"Cine-Teatro Santana, que me faz sonhar,
outrora com bandidos roubando a minha coleção de selos
e com certa lourinha mordendo-me a ponta do nariz!"
Há
mais de 100 anos, em 24 de maio de 1919, a inauguração do
Cine-Theatro Sant’Anna, a partir da fusão do Cinema da Vitória e
o Teatro Sant'Anna, que existiam no século XIX. O espaço passou a
ser utilizando tanto para as exibições de filmes, quanto para os
espetáculos teatrais, musicais e literários. Era situado na
antiga rua Direita, atual rua Conselheiro Franco, em área
pertencente à Santa Casa de Misericórdia.
No início dos anos 50, a sala não mais existia. Então, quem passava em frente do antigo prédio, conhecia a fachada preservada. Depois, foi derrubado para servir de estacionamento. Nos últimos tempos de funcionamento, Eliziário Santana era o proprietário do Cinema Santana.
O historiador Antonio Moreira Ferreira, Antonio do Lajedinho, contava sobre o Cinema:
"(...) Tendo na frente uma porta larga que servia de entrada para a sala de espera, mais duas portas de frente, para saída, e duas bilheterias entre as portas. Ainda na frente existiam três janelas na parte alta, no mezanino, que, com advento do cinema, foram fechadas as laterais e transformadas em seteiras. A central onde foi instalada máquina de projeção. (...) A parte interna era mobiliada com cadeiras, tendo uma divisão na parte próxima do palco."
Os espetáculos musicais ficavam a cargo das filarmônicas locais - Euterpe Feirense e 25 de Março e Vitória - que faziam sarais, além cantores de fora que animavam a noite das elites feirenses com diversos ritmos. A poetisa e musicista Georgina Erismann, criadora do Hino à Feira, por várias vezes se apresentou no espaço. Em 1919, quando da passagem do Circo Belga pela cidade, foi realizada uma exibição da trupe belga Leb Alberts e "seus cães sábios".
Nas apresentações teatrais, destaque para o Grupo Dramático Taborda, o Grêmio Salles Barbosa, o Grêmio Lítero-Dramático Rio Branco e as apresentações de cunho religioso organizados por grupos como o núcleo das Noelistas.
Além de um espaço de cultura e lazer, o Cine-Theatro Sant’Anna foi palco de grandes eventos políticos, como a conferência de Rui Barbosa, quando de sua visita a Feira de Santana, em 25 de dezembro de 1919.
Eurico Alves Boaventura no poema "Cinema" (trecho no início deste texto), destaca que o cinema era um espaço para se sonhar.
Antonio do Lajedinho diz mais que a plateia se entusiasmava com as exibições dos filmes: "a rapaziada fazia questão de ocupar as gerais, porque ali todos aplaudiam batendo o acento da cadeira e gritando a cada castigo que o mocinho aplicava no bandido."
Ao piano, Anita Novais executava ritmos compatíveis com as cenas exibidas. As de amor eram acompanhadas com valsas. As de pancadaria, com fox-trot.
Durante 30 anos, até o final da década de 40, o Cinema Santana funcionou sem concorrentes, o que somente ocorreu no início dos anos 20, com o Cine-Theatro Elite.


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