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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Itaú Cultural distorce a cultura feirense



Por Gil Mário
Estimulado em encontrar a lista dos 270 artistas pesquisados pela organização da 3ª Bienal da Bahia (lista que não encontrei) deparei-me com um texto do Núcleo de Artes Visuais do Itaú Cultural comentando a produção das Artes Visuais, pesquisadas entre 2001/2003, mapeada nacionalmente e priorizando artistas emergentes. Segundo a pesquisa, foram empregados cem curadores nas mais diversas regiões brasileiras. Vou mostrar a seguir como as cidades de Feira de Santana e Vitoria da Conquista foram citadas.
Em reunião realizada em uma das salas do Centro de Cultura Amélio Amorim, uma jovem aparentando recém-formada e pouco tato com o assunto em questão, ditava as técnicas pelas quais os artistas poderiam apresentar ou desenvolver seus trabalhos: fotografia, instalação, video-instalação, escultura, objeto, pintura, gravura, desenho, site especifico (obras cujo o formato varia de acordo com o local em que são montados),  intervenções ou no espaço expositivo e novas técnicas.
A proposta escrita tem relevância, o erro está na desinformação sobre os fatos citados a nível nacional. "O programa tem como principal objetivo colaborar no processo de formação dos artistas e curadores participantes, recém-surgidos no circuito artístico. Também proporciona ao público referencias...".
A curadoria em Feira de Santana e Vitoria da Conquista não conseguiu concentrar, nem atrair um número significativo, aglomerando artistas de outros segmentos. Participei de algumas reuniões. A surpresa veio depois, ao ler despretenciosamente o Mapeamento Nacional da Produção Emergente e o Diagnóstico das Regiões Mapeadas.
Vejam como desmerece a cultura de Feira de Santana em especial as artes visuais: "De modo geral, os artistas não têm uma orientação de formação ou informação em Feira de Santana. Os trabalhos são, em sua maioria, formal, conceitual ou tecnicamente imaturos. A produção na cidade está basicamente voltada para os salões regionais, que possibilitam a exposição de trabalhos e premiam alguns artistas. A Uefs não tem nenhum curso na área. Mantém apenas um curso de extensão em desenho, que beira o desenho técnico e não consegue avançar no campo artístico. Contíguo ao Cuca está o Museu Regional de Artes, que mantém um acervo de artistas locais e uma bela coleção de desenhos ingleses do século XIX".
Quanta desinformação e falta de precisão com a pesquisa! Quanto a Vitória da Conquista, o pouco caso continua comparado a Feira de Santana. Segundo o escritor Joao Ubaldo Ribeiro, "o segredo da verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias".
Começo defendendo o acervo do Museu Regional de Arte de Feira de Santana - a Coleção Inglesa não é formada por desenhos. São trinta trabalhos de artistas ingleses das décadas de 50 e 60 com reconhecimento internacional e é considerada uma das mais importantes da América do Sul, segundo o curador Marcus de Lontra Costa. Quando Assis Chateaubriand demonstrou que apesar desses artistas serem emergentes na época da sua aquisição (há mais de 50 anos), seus assessores conseguiram prever suas trajetórias de sucesso.
Quanto aos materiais esclareço com um exemplar de Pauline Vincent - esmalte sobre ferro de 102x102 cm. Outro de Brett Whiteley - óleo sobre placa de madeira de 168 x 178 cm, Michael Vaughan - óleo sobre Eucatex, 122 x 122 cm, Reynolds - óleo sobre tela, 122 x 122 cm, entre outros nomes igualmente conhecidos como Frank Auerbach, Bradley, William, Brooker, Joe Tilson, Derek Snow, alguns já pertenceram à importante Tate Gallery.
Quando dizem que a complementação do acervo é formada por artistas locais - limitando a qualidade do Museu e menosprezando os feirenses - cometem outra falta de conhecimento. Citaria Di Cavalcanti e Vicente do Rego Monteiro, incentivadores da Semana de Arte Moderna de 1922; Rescala, do Núcleo Bernardelli; dos nipo-brasileiros temos Takashi Fukushima, Manabu Mabe, Kazuo Wakabayashi, Tomie Ohtake, Flavio Shiró; dos baianos, então temos os inovadores do modernismo como Carlos Bastos, Mario Cravo Junior, Carybé, Genaro de Carvalho, Jenner Augusto, Calasans Neto, entre outros.
Dos brasileiros ilustres não poderia deixar de citar Orlando Theruz, Sérgio Camargo, Quirino da Silva, Henrique Osvald, Frans Krajberg, Hansen Bahia, Floriano Teixeira, Emanuel Araújo etc.
Quanto a artistas desatualizados e limitados na cidade é preciso relembrar que para chegar aos ditos emergentes é preciso conhecer a trajetória que vem desde 1967 com a inauguração do Museu Regional de Arte.
A Galeria Bonino, no Sul do País, enalteceu o grande Raimundo de Oliveira e posteriormente Carlo Barbosa. A décima nona Bienal Nacional em São Paulo abriu espaço para Juraci Dórea, o próprio Itaú Cultural em Novo Trajeto Para as Artes expôs o feirense Caetano Dias - estátuas de cerâmica de Santa Bárbara juntamente com Vanderlei Lopes. César Romero tem exposições em museus do mundo todo: Portugal, Espanha, França, Argentina, Cuba etc. Maristela Ribeiro mestra em Poéticas Visuais pela EBA-Ufba, recebeu o Prêmio Sacatar, artista selecionada pelo Programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2001. A colunista de arte Ligia Motta com especialização em Artes Visuais Cultura e Criação, entre outros incentivadores atualizados.
Poderia aqui continuar citando artistas locais como Herivelton Figueredo, Jorge Galeano, George Lima, Antônio Brasileiro, Rosalice Azevedo, Nanja, Gabriel Ferreira e muitos outros nesta linha de sugestões.
É logico que o assunto merece uma pesquisa mais detalhada, porém, fato que não cabe em uma coluna de jornal. Por fim, demonstro que o próprio Itaú Cultural destaca feirenses sem saber.
É pena que o belo acervo dos feirenses, sob a guarda do MRA, fechado há quase três anos e sem climatização, esteja apenas bem catalogado pelos museólogos. Resta saber se as futuras gerações se contentarão com a história do que foram.
Coluna "Universo das Artes", publicada no jornal "Folha do Estado" 

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