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No Domingo de Páscoa

No Domingo de Páscoa

domingo, 22 de abril de 2018

O céu enriquecido com mais uma estrela



Por Olneyzinho São Paulo
Tem tempo que não escrevo nada. Eu sei. A última vez que escrevi foi quando vi urubus, garças, carcarás e outros pássaros voando juntos em "meu espaço aéreo". É… Eu tenho um espaço aéreo imaginário. É o céu que cobre minha roça. Mas enfim… Há muito não escrevia nada, talvez mais por incapacidade de saber como dizer do que ter o que dizer. Mas tem tanta coisa no peito, tanto choro calado tanta coisa que a gente quer saber porque acontece ainda. E eu aqui na minha roça pensando que sou tranquilo, pensando que sou feliz, inventando um jeito de viver, aliás, tentando inventar um jeito de viver. O país está uma merda, as elites burras (desculpem o pleonasmo) novamente a tona, dando o seu tom e não é Jobim. E eu quieto esquecendo que nada disso é real. E é por isso que não escrevo, mas me chega a notícia da morte de Nelson. Certa vez assisti uma entrevista onde Nelson, pedindo outra cachaça em um bar dizia: "Cultura não tem ministro" e eu gostei disso. Eu sou muito novo para ser amigo do Nelson. Nelson era amigo de meu pai, padrinho de meu irmão, me dirigiu em "A Missa do Galo" nos anos 1980, e nos encontramos muitas vezes em muitos lugares. Em Paris, com Marcinha, como lembra Laurence, a mãe de meu filho Joris, em Paris na casa de Marcinha, quando não mais estava com Laurence, em Brasília em um festival, em Ouro Preto em outro festival, lá em NIterói, quando eu era pequeno e dormia lá, aliás, dormia nada, brincávamos Marcinha e eu de se vestir com as roupas dos adultos e Nelsinho fazia misto quente com coca-cola, Lá em Niterói, quando eu era grande e Nelsinho quebrou as clavículas numa queda de moto-caminhão. Sim. as motos com os pneus furados estavam junto com ele e um amigo  sobre o caminhão que virou num acidente. Nelsinho saiu bem arranhado. Estava em Angers, aliás, na minha roça a 20 km de Angers na França quando liguei pro Nelson (ele estava dirigindo) chorando a morte de Laurita, estive com o Nelson em St Sulpice, quando Laurita estava de cama, muito gripada no inverno parisiense, Dei um beijo na testa dela e lembrei que eu era menino, lembrei como era bom saber que essas pessoas existiam. Lembro agora como era bom quando essas pessoas existiam. lembro agora os pedaços de Olney, meu pai, que se vão nessas perdas. Lembro agora que estou chorando e não dá pra reler o que escrevo, lembro que não quero mais escrever nada, lembro que não quero mais me perder onde não devo andar, por não saber como caminhar por esses rastros de alma e saudade. Lembro que em algum lugar no passado botas esmagaram o meu universo feliz. Botas e capacetes passeavam pelas ruas desmanchando as noites onde Maria Augusta tocava piano no apartamento da Cristovão Barcelos onde bebiam, conversavam, riam e inventavam o mundo, Laurita, Elke (sempre) Maravilha, Alex Viany, Orlando e Conceiça de Frutas (Conceição Sena), Cosme Alves Neto, Glauber, Tuninha Espinheira, Nelson, Olney e tantos outros, enquanto as botas, que marcham novamente sobre nossos sonhos, desmanchavam, em Lilas, como Aurelina que não entendia de leis, uma ideia de bandeira nacional.
Nelson. Obrigado por um bocado de coisas, mas sobretudo por  me fazer chorar esse meu choro calado. Esse meu choro que me afogava sem saber sair. Companheiro, a gente se encontra por aqui, tomando uma cachaça olhando para nesse meu espaço aéreo imaginário onde vivem juntos urubus, garças e pássaros, céu enriquecido com mais uma estrela. 

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