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quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Imprensa corporativa celebra mães que lamentam publicamente a existência dos seus filhos


Os meios de comunicação social corporativos descobriram agora um novo filão, na sua mina de horrores: mulheres que lamentam publicamente a existência dos seus filhos.
Os terríveis efeitos colaterais que a exposição mediática das falências parentais terá certamente sobre os filhos, é irrelevante, porque este género de "reportagem" só tem um objectivo: cumprir com a agenda neo-liberal que quer esterilizar o Ocidente, promovendo o aborto, a destruição do conceito de família, e a obliteração do papel social das mulheres, ao mesmo tempo que, insidiosamente, procura colar o conceito de maternidade à ideia de escravidão.
Esta tendência nojenta da imprensa contemporânea, é além de tudo o mais, facilitista e preguiçosa. Tudo o que o "jornalista" precisa para a sua "reportagem" é encontrar uma mãe pobre, solitária, triste e stressada, e levá-la a dizer que gostaria que a criança inconveniente não existisse - ou, pelo menos, que a sua vida seria muito mais fácil sem ela.
É uma clara manobra da parte dos media para convencer os leitores: Isto - estas coisas, estas crianças desarrumadas e exigentes e barulhentas e onerosas - é o que acontece quando não se deixa as mulheres abortarem! Nenhuma das partes envolvidas parece importar-se com o facto dessas crianças virem a ser, um dia, adolescentes com acesso à Internet, capazes de encontrar todas as horríveis palavras que os seus pais confessaram publicamente.
Isto está para além de ser tenebroso.
Na semana passada, o The Guardian publicou um texto de Amanda Montei, que comparava os sacrifícios da maternidade a um incidente no liceu, quando um rapaz por quem tinha uma paixoneta aproveitou uma oportunidade para dormir com ela, numa conspiração "inventada pelos amigos" e depois "nunca mais falou lhe falou".
Queixando-se da dependência da filha pequena e utilizando uma linguagem grosseiramente sexual para descrever as necessidades físicas e as curiosidades naturais da criança em relação à mãe, Montei emitiu a sua abjecta conclusão:
"Cheguei à conclusão de que os princípios básicos da cultura da violação estão presentes nas nossas expectativas culturais em relação às mães".
Montei não usa explicitamente a palavra "aborto" na passagem, mas prega a mensagem fundamental da qual depende o ativismo pela interrupção da gravidez: que não é justo para as mães que os filhos lhes façam exigências, especialmente as inconvenientes. Na última frase, ela lamenta "o que eu não sabia antes de consentir" ser mãe. E o que é que ela teria feito se tivesse "sabido"? Teria abortado, claro. Teria morto o filho que tem agora.
Um mês antes, o The Washington Post publicou uma reportagem de quase 6.000 palavras sobre Brooke e Billy High e os seus filhos gêmeos, com o título
"Uma proibição do aborto tornou-os pais adolescentes. Esta é a vida dois anos depois".
O texto foi publicado depois de um artigo do Post sobre a mesma família, que documentava exaustivamente a tentativa de Brooke de fazer um aborto, sob a manchete
"Esta adolescente do Texas queria fazer um aborto. Agora tem gêmeos".
Na sua vida despreocupada antes de ser interrompida pela existência das raparigas, Brooke estava "a preparar-se para a escola imobiliária, desfrutando de longos dias na praia com o seu novo namorado", explicou o Post. Quando ela engravidou, Billy "queria que ela fizesse um aborto". Mas como "ela não podia mais abortar no Texas", não teve escolha a não ser ficar com as filhas, que nasceram "seis meses depois".
"Longos dias na praia" é óptimo. Ter filhos é terrível. Porque, aparentemente, as pessoas que têm filhos não podem "desfrutar" dos prazeres da orla marítima.
As meninas merecem mais do que ter o mundo inteiro a ler que a mãe se perguntou a um jornalista: "Se eu tivesse feito o aborto…" Elas merecem mais do que sentirem-se culpadas pela sua própria existência, quando um repórter de Washington lhes diz que, se não estivessem vivas, o pai poderia estar a "patinar todos os dias. A divertir-se à noite. Sem preocupações". Elas não merecem que as discussões dos pais sobre o divórcio sejam expostas publicamente num jornal nacional. Mas os editores do Post não se importam, porque os momentos em que os pais dos gémeos consideram os filhos como uma inconveniência são úteis para a narrativa preferida do jornal. (Para crédito de Brooke e Billy, eles estão a tentar fazer com que as coisas funcionem, sem a ajuda do The Washington Post).
Há muitos outros exemplos, e muitas das manchetes seguem um padrão semelhante. Num artigo da New York Times Magazine, lemos:
"Ela não estava preparada para ter filhos. Um juiz não a deixou fazer um aborto".
O autor escreve sobre uma mulher chamada Giselle, mãe de gémeos, que tentou fazer um aborto quando era menor, sem o consentimento dos pais, no Texas. A história registra a sua lista de argumentos a favor da decisão:
"Contras: Matar algo que está a crescer dentro de mim. Culpa. Acusações constantes dos outros. Prós: Continuar a vida sem ser empurrada para trás. Liberdade".
Portanto: ter filhos "empurra para trás". Se pensarmos bem, a génese de um ser humano traduz exactamente o oposto: empurra para a frente. Empurra para a frente a espécie humana, empurra para a frente a sociedade, empurra para a frente o percurso existencial dos pais, empurra para a frente o significado da vida, empurra para a frente o sentido de responsabilidade; e como não há liberdade sem responsabilidade, a "liberdade" colocada nos "prós" do aborto é um equívoco grande. E grave.
Assim que o tribunal negou o aborto a Giselle e ela teve os bebés, as suas frustrações em criá-los são descritas em palavras assombrosas de ler por um estranho, quanto mais pelas crianças indesejadas.
"Por vezes, era assombrada por imagens em que os sufocava com uma almofada ou os atirava para o outro lado da sala".
O artigo termina com Giselle indecisa entre manter a custódia dos filhos ou deixar que os pais de uma amiga os criem.
Os meios de comunicação social exploram as histórias destas famílias para fazer avançar a sugestão de que o valor de uma criança está exclusivamente ligado ao quanto os pais a querem, e que a sua existência não proporciona felicidade suficiente para compensar os sacrifícios inerentes. Esperam, ou mesmo incitam, os pais em dificuldades a subscreverem o que a actriz Lena Dunham disse um dia, para sua vergonha:
"Ainda não fiz um aborto, mas gostava de o ter feito".
Algumas mulheres eliminam o intermediário e escrevem elas próprias os artigos. Em 2021, Merritt Tierce escreveu na New York Times Magazine sobre "O aborto que não fiz":
"Eu não abortei a gravidez que não planejei, mas tive que abortar a vida que imaginei para mim".
Porque sem filhos, a vida correrá exactamente como a imaginámos. Sim, na Terra do Nunca.
Tierce, que desde então se tornou uma activista pró-aborto, admitiu que tem medo do efeito no seu filho "desta ideia de que trabalhar para o acesso ao aborto é tão importante para mim porque é exactamente o que eu não tinha quando engravidei dele". Mas esse receio não a impede de contar publicamente, com grande pormenor, o quanto a existência da criança lhe perturbou a vida.
Ela também admite ter feito dois abortos depois do nascimento do seu filho e diz que não se arrepende deles, porque:
"Tenho relações fortes e ternas com o meu filho agora, em grande parte porque não tive esses outros filhos".
Consegue imaginar ouvir da sua mãe: 'A minha relação contigo é melhor porque matei os teus irmãos?'
Lauren Slater, escreveu em 2003 na revista Elle sobre o seu processo de decisão de abortar o segundo filho, em grande parte porque o primeiro lhe tinha custado tanto a nível mental, práctico e financeiro.
"Era difícil sair de casa com um. Até ir ao supermercado era como fazer as malas para uma viagem de campismo. Dois carros de bebé? Duas fraldas de tamanhos diferentes? A 12,44 dólares a caixa?"
Imaginem ler que a vossa mãe matou o vosso irmão porque vocês iam usar demasiadas fraldas! Mas a coisa piora: como que para justificar a sua decisão, Slater incluiu a exclamação da sua filha de um ano de idade, na altura, de que não queria um irmão, mas sim "uma raposa".
Não surpreenderá ninguém saber que Slater escreveu mais tarde, em pormenor, sobre como, enquanto mãe casada, estava a ter um caso lésbico com a explicadora de ciências da sua filha.
Em Portugal, a tendência já pegou e a Visão (quem mais?) publicou em agosto um artigo sobre um livro de Orna Donath dedicado ao assunto das "mães arrependidas":



