APARELHO
CLANDESTINO - Romeu Tuma Junior: "Recebi ordens para produzir e
esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo" (Paulo Vitale)
O
ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior lançou nesta sexta-feira o
livro Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado (Editora Top Books, R$
69,90), no qual revela como foi articulada no governo federal uma máquina para
montar dossiês contra adversários. Pela natureza de suas atividades à frente da
Secretaria Nacional de Justiça, de 2007 a 2010, o delegado Tuma ouviu
confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país,
mas também experimentou um outro lado do poder - no qual, sem escrúpulos,
atores obscuros usam o governo para proteger os amigos e triturar aqueles que
são considerados inimigos. O conteúdo do livro foi antecipado na edição de VEJA
da semana passada, quando foi relatado como Tuma Junior recebeu ordens enquanto
esteve no cargo para "produzir e esquentar" dossiês contra
adversários do governo Lula. Em 2010, durante o segundo mandato de Luiz Inácio
Lula da Silva, ele foi demitido do cargo de secretário por suspeitas de
envolvimento com a chamada máfia chinesa. Em uma das revelações feitas no
livro, o delegado afirma que Lula foi informante da ditadura. Segundo escreveu
Tuma Junior, o então líder sindical repassava dados sobre greves sob o codinome
de "Barba" ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde
atuava seu pai, Romeu Tuma. O petista ficou preso em 1980 por 30 dias no Dops,
após greves no ABC. Ao dar informações ao governo militar, Lula garantiu
"privilégios" na prisão. O livro do delegado lista como privilégios
noites de sono em um sofá do Dops e uma visita à mãe, dona Lindu, que estava
gravemente doente. Procurado, o Instituto Lula informou na sexta-feira que o
ex-presidente não iria fazer comentários. Reputações - Boa parte do livro é dedicada
ao que o delegado chama de "assassinato de reputações". A obra afirma
que o então ministro da Justiça e hoje governador do Rio Grande do Sul, Tarso
Genro, o assediava para que deixasse vazar documentos que prejudicariam
adversários. Ele cita o caso do cartel que começou a ser investigado pela
Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal em 2008. Segundo Tuma Junior,
"começou a sair na imprensa que vinha informação da Alstom envolvendo os
tucanos". "Um dia chegou o documento da Suíça, em nome da secretaria.
Falei para não mandarem para o Ministério Público ainda: 'Lacrem o envelope,
tragam para mim e avisemos ao ministro, porque chegou a bomba dos documentos da
Alstom'", escreve. As informações tinham como alvo principal Robson
Marinho, ex-chefe da Casa Civil do governo tucano de Mário Covas. Eram
relatórios enviados voluntariamente pelo país europeu. O ex-secretário de
Justiça relata que os documentos, mesmo compartilhados por poucas pessoas,
acabaram vazando. Ele também critica a ação de parte dos promotores paulistas.
"É importante registrar: no Ministério Público de São Paulo existe uma ala
que sempre protegeu tucanos de alta plumagem". Tuma Júnior também acusa
outro ex-ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, de pedir que o governador de
Goiás, Marconi Perillo (PSDB), fosse investigado após dizer que Lula sabia do
mensalão. A ordem ao ministro, diz Tuma Júnior, teria sido dada por Gilberto
Carvalho, braço direito do ex-presidente. Carvalho afirma que vai processar o
delegado. O ex-secretário nacional de Justiça atribui a sua demissão do cargo,
em 2010, a uma "armação" do governo Lula. Em 5 de maio de 2010,
reportagens revelaram que a Polícia Federal tinha interceptado gravações e
e-mails ligando-o a Li Kwok Kwen, o Paulo Li, acusado de ser um dos chefes da
máfia chinesa em São Paulo. A quadrilha era suspeita de ser especializada em
contrabando de telefones celulares e venda de vistos permanentes. "A
pergunta que faço é: o que era mais importante para o Estadão noticiar? A foto
do 'chefe da máfia', um chinês, com o secretário Nacional de Justiça na China,
ou entregando um presente para o presidente Lula (...)? Eu respondo: é óbvio
que, se não fosse armação do governo com o jornal, se o indivíduo fosse mesmo
um mafioso, o Lula estaria na capa do Estadão e não eu", escreve,
referindo-se ao fato de o então suspeito de integrar a máfia chinesa aparecer
em várias fotos ao lado de autoridades da República.
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