Vários jornalistas e opinadores da mídia descobriram, após exaustivas investigações, que as vaias e os insultos dirigidos à presidente durante o jogo de estreia do Brasil na Copa provieram de uma elite com "caixa" suficiente para adquirir os custosos ingressos que davam acesso às cadeiras do Itaquerão. Ali não estava o "povo". E, menos ainda, o povão. É claro que se Dilma tivesse sido aplaudida (como era aplaudido o presidente Médici quando entrava no Maracanã), jamais recusariam à efluente plateia o direito de ser identificada como imagem viva do "povo".
A contradição nos coloca
diante de mais um problema gerado pelo petismo. Para entender o que acontece é
preciso saber como funcionam essas coisas na cabeça dos que foram doutrinados
pelo Partido dos Trabalhadores. Eles são o povo quando vaiam e jamais são
vaiados pelo povo porque isso significaria vaiar a si mesmos. E é assim que
pensam, por mais que a presidente Dilma, nos últimos meses, recolha apupos onde
quer que vá.
Todos os grandes teóricos
da esquerda são unânimes em afirmar a importância do partido e de sua
disciplina interna, na qual repousa indispensável elemento de coesão e
mobilização. Com efeito, nenhum grupo social se reúne tanto quanto esses
denodados militantes para os quais nada se sobrepõe à convocação partidária. Os
demais cidadãos, mesmo quando politicamente alinhados, têm outros compromissos
e se ocupam, também, com atividades que vão dos joguinhos de futebol aos
aniversários dos parentes, do fim de semana na praia aos prazeres da carne, das
responsabilidades profissionais às irresponsabilidades de um filmezinho na
televisão. "Coisas do mundo, retratos da vida". A capacidade de juntar gente
acaba produzindo presunçosa conseqüência: os companheiros se reúnem sob a
sólida certeza de que são o próprio povo, seja numa assembléia do OP, numa
passeata do Fórum Social, numa reunião de seu "coletivo", numa
assembleia de professores, seja, ainda, para ocupar uma rua, bloquear uma
estrada, invadir uma fazenda, assassinar reputações, ou insultar aqueles a quem
se opõem.
Agora mesmo, a presidente
acaba de assinar um decreto, o tal Decreto nº 8243, que institui os sovietes no
Brasil através de um certo Programa Nacional de Participação Social. Esse ato
normativo, que atropela a Constituição e o Congresso Nacional, pretende trazer
o povo para a definição dos projetos e das políticas públicas. E quem é o povo
para o governo petista? O povo é formado pelos movimentos sociais, coletivos,
sindicatos e outros entes, "institucionalizados ou não", que o PT
sabidamente constitui, domina e instrumentaliza.
Nada na vida social é mais
heterogêneo do que o povo. Ele não tem coisa alguma a ver com certas pinturas
ideologizadas que o representam com as individualidades indiscerníveis e os
punhos simiescamente erguidos ao alto. É em virtude da pluralidade inerente à
composição social que a democracia, institucionalizada como regime, só pode ser
representativa. E é em virtude dessa pluralidade que as formas de democracia
direta, na Constituição Federal, estão restritas a plebiscitos, referendos e
iniciativa popular na apresentação de propostas legislativas. E é bom que seja
assim, acima e muito além das pretensões hegemônicas do PT, porque só assim se
preservam as maiores riquezas de uma sociedade, que são os indivíduos que a
compõem.
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
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