Por Deonísio da Silva
Dos EUA, a professora doutora Vania Winters, minha ex-colega num câmpus de concentração da pátria amada, jamais ex-amiga, me escreve para dizer que algumas escolas estão fazendo edições especiais de ROMEU E JULIETA para extirpar pênis, vagina e outras referências sexuais daquela e de outras obras do Shakespeare e de outros autores clássicos. Vocês nem imaginam o que pode rolar dessa palhaçada toda. Logo estarão queimando livros. Aqui e em outros lugares. Na Espanha, a gente pede "judías" no cardápio. E ninguém pensou em censurar os restaurantes! Todos entendem o contexto. E a massa à putanesca, prato que surgiu justamente para dar comida àquelas senhoras que habitavam as bordas da cidades, isto é, os bordéis – vão tirar dos cardápios e dos dicionários? Valha-nos, Deus!
Essas coisas sabemos como começam, começam sempre do mesmo jeito, mas não sabemos como terminam. É aí que mora o perigo. Daqui a pouco os retrógrados pegam alguém de grande popularidade e a personalidade que vai à mídia defender a censura aos livros que ele e seus asseclas nunca leram e jamais consultaram. Para quem nunca leu um livro, todos eles estão previamente e para sempre censurados. Pior. Vão pedir a condenação dos autores. Interessante que "nois pega o peixe" pode, dar às coisas os nomes que elas têm, não.
Registro também o silêncio dos aiatolás do idioma, na divertida síntese do Augusto Nunes. Os sacristãos do vale-tudo estão caladinhos! Mas nós estamos acostumados: para defender a liberdade e seus avanços, sempre estivemos sem eles. Depois que a luta que eles não travaram, foi vencida, eles aparecem para "outros" comentários! Clarice Lispector tem um livro que até no título já diz muito: ONDE ESTIVESTES DE NOITE? Onde estavam essas pessoas quando Wladimir Herzog morria torturado na prisão e queriam obrigar-nos a dizer e repetir que tinha sido suicídio?
A questão é sempre a mesma, seja para deixar livros circularem livremente, seja para deixar as pessoas viverem em paz: defender a liberdade! Inclusive defender a deles, de nos espinafrar nos conciliábulos que fazem às escuras. Venham para o proscênio, digam o que acham de proibir dicionários!
Fonte: "Direto no Ponto"
Dos EUA, a professora doutora Vania Winters, minha ex-colega num câmpus de concentração da pátria amada, jamais ex-amiga, me escreve para dizer que algumas escolas estão fazendo edições especiais de ROMEU E JULIETA para extirpar pênis, vagina e outras referências sexuais daquela e de outras obras do Shakespeare e de outros autores clássicos. Vocês nem imaginam o que pode rolar dessa palhaçada toda. Logo estarão queimando livros. Aqui e em outros lugares. Na Espanha, a gente pede "judías" no cardápio. E ninguém pensou em censurar os restaurantes! Todos entendem o contexto. E a massa à putanesca, prato que surgiu justamente para dar comida àquelas senhoras que habitavam as bordas da cidades, isto é, os bordéis – vão tirar dos cardápios e dos dicionários? Valha-nos, Deus!
Essas coisas sabemos como começam, começam sempre do mesmo jeito, mas não sabemos como terminam. É aí que mora o perigo. Daqui a pouco os retrógrados pegam alguém de grande popularidade e a personalidade que vai à mídia defender a censura aos livros que ele e seus asseclas nunca leram e jamais consultaram. Para quem nunca leu um livro, todos eles estão previamente e para sempre censurados. Pior. Vão pedir a condenação dos autores. Interessante que "nois pega o peixe" pode, dar às coisas os nomes que elas têm, não.
Registro também o silêncio dos aiatolás do idioma, na divertida síntese do Augusto Nunes. Os sacristãos do vale-tudo estão caladinhos! Mas nós estamos acostumados: para defender a liberdade e seus avanços, sempre estivemos sem eles. Depois que a luta que eles não travaram, foi vencida, eles aparecem para "outros" comentários! Clarice Lispector tem um livro que até no título já diz muito: ONDE ESTIVESTES DE NOITE? Onde estavam essas pessoas quando Wladimir Herzog morria torturado na prisão e queriam obrigar-nos a dizer e repetir que tinha sido suicídio?
A questão é sempre a mesma, seja para deixar livros circularem livremente, seja para deixar as pessoas viverem em paz: defender a liberdade! Inclusive defender a deles, de nos espinafrar nos conciliábulos que fazem às escuras. Venham para o proscênio, digam o que acham de proibir dicionários!
Fonte: "Direto no Ponto"
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