Por Daniel Haidar, na
VEJA.com:
Um conjunto de fornecedores, agora sob suspeita, recebeu pelo menos 31,1 bilhões de reais da Petrobras desde 2003 - ano em que o PT assumiu a Presidência da República e passou a interferir diretamente na gestão da estatal. Essas empresas, que incluem as maiores empreiteiras do país, são consideradas suspeitas de abastecer financeiramente um esquema montado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Eles são os 'cabeças' do esquema desvendado pela operação Lava-Jato, que encontrou sinais de corrupção nos contratos da estatal, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Um conjunto de fornecedores, agora sob suspeita, recebeu pelo menos 31,1 bilhões de reais da Petrobras desde 2003 - ano em que o PT assumiu a Presidência da República e passou a interferir diretamente na gestão da estatal. Essas empresas, que incluem as maiores empreiteiras do país, são consideradas suspeitas de abastecer financeiramente um esquema montado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Eles são os 'cabeças' do esquema desvendado pela operação Lava-Jato, que encontrou sinais de corrupção nos contratos da estatal, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
O site de VEJA levantou os contratos fechados pela estatal com 14
fornecedores que, a julgar pelos documentos apreendidos, estão sob suspeita ou
comprovadamente destinaram recursos a empresas controladas por Youssef. Entre
os objetivos cogitados estavam o enriquecimento ilícito da quadrilha e o financiamento
de partidos e políticos, segundo a PF. Os policiais e procuradores da República
encarregados da investigação possuem especial interesse por aditivos em
contratações –-mecanismo que permite aumentar os valores recebidos sem nova
licitação. Na sexta-feira, a investigação chegou ao gabinete da presidência da
Petrobras, com policiais sendo recebidos pessoalmente pela presidente Graça
Foster, num encontro que resultou no recolhimento de mais de 400 páginas, dois
CDs e um pendrive com arquivos referentes a contratos com fornecedores.
De acordo com as investigações, fornecedores da estatal irrigaram
as contas da MO Consultoria, uma firma em nome de laranjas de Youssef.
Mencionadas em uma planilha apreendida pela polícia, empresas como a Jaraguá e
a Sanko Sider já admitiram que pagaram a essa empresa de fachada as "comissões"
relatadas no documento. Como revela a edição de VEJA desta semana, a Polícia
Federal descobriu que Paulo Roberto, Youssef, políticos e prestadores de
serviços estão interligados em um consórcio criminoso montado para fraudar
contratos na Petrobras, enriquecer seus membros e financiar políticos e
partidos.
Nessa planilha, fica delineado o caminho dos desvios. O documento
menciona o pagamento de 24,1 milhões de reais pela Sanko Sider, fornecedora de
tubos da Petrobras, em comissões para a MO Consultoria, a empresa de fachada
utilizada por Youssef para movimentar propinas, de acordo com a suspeita dos
investigadores. O melhor contrato fechado diretamente com a estatal rendeu 2
milhões de reais, após dois aditivos, pela venda de tubos de aço. A Sanko Sider
diz que o incremento foi de 25% do valor inicial, como permite a lei. De
outubro de 2011 a agosto de 2013, a empresa conseguiu vender diretamente 2,9
milhões de reais, mas, além disso, também faturava com vendas para fornecedores
da estatal. O diretor-jurídico da Sanko Sider, Henrique Ferreira, admitiu a
VEJA na última edição que houve o pagamento de tais comissões.
Outra empresa que também reconheceu ter pago para a MO
Consultoria, pela intermediação de contratos com a Petrobras, foi a Jaraguá. Em
entrevista ao jornal O Globo, o presidente-executivo da Jaraguá Equipamentos,
Paulo Roberto Dalmazzo, confirmou que pagou 1,9 milhão de reais por certa
“consultoria de intermediação de negócio”. O grupo faturou 2,9 bilhões de reais
diretamente da estatal entre julho de 2007 e fevereiro de 2014. Nesse filão,
estão serviços prestados para a construção da refinaria Abreu e Lima, em
Ipojuca. Assinado em abril de 2008, um contrato para elaboração de projeto
executivo para fornecimento de bens, construção civil e montagem elétrica
chegou a ter 15 aditivos, com um custo final de 41,8 milhões de reais. A
construção da refinaria era um projeto sob a responsabilidade de Paulo Roberto
Costa, que foi diretor da estatal de 2003 a 2012. O Tribunal de Contas da União
(TCU) já apontou sinais de superfaturamento nesse empreendimento. A Camargo
Corrêa, que atuou no projeto, também é suspeita de ter contribuído com 7,9
milhões para o esquema de Costa e Youssef, como retribuição por seus contratos
referentes à refinaria. O consórcio CNCC, do qual a Camargo Corrêa faz parte,
fechou pelo menos dois contratos que somam 4,7 bilhões de reais com a estatal
para a construção dessa unidade de refino.
