Por Luiz Felipe Pondé
União Brasileira Socialista
Soviética. Piada de mau gosto mesmo, também acho, mas a pena mesmo é que a
discussão política entre nós seja da idade da pedra e o socialismo ainda seja
levado a sério. A piada de mau gosto mesmo é que estamos à beira de um golpe de
Estado invisível no Brasil.
O leitor e a leitora já estão a par
do decreto do governo que institui a Política Nacional de Participação Social e
o Sistema Nacional de Participação Social? Trata-se de decreto para
aparelhar movimentos com o MST (gente que quer tomar a terra alheia), o MTST
(gente que discorda da ideia de que se deve pagar pelo teto em que mora) e
outros movimentos que englobam gente "sem algo" e acham que a sociedade deve
dar pra eles. Esses grupos darão um golpe de Estado invisível. Tudo fruto, é
claro, de setores do PT radical e os raivosos ex-PT, hoje em pequenos partidos.
Esse decreto é um golpe de Estado
sem dizer que é. Lentamente, os setores mais totalitários do país, amantes de
ditaduras do proletariado (ou bolivarianas) voltam à cena no Brasil. Comitês
como esses tornam os poderes da República reféns de gente que passa a vida
sendo profissional militante. Quando você acordar, já era, leis serão passadas
sem que você possa fazer algo porque estava ocupado ganhando a vida.
Pergunte a si mesmo uma coisa: você
tem tempo de ficar parando a cidade todo dia, acampando em ruas todo dia,
discutindo todo dia? Provavelmente não, porque tem que trabalhar, pagar contas,
levar filhos na escola, no hospital, e, acima de tudo, pagar impostos que em
parte vão para as mãos desses movimentos sociais que se dizem representantes da "sociedade".
Mas a verdade é que a maioria
esmagadora de nós, a "sociedade", não pode participar desses comitês porque não
é profissional da revolução.
Tais movimentos que se dizem
sociais, que afirmam que as ruas são deles, mentem sobre representarem a
sociedade. Mesmo greves como a do metrô, capitaneada por uma filial do PSTU,
não visa apenas aumentar salários. Visa instaurar a desordem para que o Brasil
vire o que eles acham que o Brasil dever ser.
Afinal, de onde vem a grana que
sustenta essa moçada dos movimentos sociais? A dos sindicatos, sabemos, vem dos
salários que são obrigatoriamente onerados para quem trabalha e sustenta os
profissionais dos sindicatos. Mas, até aí, estamos na legalidade de alguma
forma. Mas e os "sem-Macs" ou "sem-IPhones", vivem de que? Quando os vemos na
rua, não parecem estar passando fome e frio como dizem que estão. Essa gente é
motivada e sustentada de alguma forma.
Por que não se exige entrar nas
contas do MST e do MTST e descobrir de onde vem a grana deles? Quem banca toda
essa estrutura militante? Temo, caro leitor e cara leitora que sejamos nós, os
mesmos que eles consideram inimigos, a menos que concordemos com eles.
Uma das grandes mentiras desses
movimentos sociais é dizer que combatem a "elite econômica", que, aliás, em dia
de greve, fica em casa porque não precisa de fato se virar para ir trabalhar.
Que sofre com esses movimentos que
arrebentam o cotidiano é gente que perde o emprego, perde o negócio, perde a
vida se fica parada no trânsito ou na fila. É gente que, quando muito, anda de
carro 1.0, não gente que anda de helicóptero.
É diarista, empregada doméstica,
porteiro de prédio, professor, estudante sem grana e que tem que pagar a
faculdade, não riquinhos da zona oeste paulistana que fazem sociais para
infernizar a vida dos colegas.
É médico que tem três empregos, é
dona de casa que cuida de filhos e trabalha fora, é trabalhador da construção
civil, é gente "mortal", comum, que não pode se defender dos caras que fecham a
cidade dizendo que fazem isso em nome do "povo".
Os movimentos sociais têm
demonstrado seu caráter autoritário. Pensam que as ruas são o quintal de seus
comitês, que aparelharão os poderes da República.
Se não bastasse isso tudo, vem aí o
controle social da mídia. Dizer que será apenas para evitar monopólios é achar
que somos idiotas. Veja o que aconteceu na Argentina.
Luiz Felipe Ponde é filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em
epistemologia pela Universidade de Tel-Aviv, professor da PUC-SP e da Faap,
Fonte: "Folha de São Paulo", edição desta segunda-feira, 16
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