Por Reinaldo Azevedo
Estarrecedora, para dizer pouco, a reportagem que o Jornal Nacional levou ao ar na noite
desta terça-feira sobre o hotel St. Peter, do qual José Dirceu quer ser "gerente administrativo". A história já cheirava mal por várias razões. Na
semana em que a carteira do mensaleiro presidiário foi assinada, o suposto dono
do hotel, Paulo Masci de Abreu, foi autorizado a transferir de Franco da Rocha
para a Paulista uma antena de uma emissora sua. A Anatel disse "não"; o governo
disse "sim". Tenho a certeza de que nem o repórter Vladimir Netto imaginava que
a coisa pudesse render tanto.
Resumo da obra para quem não leu o post
a respeito (ver home) ou não assistiu à reportagem:
1: O tal Paulo de Abreu não é o dono do hotel;
2: a dona, registrada no papel ao menos, é uma certa Truston International Inc, uma empresa com sede no Panamá;
3: o presidente da empresa, oficialmente, é um pobre-coitado panamenho chamado Eugenio Silva Ritter;
4: o repórter da Globo foi ao Panamá e encontrou o dito-cujo morando num bairro pobre. O "dono" de um hotel de luxo em Brasília, com mais de 400 quartos, estava lavando carro…
5: o homem confirmou constar como sócio de centenas de empresas, mas disse mesmo trabalhar para uma certa Morgan y Morgan;
6: o procurador da Morgan y Morgan no Brasil é Raul de Abreu, filho daquele que se apresentava como "patrão" de José Dirceu;
7: por telefone, Paulo de Abreu assegurou que Ritter era mesmo um empresário e que já havia se encontrado com ele…
8: ninguém na Moragn y Morgan quis dar entrevista;
9: Ritter, na verdade, consta como mero auxiliar de escritório da empresa;
10: a Morgan y Morgan se diz uma empresa especializada em fundar outras empresas e em administrá-las;
11: a legislação do Panamá permite que empresas mudem de mãos sem qualquer informação às autoridades; o país pode, assim, atrair capital sem que precise saber a origem do dinheiro;
12: ao saber que a reportagem estava sendo feita, Rosane Ribeiro, advogada de Paulo Masci de Abreu, afirmou que a sócia majoritária da Truston International era, na verdade, a nora dele, a empresária lara Severino Vargas.
1: O tal Paulo de Abreu não é o dono do hotel;
2: a dona, registrada no papel ao menos, é uma certa Truston International Inc, uma empresa com sede no Panamá;
3: o presidente da empresa, oficialmente, é um pobre-coitado panamenho chamado Eugenio Silva Ritter;
4: o repórter da Globo foi ao Panamá e encontrou o dito-cujo morando num bairro pobre. O "dono" de um hotel de luxo em Brasília, com mais de 400 quartos, estava lavando carro…
5: o homem confirmou constar como sócio de centenas de empresas, mas disse mesmo trabalhar para uma certa Morgan y Morgan;
6: o procurador da Morgan y Morgan no Brasil é Raul de Abreu, filho daquele que se apresentava como "patrão" de José Dirceu;
7: por telefone, Paulo de Abreu assegurou que Ritter era mesmo um empresário e que já havia se encontrado com ele…
8: ninguém na Moragn y Morgan quis dar entrevista;
9: Ritter, na verdade, consta como mero auxiliar de escritório da empresa;
10: a Morgan y Morgan se diz uma empresa especializada em fundar outras empresas e em administrá-las;
11: a legislação do Panamá permite que empresas mudem de mãos sem qualquer informação às autoridades; o país pode, assim, atrair capital sem que precise saber a origem do dinheiro;
12: ao saber que a reportagem estava sendo feita, Rosane Ribeiro, advogada de Paulo Masci de Abreu, afirmou que a sócia majoritária da Truston International era, na verdade, a nora dele, a empresária lara Severino Vargas.
