Por Gil Mário
Estimulado
em encontrar a lista dos 270 artistas pesquisados pela organização da 3ª Bienal
da Bahia (lista que não encontrei) deparei-me com um texto do Núcleo de Artes
Visuais do Itaú Cultural comentando a produção das Artes Visuais, pesquisadas
entre 2001/2003, mapeada nacionalmente e priorizando artistas emergentes. Segundo
a pesquisa, foram empregados cem curadores nas mais diversas regiões
brasileiras. Vou mostrar a seguir como as cidades de Feira de Santana e Vitoria
da Conquista foram citadas.
Em
reunião realizada em uma das salas do Centro de Cultura Amélio Amorim, uma
jovem aparentando recém-formada e pouco tato com o assunto em questão, ditava
as técnicas pelas quais os artistas poderiam apresentar ou desenvolver seus
trabalhos: fotografia, instalação, video-instalação, escultura, objeto, pintura,
gravura, desenho, site especifico (obras cujo o formato varia de acordo com o
local em que são montados), intervenções
ou no espaço expositivo e novas técnicas.
A
proposta escrita tem relevância, o erro está na desinformação sobre os fatos
citados a nível nacional. "O programa tem como principal objetivo colaborar no processo de formação dos artistas e curadores participantes, recém-surgidos no circuito artístico. Também proporciona ao público referencias...".
A curadoria em Feira de Santana e
Vitoria da Conquista não conseguiu concentrar, nem atrair um número
significativo, aglomerando artistas de outros segmentos. Participei de algumas
reuniões. A surpresa veio depois, ao ler despretenciosamente o Mapeamento
Nacional da Produção Emergente e o Diagnóstico das Regiões Mapeadas.
Vejam como desmerece a cultura de Feira de Santana em especial as artes
visuais: "De
modo geral, os artistas não têm uma orientação de formação ou informação em
Feira de Santana. Os trabalhos são, em sua maioria, formal, conceitual ou
tecnicamente imaturos. A produção na cidade está basicamente voltada para os
salões regionais, que possibilitam a exposição de trabalhos e premiam alguns
artistas. A Uefs não tem nenhum curso na área. Mantém apenas um curso de
extensão em desenho, que beira o desenho técnico e não consegue avançar no
campo artístico. Contíguo ao Cuca está o Museu Regional de Artes, que mantém um
acervo de artistas locais e uma bela coleção de desenhos ingleses do século XIX".
Quanta desinformação e falta de
precisão com a pesquisa! Quanto a Vitória da Conquista, o pouco caso continua
comparado a Feira de Santana. Segundo o escritor Joao Ubaldo Ribeiro, "o segredo
da verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias".
Começo defendendo o acervo do Museu
Regional de Arte de Feira de Santana - a Coleção Inglesa não é formada por
desenhos. São trinta trabalhos de artistas ingleses das décadas de 50 e 60 com
reconhecimento internacional e é considerada uma das mais importantes da
América do Sul, segundo o curador Marcus de Lontra Costa. Quando Assis
Chateaubriand demonstrou que apesar desses artistas serem emergentes na época
da sua aquisição (há mais de 50 anos), seus assessores conseguiram prever suas
trajetórias de sucesso.
Quanto aos materiais esclareço com
um exemplar de Pauline Vincent - esmalte sobre ferro de 102x102 cm. Outro de
Brett Whiteley - óleo sobre placa de madeira de 168 x 178 cm, Michael Vaughan -
óleo sobre Eucatex, 122 x 122 cm, Reynolds - óleo sobre tela, 122 x 122 cm,
entre outros nomes igualmente conhecidos como Frank Auerbach, Bradley, William,
Brooker, Joe Tilson, Derek Snow, alguns já pertenceram à importante Tate
Gallery.
Quando dizem que a complementação do
acervo é formada por artistas locais - limitando a qualidade do Museu e menosprezando
os feirenses - cometem outra falta de conhecimento. Citaria Di Cavalcanti e
Vicente do Rego Monteiro, incentivadores da Semana de Arte Moderna de 1922;
Rescala, do Núcleo
Bernardelli; dos nipo-brasileiros temos Takashi Fukushima, Manabu Mabe, Kazuo
Wakabayashi, Tomie Ohtake, Flavio Shiró; dos baianos, então temos os inovadores
do modernismo como Carlos Bastos, Mario Cravo Junior, Carybé, Genaro de
Carvalho, Jenner Augusto, Calasans Neto, entre outros.
Dos brasileiros ilustres não poderia deixar de citar Orlando Theruz,
Sérgio Camargo, Quirino da Silva, Henrique Osvald, Frans Krajberg, Hansen
Bahia, Floriano Teixeira, Emanuel Araújo etc.
Quanto a artistas desatualizados e limitados na cidade é preciso relembrar
que para chegar aos ditos emergentes é preciso conhecer a trajetória que vem
desde 1967 com a inauguração do Museu Regional de Arte.
A Galeria Bonino, no Sul do País, enalteceu o grande Raimundo de Oliveira e
posteriormente Carlo Barbosa. A décima nona Bienal Nacional em São Paulo abriu
espaço para Juraci Dórea, o próprio Itaú Cultural em Novo Trajeto Para as Artes
expôs o feirense Caetano Dias - estátuas de cerâmica de Santa Bárbara juntamente
com Vanderlei Lopes. César Romero tem exposições em museus do mundo todo:
Portugal, Espanha, França, Argentina, Cuba etc. Maristela Ribeiro mestra em
Poéticas Visuais pela EBA-Ufba, recebeu o Prêmio Sacatar, artista selecionada
pelo Programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2001. A colunista de arte
Ligia Motta com especialização em Artes Visuais Cultura e Criação, entre outros
incentivadores atualizados.
Poderia aqui continuar citando artistas locais como Herivelton Figueredo,
Jorge Galeano, George Lima, Antônio Brasileiro, Rosalice Azevedo, Nanja,
Gabriel Ferreira e muitos outros nesta linha de sugestões.
É logico que o assunto merece uma pesquisa mais detalhada, porém, fato que
não cabe em uma coluna de jornal. Por fim, demonstro que o próprio Itaú
Cultural destaca feirenses sem saber.
É pena que o belo acervo dos feirenses, sob a guarda do MRA, fechado há
quase três anos e sem climatização, esteja apenas bem catalogado pelos
museólogos. Resta saber se as futuras gerações se contentarão com a história do
que foram.
Coluna "Universo das Artes", publicada no jornal "Folha do Estado"
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