Por Heitor Scalambrini Costa
Em Pernambuco, terra do "caçador de
raposas políticas" - o ex-governador e candidato a presidente da Republica pelo
Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos - a disputa eleitoral tem
como marca o "racha" no aglomerado de partidos políticos denominado Frente
Popular, que garantiu sua base de apoio durante os dois mandatos consecutivos,
de 2006 a 2014.
Com o rompimento, a polarização
promete ser acirrada com o outro candidato, do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB), Armando Monteiro, ex-presidente da Federação da Industria do Estado de
Pernambuco (FIEPE) e da Confederação Nacional da Industria (CNI) e senador
eleito por uma outrora e agora dividida Frente Popular, que está sendo apoiado
pelo Partido dos Trabalhadores (PT), e pelo Partido Democrático Trabalhista
(PDT), ambos ex-associados da Frente.
O ex-governador Campos escolheu,
como candidato, alguém de dentro da sua "entourage familiar", o que demonstra
seu interesse de criar um grupo serviçal e de irrestrita confiança, para
atender a seus interesses políticos. O ungido, Paulo Câmara, foi seu
ex-secretário (Administração, Turismo e Fazenda) nos dois mandatos.
Nestes dois últimos meses (maio-junho) de campanha
eleitoral não autorizada, o que surpreendeu e me chamou a atenção, a ponto de
escrever este artigo, foi a desenvoltura do candidato governista como criador
de ilusões, devida ao número de promessas feitas em tão pouco tempo. Imaginem o
que não fará até as eleições!!!.
Muito pouco é questionado sobre o por que, como membro
do governo nos últimos oito anos, não fez o que agora promete na campanha
eleitoral. Parece a todos que guardou para as eleições a promessa de
atendimento às demandas da população, às quais não apoiou enquanto esteve no
governo. Por que agora se deve acreditar que irá cumpri-las caso eleito?
Para cada região, para cada
município, para cada grupo político que coopta, ele oferece um pacote de
bondades disfarçado em promessas. É triste ver o toma lá dá cá fisiológico como
moeda corrente da política brasileira. No vale-tudo, onde o objetivo principal
é a conquista do poder, tudo é permitido. Relato a seguir algumas das pródigas
promessas feitas pelo candidato Câmara em poucos dias de campanha não oficial,
já que esta somente começará a partir de 6 de julho.
1) Reunido com produtores de
caprinos e ovinos da cidade de Parnamirim, Sertão do Estado (23 de maio),
prometeu fortalecer o setor pecuário do município incluindo carne na merenda
escolar. Afirmou que aumentará para três vezes por semana o número de
fornecimento de carne. Somente agora! Porque não quando estava no governo?
Disse ainda que analisará, junto com sua equipe, a implantação de uma escola
técnica no município.
2) No documento em que constam
às diretrizes para o seu programa de governo na área de Saúde (27 de maio),
prevê investimentos de R$ 478 milhões no setor. Inclui a construção de três
novos hospitais: o Hospital Geral de Cirurgia, no Grande Recife; o Hospital
Geral do Sertão (HGS), em Serra Talhada; e o Hospital da Mulher do São
Francisco, em Petrolina. Também se compromete a tirar do papel o projeto do
Hospital Regional Mestre Dominguinhos, em Garanhuns, o que já havia sido
prometido pelo governo anterior. Além disso, prometeu transformar o Hospital
Professor Agamenon Magalhães, em Serra Talhada, no Hospital da Mulher do
Sertão. No Recife, o Hospital Geral de Areias viraria o novo Hospital do Idoso.
Sem contar com a construção de seis novas Unidades de Pronto-Atendimentos
(UPA´s), estas que, depois de construídas com dinheiro público, serão
entregues, como as UPA´s anteriores, sem qualquer custo, à iniciativa privada.
3) Em sua viagem pelo Sertão
do São Francisco, em Cabrobó (30 de maio), o candidato assumiu o
compromisso de pavimentar a chamada Estrada da Cebola, que liga aquela cidade a
Terra Nova. Garantiu ainda que será a primeira estrada a ser pavimentada, caso
eleito. Também prometeu transformar duas escolas municipais em estabelecimentos
de referência. Além de se empenhar para levar uma extensão da Universidade de
Pernambuco (UPE) para o município e viabilizar a construção de uma escola
técnica local. A bem da verdade, o Conselho Universitário da Universidade de
Pernambuco (UPE) já decidiu que não vai abrir novos cursos e campus no próximo
ano, por falta de professores, servidores e de investimentos em infraestrutura
deficientes (laboratórios, bibliotecas, etc.).
4) Em Petrolina (31 de maio),
reforçou a promessa de criação do Hospital da Mulher do São Francisco, que
consta nas diretrizes para a Saúde apresentadas no dia 27 de maio. Com um
investimento de R$ 84 milhões, contaria (segundo a assessoria de comunicação do
candidato), com 110 leitos, e uma capacidade projetada de realizar 2,8 mil
atendimentos de urgência por mês, 10 mil exames de imagem e 26 mil consultas. A
proposta é realmente importante para a região, todavia o hospital e os
equipamentos somente funcionam com pessoas qualificadas e motivadas. Hoje os
hospitais existentes carecem de infraestrutura, manutenção e pessoal. Por que
não se projeta melhoria também para esses hospitais? Será que somente novas
construções atraem o voto do eleitor?