Para além do carácter repugnante do título, o lead do texto é de um cinismo arrepiante:

"O que se segue é duro de ler e pode ferir a suscetibilidade de alguns leitores. Extraídos do livro "Mães arrependidas", da socióloga Orna Donath, seguem-se vários testemunhos na primeira pessoa que mostram a realidade deste assunto tabu: mães arrependidas… de serem mãe."

É verdade que, por vezes, são as mulheres que vão a correr para os meios de comunicação social, implorando para expor as suas queixas familiares em busca de influência ou simpatia. Com a mesma frequência, as publicações orientadas para a agenda neo-liberal encontram uma família em dificuldades e transformam os seus desafios numa narrativa pré-estabelecida, sem qualquer consideração pela privacidade ou dignidade da família. Ainda assim, não deveria acender-se uma luz de aviso maternal quando um repórter do New York Times bate à nossa porta e pede para vender os nossos problemas de maternidade aos seus leitores?

Tudo o que podemos esperar é que as crianças que são objecto de queixas nestas histórias nunca se sintam indesejadas e nunca leiam estes depoimentos horríveis. Tudo o que podemos esperar é que estas crianças, quando crescerem, recolham das dificuldades dos seus pais ensinamentos sobre o valor do sacrifício e do amor incondicional.

Na verdade, a generalidade dos pais que se viram confrontados com uma gravidez não desejada têm histórias de gratidão pelo "incómodo" que se transformou na sua maior bênção. Mas essas histórias, claro, não são contadas pela imprensa corporativa. São excessivamente edificantes para servirem à agenda de cinzas que usam como combustível.

Fonte:  https://contra-cultura.com/

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