Por Reinaldo Azevedo
É claro que os números das pesquisas eleitorais não dão motivos
para o tucano Aécio Neves sorrir de satisfação. Mas, vá lá, ele pleiteia o
poder federal, não o tem. No caso dos petistas, é diferente. O partido está em
pânico e, creiam, não o vejo cometer erros tão brutais desde 1994, quando não
percebeu a importância que tinha o fim da inflação para o povão e decidiu se
opor ao Plano Real. Na terça à noite, o "Jornal da Globo" viu acontecer algo
inédito desde 2002, quando teve início a prática: um presidenciável se negou a
conceder uma entrevista previamente agendada. E a faltosa foi ninguém menos do
que Dilma Rousseff, do PT, presidente da República e candidata à reeleição. O
que ela alegou? Nada! Simplesmente mandou dizer que não haveria entrevista.
Além de ser um tanto desrespeitoso com o trabalho da imprensa,
isso demonstra o desespero que toma conta da campanha de Dilma desde que Marina
Silva, do PSB, deu iniciou à sua meteórica ascensão, depois da morte de Eduardo
Campos. Se a disputa com Aécio já vinha se afigurando crescentemente difícil
para Dilma, o confronto com Marina, caso se desse hoje, a tiraria do trono. A
petista viu a candidata do PSB tomar do tucano o segundo lugar, encostar nela
no primeiro turno, vencê-la no segundo e, agora, dados os levantamentos feitos
pelo próprio Planalto, a ex-senadora já lidera a corrida também na etapa
inicial.
Nesta segunda, depois do debate promovido pela Jovem Pan, Folha,
UOl e SBT, o comando da campanha se reuniu com a presidente, e todos se
dedicaram ao patético exercício do autoengano. O consenso foi que Dilma se saiu
bem no confronto. Errado. Foi a pior dos três grandes. Aécio jogou melhor, mas
quem venceu foi mesmo Marina porque polarizou com Dilma e passou a impressão de
dar a palavra final. A petista estava tensa, com os ombros arqueados, semblante
fechado, demonstrando contida irritação. Marina batia duro, afetando aquele
estado de nirvana. Como atriz, ela também supera a sua oponente.
Na terça, dia em que Dilma deveria conceder a entrevista aos
jornalistas William Waack e Christiane Pelajo, o Ibope divulgou o resultado da
pesquisa para a eleição presidencial em dois colégios privilegiados. Até a
semana passada, Dilma liderava no Rio, com 38% a 30% contra Marina; Aécio tinha
11%. A estarem certos os números, o tucano manteve o mesmo percentual, mas a
petista é agora derrotada por 38% a 32%. Ou por outra: Dilma perdeu oito
pontos, e Marina ganhou 6 - uma mexida de 14 pontos em sete dias. Em São Paulo,
a distância seria bem maior: a ex-senadora saltou de 35% para 39%, e a
presidente manteve os 23%. O senador mineiro oscilou de 19% para 17%.
Aguardam-se para esta quarta os números nacionais do Ibope.
Certamente, vem uma ducha de água fria na cabeça de Dilma, num momento em que o
petismo tenta respirar, em esforço concentrado para desconstruir Marina. Mais
uma vez, o PT resolveu tirar a causa gay do armário para demonizar adversários.
O esforço pode ser contraproducente.
Dilma e o PT passaram pelo vexame de ver as perguntas no ar, sem
resposta. Abaixo, eu as reproduzo:
1. Os últimos índices oficiais de crescimento indicam que o país
entrou em recessão técnica. A senhora ainda insiste em culpar a crise
internacional, mesmo diante do fato de que muitos países comparáveis ao nosso
estão crescendo mais?
2. A senhora continuará a represar os preços da gasolina e do
diesel artificialmente para segurar a inflação, com prejuízo para a Petrobras?
3. A forma como é feita a contabilidade dos gastos públicos no
Brasil, no seu governo, tem sido criticada por economistas, dentro e fora do
país, e apontada como fator de quebra de confiança. Como a senhora responde a
isso?
4. A senhora prometeu investir R$ 34 bilhões em saneamento básico e
abastecimento de água até o fim do mandato. No fim do ano passado, tinha
investido menos da metade, segundo o Ministério das Cidades. O que deu errado?
5. Em 2002, o então candidato Lula prometeu erradicar o
analfabetismo, mas não conseguiu. Em 2010, foi a vez de a senhora, em campanha,
fazer a mesma promessa. Mas foi durante o seu mandato que o índice aumentou
pela primeira vez, depois de 15 anos. Por quê?
6. A senhora considera correto dar dentes postiços para uma cidadã
pobre, um pouco antes de ser feita com ela uma gravação do seu programa
eleitoral de televisão?
É claro que a entrevista não se resumiria a isso porque estava
prevista a intervenção dos jornalistas para aclarar eventuais ambiguidades ou
apontar contradições.
Na segunda, a entrevistada foi Marina Silva. Nesta quarta, será a
vez de Aécio Neves. O PT não sabe mais o que fazer.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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