Nem nariz de lagartixa.
- Mas que time é o teu?
- Andaraí no seu gramado.
- Jacaré no seco anda?
- Cachorro que late n’água late enterra.
- Jura?
- Juro como a cabeça da coisa é dura.
- Mas eu pensava.
- Pensando morreu um burro com cangalha e tudo.
- Posso comer?
- O que não mata, engorda.
- A coisa está feia.
- Feia só?
- Feia e meia.
- É mesmo.
- Ontem eu vi ela.
- Viela é um beco sem saída.
- Que horas são?
- As mesmas de ontem a essas horas.
- Então, vamo-nos.
- Vamos nus porém vestidos.
- Veremos.
- Isso dizia o cego e nunca viu nada.
- Então, até o dia 29!
- Vá com Deus, a paz e o livramento. Se achar um buraco cai dentro.
Extraído da revista “Veja”, de 18 de outubro de 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário