Por Rodrigo Constantino
É
um espanto a "lógica" de nossos colegas esquerdistas. Francisco Bosco, em sua coluna no GLOBO hoje, rebate o filósofo Luiz Felipe Pondé,
que questionou em sua coluna da Folha porque era permitido fazer humor
ridicularizando cristãos, mas não os ícones politicamente corretos.
A
resposta é impressionante: os cristãos podem ser alvos de chacota sem problema
pois são maioria em grupos fechados, e os gays, índios e negros devem ser
preservados pois são minorias. Acredite se quiser, foi exatamente isso que o
rapaz defendeu.
Ele
justifica, assim, abertamente, na maior cara de pau, aquilo que dá título ao
seu artigo: dois pesos e duas medidas, a marca registrada da esquerda. Para
Bosco, pelo visto, cristãos não são vítimas de nada, pois estão em maior
quantidade. Será que podemos, então, ridicularizar ao menos os esquerdistas, já
que estão claramente em maioria (vide a hegemonia na política)?
Eis
o que escreve o moço:
A diferença quantitativa ainda não é, entretanto, a resposta à
pergunta de Pondé, mas ajuda a chegar até ela. Minorias são discriminadas e
sofrem consequências reais por causa de preconceitos que têm em mentalidades
como as dos monoteísmos uma fonte privilegiada de formação. Não estou dizendo
que é a única, nem que, empiricamente, todo cristão é preconceituoso (pois há
outros fatores em jogo), mas sim que há uma relação estrutural, fulcral, entre
a crença em um princípio positivo do mundo (Deus) e os preconceitos contra tudo
o que os dogmas ligados a esse princípio condenam. Monoteísmos são mundos fechados. Mundos fechados
tendem a odiar tudo aquilo que contraria seus dogmas, pois a diferença coloca
em questão esse dogmas. É um problema esclarecido pela
psicanálise: o centro do eu, do imaginário de um monoteísta, corre sempre risco
de desabar diante da diferença. Ora, a agressividade está diretamente ligada
aos abalos no imaginário (que sustenta o eu dos sujeitos).
Ou seja, ele não quer acusar todo cristão de preconceituoso (o que
seria um preconceito?), mas logo depois afirma exatamente isso: que todo
cristão - na verdade, todo monoteísta - é um provável preconceituoso, pois
acredita em dogmas e sistemas fechados.
Será que o escritor não sabe que o socialismo, no qual ele
acredita, é uma seita religiosa, ainda que disfarçada sob o manto do
cientificismo? Será que não sabe que os socialistas defendem inúmeros dogmas?
Será que nunca aprendeu na história que os socialistas foram sempre os mais
raivosos e preconceituosos, a começar por Marx, e que sempre que chegaram ao
poder destruíram aqueles
que pensavam diferente?
Bosco
não tem conhecimento de que a agressividade retórica, o discurso de ódio, vem
justamente da esquerda "ateísta", que fomenta a luta de classes, que joga
empregados contra patrões, mulheres contra homens, gays contra heterossexuais,
negros contra brancos? Acho que a temporada na praia lendo Proust fritou os
últimos neurônios do defensor do Psol…
Eis
a síntese de sua explicação medonha:
A diferença entre fazer piada com minorias e maiorias não está
portanto na diferença quantitativa entre seus grupos, mas sim no fato de que as
maiorias em questão são estruturas mentais fechadas, que - apenas elas -
atentam contra o pleno direito à existência das minorias (que por isso, e não
pela dimensão quantitativa do grupo, são chamadas de minorias).
Não
posso deixar de pensar em Chesterton, quando disse que era bom tomar cuidado e
não ter a cabeça tão aberta a ponto de o cérebro cair dela. Acho que foi o que
aconteceu com nosso colega. Cristãos em maioria não querem o "pleno direito à
existência das minorias"? Esta é uma acusação e tanto! Não lembro de ver essa
maioria pregando o extermínio de gays ou negros, quiçá mulheres. Bosco poderia
citar a fonte?
O
malabarismo é tão incrível que maioria e minoria deixaram de ter ligação com
quantidade. As "minorias" podem ser… pasmem, uma maioria numérica! Sim, a "dimensão quantitativa" não é o mais relevante. Por isso, se somarmos gays,
negros, índios e mulheres, o que obviamente dá mais do que a maioria simples, o
grupo continua sendo minoria, alvo do preconceito do homem branco cristão
malvado. Diz Bosco:
Fazer piadas com minorias reforça o preconceito e o atentado a esses
direitos. Fazer piadas com maiorias é uma tentativa de esvaziar esse
preconceito, ridicularizando a mentalidade fechada que quer oprimir. Por isso
os "dois pesos e duas medidas" que Pondé denuncia são, ao contrário, justos:
uma vez que o mundo tem pesos e medidas diferentes, fazer justiça está em
adequar-se a essas diferenças, para repará-las.
E
eis que temos a piada revolucionária, justa, que ridiculariza esses opressores
da maioria cristã! Por que não fico surpreso com um socialista justificando os
dois pesos e duas medidas? Eles vivem disso! É um duplo padrão moral o tempo
todo. Bandidos do PT viram heróis, invasores de terra viram justiceiros,
ditadores viram estadistas, etc. Os fins justificam os meios nefastos. E haja
cara de pau:
Não acredito que "a moçadinha que quer salvar o Ártico", "o
movimento estudantil" ou "gente que vive falando mal da polícia mas treme de
medo e chama a polícia logo que sente sua propriedade privada em risco" moveriam
processos contra piadas que os tivessem como objeto. Discursos abertos são por
definição abertos a críticas. A que respondem com contracríticas, e não com
tentativas de calá-las.
Como
é que é? Em que mundo vive este sujeito? Então ele não sabe ainda que os mais
autoritários, que querem controlar imprensa, processar todos, impor a
uniformidade do politicamente correto, obliterar a linguagem, são justamente os "progressistas de mente aberta"? Falar que socialistas são abertos a críticas
foi a maior piada do século. Ainda bem que defendo o direito de piadas
para todos, e não apenas
para a "maioria" cristã.
Bosco
nem percebe sua gritante contradição. Começa o texto falando que as "minorias"
não devem ser alvo de piadas pejorativas, pois isso reforçaria o preconceito. E
termina alegando que essas "minorias" possuem mente aberta e não moveriam
processos, como fez Feliciano, por conta de piadas. Ainda bem que não tentam
calar os outros. Imaginem se tentassem…
Em
tempo: como Bosco parece não ter senso de humor, não é mesmo? Que coisa triste
a postura desses "progressistas". Só conseguem rir se Jesus estiver sendo
ridicularizado, mas não esboçam nem um sorriso tímido com uma piada de
bichinha. Parecem até o Feliciano com sinal invertido, provando que o socialismo
é uma seita fechada repleta de dogmas.
Fonte: "Coluna do Rodrigo Constantino"
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