Por Marli Gonçalves
Estou querendo esticar a palavra.
Dar a ela o sentido que está aqui perto de nós, já. No Brasil não tem
terremoto, não tem furacão, mas não se pode mais dizer que no Brasil não tem
terrorismo. Deus, ele está diante de nós!
Ou você vai dizer que não?
Imaginou a mãe, na janela, aguardando o filho de 15 anos voltar da escola,
vê-lo apontar ali na esquina, já pensando no almoço que vai dar a ele e
imediatamente observar que agora o menino corre? Em seguida ver o filho
cambaleando e caindo morto por uma bala que atravessou seu corpo trocada por um
reles celular? Isso não é terror, não? Sabe o nome da rua onde isso aconteceu?
Rua Caminho da Educação. São Bernardo do Campo, SP.
Uma van escolar parada à força, duas
crianças, bebês ainda, levadas por bandidos, e abandonadas mais de uma hora
depois numa quebrada, como se pudessem ficar ali no porta-luvas do carro? Isso
não é terror, não? E o caminhoneiro mantido refém com uma arma na cabeça, salvo
apenas pelas palavras convincentes de uma mãe ao seu filho perdido, e que
aconselhou-o a se entregar e liberar o motorista? O que terá ela dito?
Oferecido um casaquinho?
E que dizer das crianças violentadas
para toda a sua existência, e que todos os dias sofrem, sofrem muito?
Alguém disse que nenhuma definição
pode abarcar todas as variedades de terrorismo que existiram ao longo da
História. Concordo. Que existem, diria. Que se multiplicam. Moldadas em várias
formas, se disseminam de forma assustadora, inclusive na incompetência na
condução de nações. Uma variedade muito além do que se poderia imaginar.Já
parou um pouco para pensar mais sério sobre as crescentes e fervorosas
pendengas internacionais, largando um pouco de lado essa nossa mesquinha
política que só gera atos e fatos vergonhosos e pobres de espírito? Está
esquisito, perigoso: vocês bem sabem que em briga de cachorros
grandes a gente sempre sai mordido. Isso é terrorismo. Topetudo loiro briga com
gordinho de olhinhos puxados. Pena que isso não seja uma colorida história em
quadrinhos de nossa tenra infância. Riquinho, Bolinha, Brotoeja, Luluzinha.
Terrorismo é tocar o terror. Termo
usado para designar o uso de violência, seja ela física ou psicológica, em um
grupo de vítimas, mas com objetivo de afetar toda uma população e espalhar os
sentimentos de pavor, medo e terror. Se não é exatamente o que estamos vivendo,
me digam, terrorismo é o quê?
Olha o bombardeio. Andar pelas ruas
vendo corpos caídos ou moradias de papelão que se multiplicam assustadoramente
nas cidades. Reparar no descuido com que são cuidados os bens públicos. A
violência no trânsito. O medo em cada passo. Notícias de repetição do mesmo
todos os dias. As hordas de refugiados chegando, expulsos de suas terras, vindo
buscar - e logo aqui - a esperança!
Em geral o terrorismo tradicional em
suas formas pretende derrubar governos. No nosso caso são os governos que estão
favorecendo atos terroristas.
Marli Gonçalves é jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário