Por Samuel Celestino
A eleição de ACM Neto para a
Prefeitura de Salvador tem variadas interpretações e, de igual modo,
consequências diversificadas. As interpretações dependem do analista, mas creio
ser possível relacionar três delas, com direto a divergências:
1. As greves dos professores
e dos policiais não ficaram restritas às categorias reivindicantes. Seus
reflexos atingiram a população de Salvador, como um todo, pela demora nas
negociações e pela resistência oferecida pelas lideranças dos grevistas. A dos
professores vinculada ao sindicalismo que tem ampla e livre movimentação no
governo Wagner. O PT pagou o preço.
2. O efeito dos comícios
realizados por Lula e por Dilma no segundo turno não encontrou resposta no
eleitorado pelo tom agressivo empregado por ambos e pela configuração, até, de
bullying; segundo alguns. Quando a campanha de Pelegrino entendeu o que
ocorria, com rejeição ao que aconteceu nos palanques, já havia divulgado à
larga o que os líderes do seu "time" disseram.
3. Nos debates realizados,
ACM Neto levou vantagem. Ele não é mais competente no confronto, mas é mais
desenvolto e ágil do que Nelson Pelegrino. Esteve mais firme.
Há outras interpretações que
dependem do observador porque, de uma maneira ou de outra, difícil é explicar resultado
de urnas e de pesquisas. Que, aliás, voltaram a errar, embora o Ibope tenha
chegado perto do resultado final na última consulta divulgada, no sábado que
antecedeu às eleições.
Essas considerações que faço
demonstram que o nível da consciência política do eleitorado de Salvador
evoluiu. Elege quando acha que deve, e surpreende no voto quando entende de
forma contrária. Foi o que aconteceu. Se certo estou, é um avanço resultante do
amadurecimento democrático do País.
Para Nelson Pelegrino a
derrota não foi apenas uma consequência natural de quem envereda pela carreira
política. Ele se preparou para a campanha; iniciou-a com, aproximadamente, um
ano de antecedência e seu sonho sempre foi governar a Capital, daí ter
insistido quatro vezes, todas sem êxito. Mas essa que perdeu para Neto esperava
ganhar e tinha razões para assim acreditar, firmemente, que conseguiria, porque
os ventos estavam ao seu favor. Imaginava-se que somente perderia se errasse
muito. Errou ele e seu partido, o governo, incluindo as lideranças que não
levaram em conta as mudanças e do sentimento que varre a população da cidade e
que, seguramente, aumentou depois da derrota sofrida pelo PT. É uma tendência
que se registrou aqui e em outras capitais, com a eleição de uma geração mais jovem.
Os mais antigos são chamados a abandonar o tablado diante da renovação
geracional.
As consequências do resultado
eleitoral passaram, primeiro, por Feira de Santana, segundo colégio eleitoral
da Bahia, onde o ex-prefeito e ex-deputado José Ronaldo obteve uma vitória
acachapante. Feira influencia os municípios vizinhos, enfim a região no seu
entorno. Espraiou por outros grandes e médios municípios, como Ilhéus, Itabuna,
Alagoinhas, Bonfim, Barreiras, e açoitou Vitória da Conquista, onde se esperava
que o PT ganhasse em primeiro turno, por ser um dos seus primeiros e
importantes redutos. O PT chegou a tremer no segundo turno. (O grifo é do Blog Demais)
Como resultado do acontecido
na Capital, não fica fora do contexto a sua capilarização, interior adentro,
nas eleições de 2014, que passam a ser uma incógnita muitíssimo maior do que se
imaginava. Não dá, agora, como seria possível fazer, se outro fosse o
resultado, iniciar conjecturas sobre candidaturas para as eleições gerais que
acontecem em dois anos. O PT fica na condição de cabra-cega. Pode ter nomes
falados, mas não possíveis candidatos, com menos intensidade, é certo. Ficou
difícil. O governador Jaques Wagner terá que agir com muita cautela política,
superando a sua inegável competência. E mais: terá que mudar a estrutura do seu
governo (presume-se) e procurar dar uma "meia lua inteira", coisa que se
aprende na capoeira.
Quais os nomes que o PT
poderia apresentar, num panorama visto deste final de ano? Citarei os que,
antes das eleições, eram lembrados: Ruy Costa, José Sérgio Gabrielli, Walter
Pinheiro e Otto Alencar. Dos quatro, qual teria condições de uma disputa para
ganhar? Qualquer analista diria Otto Alencar ou Walter Pinheiro, que se
empenhou na eleição de Salvador. Otto é líder e comandante do PSD, que tem vida
política própria e se saiu muito bem nas eleições, na Bahia e no País. O
problema é, mais uma vez o PT que, seguramente, não receberá bem tal
candidatura. O partido recusaria a condição de coadjuvante, de aliado. Deixaria
de ser o principal ator.
Está aí a principal
consequência para 2014 da eleição de ACM Neto: o governo do Estado não é
inalcançável. A oposição fica em condições de lançar candidato ao governo (não
citarei nomes) o que não teria se Pelegrino ganhasse. Assim, a partir de agora
eles vão pensar.
Wagner também refletirá. Com
a diferença de que, a partir de agora, ele tem um nó a desatar. Nó cego que
determina mudanças. E, ainda, correr contra o tempo, apresentando realizações
para reverter o que está aqui posto.
* Coluna de
Samuel Celestino publicada no jornal "A Tarde" nesta quinta-feira, 1º
2 comentários:
Pode ser tudo isto mesmo. Faz sentido. E se o DEM ajudar o partidão em 2014, na campanha prá governador, o PT deixará o governo do estado. Não haverá mensaleiro que convença o povo do contrário.
2014 a Bahia anseia por esse ano!
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