5) Durante visitas pelo Agreste
Meridional, em Garanhuns (7 de junho), prometeu construir ainda um outro
hospital para atender pacientes da região, o Mestre Dominguinhos, assegurando
que o equipamento atenderá à demanda de alta complexidade existente na região.
Além de “assegurar ações com o programa Doutor Chegou, com mutirões de
cirurgias, consultas e exames; Medicamento em Casa; e a ampliação do Pernambuco
Conduz, humanizando e aproximando o serviço de saúde para quem mais precisa,
especialmente no interior”, conforme suas palavras. Prometeu que irá levar para
o interior a qualidade que o serviço de saúde tem na Região Metropolitana do
Recife (sic!). Saúde é apontada pela população com um dos maiores problemas.
6) No município de Calçado (8 de
junho), no Agreste Meridional, assumiu o compromisso de, quando (se)
eleito, uma de suas primeiras ações será a implantação da adutora que levará
água da barragem Pau Ferro à cidade, assim como ás vizinhas Jupi e Jucati.
Garantiu que esta obra será (também) uma das primeiras coisas que irá fazer em
2015.
7) No município de Arcoverde (18
de junho), prometeu a duplicação da rodovia federal BR 232 de Caruaru a até
aquele município (100 km). Talvez tenha "outra Celpe" para vender, e assim
levantar recursos para cumprir sua promessa.
8) Em Glória do Goitá (20 de junho),
comprometeu-se a investir para ampliar o desenvolvimento da cidade. Garantiu
vagas para todos os alunos que quiserem estudar em escolas de tempo integral e
em escolas técnicas. Também prometeu que levará a sua equipe a proposta de
construir uma segunda escola de referência, a pavimentação da PE-50 e a
ampliação do hospital municipal.
9) Em viagem á região Agreste
(21 de junho), passando por quatro cidades, garantiu que, se eleito,
fará o recapeamento da estrada entre Serra da Capoeira e Machados, além de
viabilizar a duplicação da PE-90, rodovia que liga Limoeiro a Toritama. Não se
pode esquecer o Plano de Infraestrutura Rodoviária de Pernambuco – Caminhos da
Integração, anunciado em setembro de 2011, que previa investimentos de R$ 1,98
bilhões em 73 rodovias do estado. O projeto visava obras de restauro,
implantação, requalificação e duplicação de 1.973 km de rodovias em Pernambuco.
Frustrou muitos municípios. Mas agora as promessas voltam, "requentadas".
10) Na cidade de Vertentes (22 de
junho), integrante do pólo de jeans do estado, que também inclui os
municípios de Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, afirmou que
isentará do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) as
lavanderias de jeans. Diminuir impostos é uma promessa recorrente entre
candidatos. E por que não o fez como secretario da Fazenda? Naquela
região não se pode ainda esquecer o grave problema ambiental causado por estas
industrias, cuja solução caminha a "passos de tartaruga".
Paulo Câmara segue o figurino de seu
criador e mentor, hoje candidato à presidência da Republica, que percorre o
Brasil afora prometendo ações e realizações, mostrando Pernambuco como exemplo
de sua "gestão moderna e eficiente". Esta tecla repetida insistentemente, de que
Pernambuco difere do governo federal e de outros estados da federação na área
da gestão, é uma falácia. De que, aqui, os “meninos de ouro” comandados pelo
candidato Campos têm "capacidade de tirar do papel e transformar em realidade"
e que "o modelo de gestão prima pela meritocracia, com indicações de pessoas técnicas
para cargos públicos chaves e valorização do serviço público com metas e
cobranças", conforme o candidato Câmara mais uma vez repetiu na sabatina
promovida pela TV Jornal (29 de maio). Basta um mínimo de seriedade e
honestidade para comprovar como o governo de Pernambuco não difere
administrativamente em nada de outros estados do país e do governo federal.
Como exemplo recente, citemos as obras prometidas para antes da Copa e que não
foram entregues.
Como visto, promessas não faltam, e
não faltarão, até o dia da eleição. Câmara já fez três grandes promessas em
poucos dias, além de várias outras acima relatadas: duplicar uma estrada
federal, a BR-232, de São Caetano até Arcoverde (100 km), instituir o bilhete
único na área metropolitana e construir três novos hospitais regionais e seis
UPA´s.
Candidatos com o texto do seu marqueteiro prometem
resolver todos os problemas. O eleitor acredita, vota e desanima, ao ver que
foi enganado. Não devemos esquecer que somos nós, os eleitores, que escolhemos
aqueles que irão nos governar. Portanto, "olho neles". Cabe ao eleitor/cidadão
valorizar seu voto, não se deixando iludir com candidaturas que vendem ilusões.
Heitor Scalambrini Costa é professor da Universidade Federal
de Pernambuco