Por Reinaldo Azevedo
"Todos sabem que, do início ao fim da campanha (presidencial), eu apoiei o José Serra (PSDB). Eu perdi as eleições e, portanto, não me sinto à vontade para ser governo, mesmo nesse novo partido. Mas poderei, agora sem a camisa de força do Democratas, me manifestar favoravelmente em momentos que eu julgue adequada e correta a postura do governo".
A fala acima é do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que está fundando o PSD, o Partido Social Democrático, durante palestra a empresários da Câmara Portuguesa de Comércio.
Então vamos ver:
Kassab apoiou Serra "do começo ao fim da campanha" porque:
a) seu então partido, o Democratas, estava coligado ao PSDB;
b) teve, ele sabe disso, o apoio de Serra na Prefeitura.
Não se descarte a lealdade, mas era uma questão de obviedade.
Kassab precisa tomar cuidado para que o seu suposto "serrismo" não seja lembrado como um tributo da virtude ao vício, invertendo os termos de uma frase famosa. Porque serrista, então ele ficaria livre para aderir ao Governo Federal por bons propósitos. O que a alguns parecerá dialético, a outros, só esquizofrênico.
Em que momentos Kassab passou vontade de elogiar o Governo Federal e não o fez porque estava no DEM? Eu não acho, e já escrevi isso dezenas de vezes, que a direção do Democratas foi, ou está sendo, hábil na condução de sua crise. Mas esse discurso do prefeito de São Paulo, ainda que fosse verdadeiro - e não acho que seja -, peca pela inverossimilhança.
Políticos das mais variadas legendas, inclusive do PSDB e do próprio DEM, elogiaram o governo quando acharam necessário. O próprio deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), desafeto de Kassab, ainda na presidência do DEM, aplaudiu o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento e defendeu o mínimo de R$ 545,00. Kassab poderia ter feito o mesmo. Não fez porque não quis. O Democratas não o impediu.
Em outra circunstância, o prefeito deu a entender que deixou o DEM porque o partido teria se tornado excessivamente conservador, e ele, consta, não está nessa. Numa entrevista à VEJA, declarou-se de centro-esquerda. Pode ter-se tornado centro-esquerdista, sem dúvida. Tanto os que votaram nele quanto os que não votaram talvez não tivessem clareza disso.
Já escrevi dezenas de vezes que acho excessivas as críticas que se fazem a Kassab na imprensa paulista. Sempre que achei conveniente, eu o defendi. E defendo também o seu direito de criar um outro partido uma vez que sua permanência no DEM se mostrou inviável. No Rio, escrevi ontem, Índio da Costa não tinha como permanecer na legenda. Outras defecções haverá. Mas há um modo de fazer as coisas e há discursos que são e discursos que não são decorosos.
Afirmar que se está deixando o DEM por seu suposto oposicionismo sistemático ou seu suposto conservadorismo excessivo não é intelectualmente honesto e só contribui para satanizar, um pouco mais, a oposição - sem a qual não existe democracia.
Afinal, nas ditaduras, também é permitido ser do governo.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
"Todos sabem que, do início ao fim da campanha (presidencial), eu apoiei o José Serra (PSDB). Eu perdi as eleições e, portanto, não me sinto à vontade para ser governo, mesmo nesse novo partido. Mas poderei, agora sem a camisa de força do Democratas, me manifestar favoravelmente em momentos que eu julgue adequada e correta a postura do governo".
A fala acima é do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que está fundando o PSD, o Partido Social Democrático, durante palestra a empresários da Câmara Portuguesa de Comércio.
Então vamos ver:
Kassab apoiou Serra "do começo ao fim da campanha" porque:
a) seu então partido, o Democratas, estava coligado ao PSDB;
b) teve, ele sabe disso, o apoio de Serra na Prefeitura.
Não se descarte a lealdade, mas era uma questão de obviedade.
Kassab precisa tomar cuidado para que o seu suposto "serrismo" não seja lembrado como um tributo da virtude ao vício, invertendo os termos de uma frase famosa. Porque serrista, então ele ficaria livre para aderir ao Governo Federal por bons propósitos. O que a alguns parecerá dialético, a outros, só esquizofrênico.
Em que momentos Kassab passou vontade de elogiar o Governo Federal e não o fez porque estava no DEM? Eu não acho, e já escrevi isso dezenas de vezes, que a direção do Democratas foi, ou está sendo, hábil na condução de sua crise. Mas esse discurso do prefeito de São Paulo, ainda que fosse verdadeiro - e não acho que seja -, peca pela inverossimilhança.
Políticos das mais variadas legendas, inclusive do PSDB e do próprio DEM, elogiaram o governo quando acharam necessário. O próprio deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), desafeto de Kassab, ainda na presidência do DEM, aplaudiu o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento e defendeu o mínimo de R$ 545,00. Kassab poderia ter feito o mesmo. Não fez porque não quis. O Democratas não o impediu.
Em outra circunstância, o prefeito deu a entender que deixou o DEM porque o partido teria se tornado excessivamente conservador, e ele, consta, não está nessa. Numa entrevista à VEJA, declarou-se de centro-esquerda. Pode ter-se tornado centro-esquerdista, sem dúvida. Tanto os que votaram nele quanto os que não votaram talvez não tivessem clareza disso.
Já escrevi dezenas de vezes que acho excessivas as críticas que se fazem a Kassab na imprensa paulista. Sempre que achei conveniente, eu o defendi. E defendo também o seu direito de criar um outro partido uma vez que sua permanência no DEM se mostrou inviável. No Rio, escrevi ontem, Índio da Costa não tinha como permanecer na legenda. Outras defecções haverá. Mas há um modo de fazer as coisas e há discursos que são e discursos que não são decorosos.
Afirmar que se está deixando o DEM por seu suposto oposicionismo sistemático ou seu suposto conservadorismo excessivo não é intelectualmente honesto e só contribui para satanizar, um pouco mais, a oposição - sem a qual não existe democracia.
Afinal, nas ditaduras, também é permitido ser do governo.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Um comentário:
Quanto mais êle fala, mais se enrola. Kassab, assim como outros oportunistas de outras legendas já estavam preocupados dêsde que Lula ganhou tanta popularidade, Dilma vencendo, aquela debandada toda para os partidos de apoio ao govêrno. Se êle fôsse um parlamentar e não um prefeito, já teria mudado de partido a muito tempo. E não creio que seja por causa do DEM, mas porque apoiar Dilma pode lhe render mais apoios. Interêsse egoísta.
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