Por Reinaldo Azevedo
O
cinegrafista Santiago Andrade está morto. Não vai comparecer à próxima
manifestação nem ao almoço de domingo. Quem o subtraiu da vida roubou também o
pai, o marido, o amigo e a liberdade de imprensa.
Eu
acuso Franklin Martins de ser o chefe de uma milícia oportunista contra a
imprensa livre.
Eu
acuso o governo federal e as estatais, que financiam páginas e veículos que
pregam o ódio ao jornalismo independente, de ser corresponsáveis por essa
morte.
Eu
acuso o ministro José Eduardo Cardozo de ser, querendo ou não, na prática, um
dos incitadores da desordem.
Eu
acuso o ministro Gilberto Carvalho de especular com o confronto de todos contra
todos.
Eu
acuso jornalistas de praticar a sujeição voluntária porque se calam sobre o
fato de que são caçados nas ruas pelos ditos "ativistas" e obrigados
a trabalhar clandestinamente.
Eu
acuso empresas e jornalistas de se render a milicianos das redes sociais e de
se preocupar mais com "o que elas vão dizer de nós" do que com o que
"nós temos de dizer a elas".
Eu
acuso uns e outros de se deixar pautar por dinossauros com um iPad nas patas.
No
começo deste mês, Franklin Martins participou de "um debate" com
gente que concorda com ele num aparelho sindical a serviço do PT. Malhou a
imprensa à vontade, num ambiente em que só o ressentimento superava a burrice.
Num dado momento, afirmou: "Há por parte da maioria dos órgãos de
comunicação uma oposição reiterada, sistemática, muitas vezes raivosa, contra o
governo; [isso] implica que o governo tenha de fazer a disputa política de modo
permanente; ou seja, não é de vez em quando; tem de fazer sempre."
Aí
está a origem do mal. A afirmação de Martins é mentirosa. Não existe essa
imprensa de oposição. É delírio autoritário de quem precisa inventar um
fantasma para endurecer o jogo com os "inimigos". Ele será o homem
forte da campanha de Dilma à reeleição e voltou a ser a mão que balança o berço
na Secom, que distribui a verba de publicidade aos linchadores.
Constrangido
por essa patrulha financiada por dinheiro público, que literalmente arma a mão
de delinquentes, o jornalismo se intimida, se esconde e se esquece de que não é
apenas uma caixa de ressonância de valores em disputa. Se nos cabe reportar a
ação dos que não toleram a democracia, é preciso evidenciar que o regime de
liberdades é inegociável e que os critérios com que se avalia a violência de
quem luta contra uma tirania não servem para medir a ação dos que protestam num
regime democrático.
Dois
dias depois da morte de Santiago, o moribundo MST organizou uma arruaça em
Brasília e feriu 30 policiais, oito deles com gravidade. A presidente decidiu
receber a turba pra conversar.
Eu
acuso a "red bloc" Dilma Rousseff de ser omissa, de abrigar a
violência e de promover a baderna.
PS
- Janio de Freitas especulou sobre a honorabilidade de Jonas Tadeu Nunes,
advogado dos assassinos de Santiago, porque já foi defensor de Natalino
Guimarães, chefe de milícia. Alguns figurões do direito defenderam os ladrões
do mensalão, e ninguém, com razão, duvidou da sua honra. O compromisso do
advogado é com o direito de defesa, não com o crime praticado. O colunista
referiu-se a mim –"um comentarista que já aparecia na rádio..."–
porque perguntei a Jonas, na Jovem Pan, se grupos de extrema esquerda financiavam
arruaceiros. Janio indaga se não poderiam ser de extrema direita. Se ela
existisse, se fosse organizada, se tivesse partido, se recebesse verbas do
fundo partidário, se tivesse suas "Sininhos" e seus piratas de olhos
cerúleos, talvez... Acontece que as antípodas direita e extrema-direita no
Brasil são substantivos abstratos, que só existem na mente meio paranoica das
esquerdas. Ah, sim: apareceu uma lista de financiadores dos "black
blocs". Todos de esquerda. Quod erat demonstrandum.
Fonte: Coluna na "Folha de
S.Paiulo"
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