Vamos ver
No debate que fizemos na VEJA.com, ironizei que, se o emprego de José Dirceu fosse para valer, ele finalmente teria a chance de trabalhar. Mas quê… É impressionante como não há uma só história envolvendo este senhor que seja reta, direta, transparente, sem caminhos oblíquos. E, não é preciso ser muito sagaz para concluir, sendo quem é, ele atrai para a sua órbita gente que tem caráter parecido.
No debate que fizemos na VEJA.com, ironizei que, se o emprego de José Dirceu fosse para valer, ele finalmente teria a chance de trabalhar. Mas quê… É impressionante como não há uma só história envolvendo este senhor que seja reta, direta, transparente, sem caminhos oblíquos. E, não é preciso ser muito sagaz para concluir, sendo quem é, ele atrai para a sua órbita gente que tem caráter parecido.
Vejam o roteiro que vai acima. A legislação vigente
no Panamá, obviamente, permite toda a sorte de lavagem de dinheiro. Inclusive - E NÃO FAÇO UMA ACUSAÇÃO, MAS APENAS UMA CONSTATAÇÃO LÓGICA - a do narcotráfico,
que é quem mais movimenta somas sem origem que possa ser declarada.
Ritter é sócio de tantas empresas que nem mesmo se
lembrava da tal Truston International Inc, a verdadeira dona do hotel St.
Peter. Como a legislação panamenha não cobra registro de quem vende o quê para
quem, a advogada de Paulo de Abreu agora diz que a nora de seu cliente é que
era a dona e que vendeu as ações para o sogro. Verdade ou mentira, isso, como
se vê, não tem registro nem no Panamá. Ninguém quer saber. Para todos os
efeitos, a dona da empresa no Brasil é a "Truston", que passou a pertencer a
Paulo de Abreu só depois da reportagem do Jornal Nacional: ele a teria comprado
da nora…
Se a empresa era mesmo de sua nora, por que Abreu
não contou isso ao repórter Vladimir Netto quando conversaram? Um advogado do
empresário acompanhava a conversa. Nada! Em vez disso, ele confirmou que a
Truston pertencia ao tal panamenho.
Um caso para José Eduardo Cardozo
Nesta terça, José Eduardo Cardozo prestou depoimento ao Senado. Disse que a sua obrigação é mandar investigar denúncias de irregularidades que chegam às suas mãos. Sei. Mesmo as anônimas. Por isso ele enviou aquele papelório contra os tucanos para a Polícia Federal.
Nesta terça, José Eduardo Cardozo prestou depoimento ao Senado. Disse que a sua obrigação é mandar investigar denúncias de irregularidades que chegam às suas mãos. Sei. Mesmo as anônimas. Por isso ele enviou aquele papelório contra os tucanos para a Polícia Federal.
Eis aí um caso apetitoso para o ministro, não? Nem
se trata de denúncia anônima. Os fatos gritam de maneira escandalosa. O
ministro vai mandar investigar os eventuais braços dessa tal Morgan y Morgan no
Brasil? Uma empresa com essas características pode ser uma verdadeira
lavanderia.
Estava na cara que algo de muito errado havia com
esse "emprego" de José Dirceu. Vamos ver, agora, se os órgãos competentes se
encarregam de investigar essa história, que tem cheiro de lambança.
Que vocação tem esse José Dirceu, não é mesmo!
Chega a ser espantoso. Tanto lugar para trabalhar! Tantas ongs que cuidam de
carentes, às quais ele poderia se dedicar. Tantas causas nobres há na praça, a
requerer o entendimento superior de um homem com a sua estatura. Mas quê… Ele
foi logo arrumar emprego num hotel, cujo sócio majoritário até ontem era um
pobretão panamenho, que confessa ser laranja de uma empresa que pode atuar
livremente num país cuja legislação permite a mais desbragada lavagem de
dinheiro.
O mínimo que o juiz da vara de execuções penais
pode fazer é dizer "não" ao emprego que Dirceu arrumou, apesar de sua carteira
assinada. Dado ao ambiente, isso certamente não faria bem à sua reeducação. Afinal
de contas, um dos objetivos da pena é ressocialização do preso, não é mesmo?
Não é bom que alguém como o Zé fique num ambiente
tão cheio de tentações.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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