Por Olneyzinho São Paulo
Tem tempo que
não escrevo nada. Eu sei. A última vez que escrevi foi quando vi urubus,
garças, carcarás e outros pássaros voando juntos em "meu espaço aéreo". É… Eu
tenho um espaço aéreo imaginário. É o céu que cobre minha roça. Mas enfim… Há
muito não escrevia nada, talvez mais por incapacidade de saber como dizer do
que ter o que dizer. Mas tem tanta coisa no peito, tanto choro calado tanta
coisa que a gente quer saber porque acontece ainda. E eu aqui na minha roça
pensando que sou tranquilo, pensando que sou feliz, inventando um jeito de
viver, aliás, tentando inventar um jeito de viver. O país está uma merda, as
elites burras (desculpem o pleonasmo) novamente a tona, dando o seu tom e não é
Jobim. E eu quieto esquecendo que nada disso é real. E é por isso que não
escrevo, mas me chega a notícia da morte de Nelson. Certa vez assisti uma
entrevista onde Nelson, pedindo outra cachaça em um bar dizia: "Cultura não tem ministro" e eu gostei
disso. Eu sou muito novo para ser amigo do Nelson. Nelson era amigo de
meu pai, padrinho de meu irmão, me dirigiu em "A Missa do Galo" nos anos 1980,
e nos encontramos muitas vezes em muitos lugares. Em Paris, com Marcinha, como
lembra Laurence, a mãe de meu filho Joris, em Paris na casa de Marcinha, quando
não mais estava com Laurence, em Brasília em um festival, em Ouro Preto em
outro festival, lá em NIterói, quando eu era pequeno e dormia lá, aliás, dormia
nada, brincávamos Marcinha e eu de se vestir com as roupas dos adultos e
Nelsinho fazia misto quente com coca-cola, Lá em Niterói, quando eu era grande
e Nelsinho quebrou as clavículas numa queda de moto-caminhão. Sim. as motos com
os pneus furados estavam junto com ele e um amigo sobre o caminhão que
virou num acidente. Nelsinho saiu bem arranhado. Estava em Angers, aliás, na
minha roça a 20 km de Angers na França quando liguei pro Nelson (ele estava
dirigindo) chorando a morte de Laurita, estive com o Nelson em St Sulpice,
quando Laurita estava de cama, muito gripada no inverno parisiense, Dei um
beijo na testa dela e lembrei que eu era menino, lembrei como era bom saber que
essas pessoas existiam. Lembro agora como era bom quando essas pessoas
existiam. lembro agora os pedaços de Olney, meu pai, que se vão nessas perdas.
Lembro agora que estou chorando e não dá pra reler o que escrevo, lembro que
não quero mais escrever nada, lembro que não quero mais me perder onde não devo
andar, por não saber como caminhar por esses rastros de alma e saudade. Lembro
que em algum lugar no passado botas esmagaram o meu universo feliz. Botas e
capacetes passeavam pelas ruas desmanchando as noites onde Maria Augusta tocava
piano no apartamento da Cristovão Barcelos onde bebiam, conversavam, riam e
inventavam o mundo, Laurita, Elke (sempre) Maravilha, Alex Viany, Orlando e
Conceiça de Frutas (Conceição Sena), Cosme Alves Neto, Glauber, Tuninha
Espinheira, Nelson, Olney e tantos outros, enquanto as botas, que marcham
novamente sobre nossos sonhos, desmanchavam, em Lilas, como Aurelina que não
entendia de leis, uma ideia de bandeira nacional.
Nelson. Obrigado por um bocado de coisas, mas
sobretudo por me fazer chorar esse meu choro calado. Esse meu choro que
me afogava sem saber sair. Companheiro, a gente se encontra por
aqui, tomando uma cachaça olhando para nesse meu espaço aéreo imaginário onde vivem juntos urubus, garças e pássaros, céu enriquecido com mais uma estrela.
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