Por Rodrigo Constantino
Tenho
algum cuidado com as palavras e seus conceitos, pois entendo sua importância no
debate e na defesa da liberdade. Tanto é que dediquei um longo capítulo em "Esquerda Caviar" ao assunto, pedindo auxílio a
diversos pensadores importantes. Não gosto de usar com muita elasticidade
certas palavras, pois elas perdem seu significado dessa forma. Já os comunistas
sempre gostaram de fazer o contrário: chamavam regimes ditatoriais de "repúblicas democráticas", por exemplo.
Confesso ao leitor que não acompanhei a polêmica envolvendo a
campanha do Boticário com casais gays para o dia dos namorados, até porque
estou (ainda) sem canal brasileiro de televisão aqui. Mas vi que o pastor
Malafaia lançou, como resposta, uma campanha de boicote à loja de perfumes e
colônias. Foi logo acusado de intolerante pela esquerda. Mas será mesmo um caso
de intolerância?
Talvez.
Dependendo do conceito usado para definir tolerância, claro, ele pode não "tolerar" esse tipo de campanha e ser acusado de intolerante pelo movimento
LGBT. Mas será que o próprio movimento também não poderia ser acusado de
intolerante por não tolerar a reação do pastor? Afinal, ele não pregou uso de
violência, apenas um boicote, que não deixa de ser um ato voluntário do
consumidor ao escolher não comprar naquela loja. O próprio Silas
Malafaia explica seu ponto: (Vídeo acima)
Não tenho certeza que Malafaia seja o mais intolerante nesse caso. Aliás,
é curioso ver a esquerda acusando o pastor de intolerante pela campanha do
boicote quando sabemos que ela costuma estimular várias campanhas de boicote a
Israel, por exemplo. Duplo padrão? Um peso, duas medidas? Não acho a reação de
Malafaia, nesse caso, adequada, e apesar de condenar a agenda do movimento gay
como um todo, por entender que se trata de uma pauta contra a
família tradicional em muitos aspectos, não vejo nada demais em uma campanha
direcionada aos homossexuais. Mas me incomoda a hipocrisia da esquerda.
Outro
caso interessante de uso das palavras é a facilidade com a qual a esquerda usa
o termo "censura", sempre aplicado quando alguém se recusa a usar a própria
propriedade para dar voz ou espaço às ideias socialistas. Vladimir Safatle,
aquele que pretende ser uma espécie de Vladimir Lenin tupiniquim, acusou
recentemente uma universidade católica de "censura" por não aprovar uma cátedra
com o nome de Michel Foucault. Recebeu uma merecida resposta do coordenador do Núcleo de Fé da
PUC-SP na Folha hoje:
Não aprovar uma cátedra não
interfere na liberdade de ensino, pesquisa ou extensão. Deixar de homenagear
uma pessoa é muito diferente de censurá-la. Não homenagear um autor que sempre
foi crítico e até agressivo à Igreja, mas ainda assim manter o seu estudo e a
sua memória viva é sinal de abertura e diálogo, não de obscurantismo.
[...]
O caso gerou celeuma fora da
PUC-SP não porque a identidade católica seja obscurantista. Pelo contrário, o
debate ocorre justamente porque a Igreja sempre soube se renovar e, a partir de
sua identidade, criar uma instituição aberta à pluralidade, um dos pilares da
liberdade de pensamento durante a repressão e que deseja continuar assim.
Num mundo repleto de
identidades líquidas, pensamentos débeis e opiniões passageiras, incomoda uma
instituição que há séculos acredita ter encontrado a verdade, mantém-se fiel à
sua identidade e procura sempre se corrigir para estar mais a serviço do bem
comum.
Francisco Borba Ribeiro Neto tem um ponto, e um ponto relevante. O
que Safatle queria, em nome da "liberdade", é que um pensador não apenas
crítico, mas revoltado com a igreja católica recebesse uma homenagem especial
de uma universidade católica. E chama de "censura" e "obscurantismo" o ato
legítimo dessa universidade se recusar a prestar tal homenagem a um de seus
mais virulentos detratores. Será que o Psol de Safatle prestaria uma homenagem
a Thatcher ou Reagan?
Sim, a universidade é um local de aprendizagem, de pluralidade, de
troca de ideias, inclusive das mais nefastas e subversivas, como as do próprio
Foucault, guru da defesa da imoralidade nos tempos modernos com a desculpa de
combater o "sistema opressor". Mas como reconhece o autor da resposta, nada
disso foi negado. Ao contrário: há Foucault (e Marx, e Adorno, e Habermas, etc)
até demais em nossas universidades. Ele apenas não virou nome de cátedra, uma
homenagem especial e desnecessária no caso.
Se em meu blog eu
filtro comentários e decido que alguns não merecem passar, seja por excesso de
estupidez ou pelas agressões chulas, isso é um direito meu, como proprietário
do blog. Não é "censura" quando um socialista não tem permissão de ficar
elogiando tiranos assassinos no meu blog. Ele
que vá fazer isso em outro lugar. É livre para tanto. Não há censura aqui. Mas
a esquerda finge não entender isso, pois adora se vitimar.
Enfim,
intolerância, censura, liberdade, esses são conceitos que precisam ser bem
esclarecidos antes de
qualquer debate, para que João não diga uma coisa, e José compreenda outra,
completamente diferente. Quem discordar e resolver me criticar com argumentos,
será liberado. Quem simplesmente me atacar pessoalmente com adjetivos, será "censurado". E se não gostar, é livre para fazer uma campanha de boicote ao meu
blog. Sou tolerante com esses intolerantes disfarçados de tolerantes!
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