Por Reinaldo Azevedo
José Serra escreveu no Estadão de ontem um excelente artigo sobre
a decadência do petismo e sua guinada autoritária - dentro do autoritarismo que
já está na sua origem. Explica a razão do desarvoramento do partido e aponta
como evidências do destrambelhamento o decreto bolivariano da presidente Dilma
e a lista negra de jornalistas. Leiam trechos:
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O PT não é um partido muito tolerante já a partir de seus próprios pressupostos originais e de seu nome: quem se pretende um partido "dos" trabalhadores, não "de" trabalhadores, já ambiciona de saída a condição de monopolista de um setor da sociedade. Mais ainda: reivindica o poder de determinar quem pertence, ou não, a essa categoria em particular. Assim, um operário que não vota no PT, por exemplo, não estará, pois, entre "os" trabalhadores; do mesmo modo, o partido tem conferido a "carteirinha" de operário padrão a pessoas que jamais ganharam o sustento com o fruto do próprio trabalho.
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O PT não é um partido muito tolerante já a partir de seus próprios pressupostos originais e de seu nome: quem se pretende um partido "dos" trabalhadores, não "de" trabalhadores, já ambiciona de saída a condição de monopolista de um setor da sociedade. Mais ainda: reivindica o poder de determinar quem pertence, ou não, a essa categoria em particular. Assim, um operário que não vota no PT, por exemplo, não estará, pois, entre "os" trabalhadores; do mesmo modo, o partido tem conferido a "carteirinha" de operário padrão a pessoas que jamais ganharam o sustento com o fruto do próprio trabalho.
A fórmula petista é conhecida: a máquina partidária suja ou lava
reputações a depender de suas necessidades objetivas. Os chamados bandidos de
ontem podem ser convertidos à condição de heróis e um herói do passado pode
passar a ser tratado como bandido. A única condição para ganhar a bênção é
estabelecer com o ente partidário uma relação de subordinação. A partir daí não
há limites. Foi assim que o PT promoveu o casamento perverso do patrimonialismo "aggiornado", traduzido pela elite sindical, com o patrimonialismo tradicional,
de velha extração.
(…)
Não tendo mais auroras a oferecer, não sabendo por que governa nem por que pretende governar o País por mais quatro anos, e percebendo que amplos setores da sociedade desconfiam dessa eterna e falsa luta do “nós” contra "eles", o petismo começa a adentrar terrenos perigosos. Se a prática não chega a ameaçar a democracia - tomara que não! -, é certo que gera turbulências na trajetória do País. No apagar das luzes deste mandato, a presidente Dilma Rousseff decide regulamentar, por decreto – quando poderia fazê-lo por projeto de lei –, os "conselhos populares". Não por acaso, bane o Congresso do debate, verticalizando essa participação, num claro mecanismo de substituição da democracia representativa pela democracia direta. Na Constituição elas são complementares, não excludentes. Por incrível que pareça – mas sempre afinado com o bolchevismo sem utopia –, o modelo previsto no Decreto 8.243 procura substituir a democracia dos milhões pela democracia dos poucos milhares – quase sempre atrelados ao partido. É como se o PT pretendesse tomar o lugar da sociedade.
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Não tendo mais auroras a oferecer, não sabendo por que governa nem por que pretende governar o País por mais quatro anos, e percebendo que amplos setores da sociedade desconfiam dessa eterna e falsa luta do “nós” contra "eles", o petismo começa a adentrar terrenos perigosos. Se a prática não chega a ameaçar a democracia - tomara que não! -, é certo que gera turbulências na trajetória do País. No apagar das luzes deste mandato, a presidente Dilma Rousseff decide regulamentar, por decreto – quando poderia fazê-lo por projeto de lei –, os "conselhos populares". Não por acaso, bane o Congresso do debate, verticalizando essa participação, num claro mecanismo de substituição da democracia representativa pela democracia direta. Na Constituição elas são complementares, não excludentes. Por incrível que pareça – mas sempre afinado com o bolchevismo sem utopia –, o modelo previsto no Decreto 8.243 procura substituir a democracia dos milhões pela democracia dos poucos milhares – quase sempre atrelados ao partido. É como se o PT pretendesse tomar o lugar da sociedade.
Ainda mais detestável: o partido não se inibe de criar uma lista
negra de jornalistas – na primeira fornada estão Arnaldo Jabor, Augusto Nunes,
Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Guilherme Fiuza, Danilo Gentili, Marcelo
Madureira, Demétrio Magnoli e Lobão –, satanizando-os e, evidentemente,
expondo-os a riscos. É desnecessário dizer que tenho diferenças, às vezes
severas, com vários deles. Isso é parte do jogo. É evidente que o regime
democrático não comporta listas negras, sejam feitas pelo Estado, por partidos
ou por entidades. Mormente porque, por mais que se possa discordar do ponto de
vista de cada um, em que momento eles ameaçaram a democracia? Igualmente falsa
– porque há evidência dos fatos – é que sejam tucanos ou "de oposição". Não
são. Mas, e se fossem? Num país livre não se faz esse tipo de questionamento.
Acuado pelos fatos, com receio de perder a eleição, sem oferecer
uma resposta para os graves desafios postos no presente e inexoravelmente
contratados para o futuro, o PT resolveu acionar a tecla da intolerância para
tentar resolver tudo no grito. Cumpre aos defensores da democracia contrariar
essa prática e essa perspectiva. Não foi assim que construímos um regime de
liberdades públicas no Brasil. O PT está perdendo o eixo e tende a voltar à sua
própria natureza.
Leia a íntegra aqui
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Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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