Na mesma planilha em que são mencionadas contribuições de Jaraguá
e Sanko Sider, há também referência a um pagamento de 3,2 milhões de reais à
empresa de Youssef pelo Consórcio Rnest Edificações, formado por Engevix
Engenharia e Empresa Industrial Técnica (EIT). Esse consórcio também tem
participação na construção da refinaria Abreu e Lima, em contratos que já
chegam a 1 bilhão de reais. Num deles, houve pelo menos 17 aditivos.
Outra empreiteira mencionada na planilha obtida pela PF é a Galvão
Engenharia, com a suposta remessa de 1,5 milhão de reais ao esquema. Esse grupo
fechou 4,4 bilhões de reais em contratos com a Petrobras, de setembro de 2008 a
novembro de 2013. Em um deles, há 25 aditivos. Já a empreiteira OAS é
responsabilizada pelo desembolso de 1,2 milhão de reais à empresa de fachada do
doleiro. Diretamente, a construtora fechou um contrato de 184 milhões de reais
em novembro de 2013 com a Petrobras, para construção e montagem de dutos para o
Complexo Petroquímico do estado do Rio de Janeiro (Comperj), outro empreendimento
com indícios de sobrepreço em contratações.
Fornecedoras de menor porte como a Ecoglobal Ambiental também
entraram no foco do inquérito. A Polícia Federal investiga a relação de Costa e
Youssef com a empresa, pela suspeita de que o ex-diretor tenha articulado a
obtenção de contratos milionários com a estatal. Em uma disputa por
carta-convite com gigantes internacionais, a Ecoglobal faturou um contrato de
443 milhões de reais para realizar testes de poço de petróleo, uma área na qual
não era considerada experiente. Antes disso, estava habituada a serviços menos
custosos e tinha obtido 28,6 milhões de reais da estatal. Em entrevista ao site
de VEJA, Vladimir Silveira, que aparece como sócio-diretor da Ecoglobal, disse
que foi assediado por emissários de Costa e Youssef que tentaram pagar 18
milhões de reais por 75% da empresa. Mas, pela versão de Silveira, a transação
não foi concretizada e ele nega que Costa tenha facilitado a obtenção de
contratos. Mas chamaram atenção dos policiais e-mails em que emissários de
Youssef tratavam de um aditivo de 15% a essa venda, antes até de o serviço
começar a ser prestado.
No material apreendido com o ex-diretor, também há anotações que
contabilizam doações a políticos feitas por fornecedores da Petrobras. Numa
lista, há menções a contribuições de Mendes Júnior, UTC Engenharia, Engevix,
Toyo Setal, Hope e Iesa. Esse grupo recebeu pelo menos 17,3 bilhões de reais em
contratos diretos com a Petrobras na administração petista. Só a Mendes Júnior
teve 48 aditivos no projeto de detalhamento, construção e montagem do terminal
aquaviário de Barra do Riacho, em Aracruz, no Espírito Santo, e o desembolso
chegou a 895 milhões de reais.
Com a revelação da atuação de Costa na Petrobras, também surgiram
denúncias sobre a contratação do genro do ex-diretor pela estatal. Humberto
Sampaio de Mesquita é sócio de uma empresa que, supostamente, prestou serviços
de consultoria para a petrolífera. A Pragmática Consultoria em Gestão fechou
contrato que, com dois aditivos, chegou a 2,5 milhões de reais. A seleção da
empresa se deu em dezembro de 2010, através do sistema de carta-convite. O
objetivo era prestar serviços técnicos especializados para dar suporte a "atividades de qualificação".
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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