Por Percival
Puggina
Com a crise multiforme se expandindo em todas as dimensões da vida
política, econômica e social, com os escândalos vindo a lume como saem os
lenços, amarradinhos um ao outro, da cartola do mágico, com a crise pedindo
passagem a bordoadas e deixando pelo caminho as vítimas da inflação, da
recessão e do desemprego, aí, meu caro leitor, é muito fácil criticar o governo
petista.
Dureza foi apontar os males do petismo quando, antes de assumir poder
político real, ele era o megafone de todas as reivindicações, perante os
portões das fábricas e dos palácios. Difícil era confrontá-lo quando, como
grande inquisidor das condutas de seus adversários, orientava os mais candentes
sermões em favor - lembram? - da moralidade e da austeridade. O petismo, então,
se vestia de justiça, solidariedade, direitos humanos, superação dos desníveis
sociais; e atraía multidões. Os ouvidos da CNBB, por exemplo, se encantaram
para sempre. A partir de então, vá o partido para onde for, a entidade marcha
ao seu lado. Até frei Betto largou o PT de mão. Mas a CNBB, não.
À luz da história, analisando partidos políticos com condutas
semelhantes, era fácil perceber para onde estávamos sendo conduzidos. Ante o
que acontecia no Brasil, não. Aqui, tendo em vista a fragilidade das nossas
instituições e a pouca credibilidade dos partidos políticos já afeitos ao
exercício do poder, era mais complicado perceber que o petismo significava o
canto das sereias, atraindo a nação para os rochedos e para o naufrágio.
Em 2003, o PT chegou ao poder e em 2005, quando estourou o mensalão,
tornou-se comum encontrar com leitores que me paravam na rua para afirmar que
eu profetizara. Mas era bem o contrário. Bastavam as entrelinhas e o
entreouvido e, principalmente, ler o passado. Aquelas ideias e aquele modo de
fazer política, em toda parte, produziram o resultado que passávamos a observar
por aqui. Não obstante, foram necessários outros 12 anos, um descomunal
estrago, e uma crise do tamanho da que aí está, para que, finalmente, ampla
maioria da população compreendesse o que já deveria estar bem sabido.
"Coxinhas! Golpistas! Lacerdinhas! Ultradireitistas!
Fascistas!". É assim que argumentam, hoje, muitos defensores do governo.
Xingam os que afirmam algo tão óbvio quanto que o governo acabou e que as
instituições precisam resolver a encrenca. Conduta rasteira, chã, mas eu os
entendo. Não há argumento que lhes lave as mãos e lhes limpe os calçados.
Outros, depois de haver preparado o caminho do petismo ao poder como
esfregadores de gelo no jogo de curling, e segurado a barra ao longo de 13
anos, agora se posicionam contra. Mas não mudam de lado! Para estes, o governo
não serve. E a oposição tampouco. São os mais perigosos porque se alinharão, ao
fim e ao cabo, com algo ainda pior do que isso que aí está.
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
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