De Ricardo Noblat
Façam suas apostas, senhores: Dilma Rousseff esquentará a cadeira de presidente da República só para tentar devolvê-la a Lula daqui a quatro anos? Ou governará com o legítimo propósito de se reeleger?
No primeiro caso, continuará tutelada por quem de fato a elegeu. Cumprirá uma missão que lhe foi dada. No segundo, governará com autonomia.
Dilma comportou-se como uma boneca durante a campanha no primeiro e no segundo turno. Nada disse e nada fez que contrariasse Lula, seus mais ostensivos conselheiros políticos designados por ele (José Eduardo Dutra, presidente do PT, e Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda) e o responsável pelo marketing da campanha.
Compreensível. Dilma jamais disputara uma eleição. Jamais sonhara em ser candidata a presidente da República. Carecia de experiência. Foi uma aluna aplicada. E seria injusto não reconhecer que em vários momentos ela até surpreendeu positivamente os que a levavam pela mão.
Somente Lula e Dilma é que sabem qual foi a base do acerto feito entre eles.
Em conversa informal com um grupo de jornalistas durante a campanha, o ex-marido de Dilma fez questão de sublinhar mais de uma vez: “Ela é de uma fidelidade canina a Lula. Jamais o trairá”. Os poucos políticos que a conhecem bem assinam embaixo.
Dilma é mandona. Tem idéias próprias. É dada a explosões de raiva. Não se constrange em tratar mal seus subordinados.
A luta armada contra a ditadura militar de 1964 endureceu-lhe o espírito. Para sobreviver, ela não poderia falhar nem admitir que os outros falhassem. Respeito à hierarquia e disciplina são traços característicos dela.
É visível o desconforto de Lula com a proximidade do fim do seu mandato. Ele não esconde isso de ninguém.
Escondeu que ao se reeleger em 2006 passou a acalentar o projeto de mudar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Sondou auxiliares e governadores a respeito. Não encontrou apoio como esperava.
O terceiro mandato consecutivo tinha duas contra-indicações. A primeira: dividiria o país e custaria um bom pedaço da popularidade de Lula. O Congresso poderia aprová-lo, mas o Supremo Tribunal Federal talvez não.
A segunda contra-indicação: ele poria em risco a ambiciosa idéia do PT de governar por 20 anos - no mínimo.
Para que a idéia vingue seria necessário que entre Lula de 2002 a 2010 e Lula de 2014 a 2022 assumisse o cargo uma pessoa de confiança do PT e de Lula, agradecida por chegar à presidência e conformada em só governar por um mandato. A não ser que Lula mais adiante desista ou não possa voltar ao poder. Desistir é improvável.
Ao falar de Dilma, é tentador lembrar o general Eurico Gaspar Dutra, o 16º presidente da República do Brasil. Dutra foi ministro da Guerra de Getúlio Vargas, e também o líder do golpe militar que em 1945 derrubou Getúlio, ditador desde 1930. Em seguida, Dutra foi eleito presidente com o apoio de Getúlio.
Uma frase massificada pela campanha de Dutra ficou famosa e rendeu-lhe muitos votos: “Ele disse: Vote em Dutra”. No caso, “ele” era Getúlio.
Dutra governou um país em boa situação financeira - como Dilma governará. Tinha seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - o Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia).
Era um desenvolvimentista - como Dilma. O Estatuto do Petróleo foi elaborado no seu governo. A partir do Estatuto, o país começou a construir suas primeiras refinarias e a adquirir seus primeiros navios petroleiros.
Dutra pensou em angariar popularidade quando o Brasil sediou a Copa do Mundo de 1950. O campeão foi o Uruguai.
Outra frase de Getúlio marcou o final do governo Dutra: “Ele voltará”. No caso, “ele” era o próprio Getúlio, que sucedeu Dutra e governou entre 1951 e 1954. Mas essa é outra história.
Hoje, Dutra é mais conhecido como nome de estrada - a que liga Rio a São Paulo inaugurada durante seu governo.
Boa sorte, presidente Dilma!
No primeiro caso, continuará tutelada por quem de fato a elegeu. Cumprirá uma missão que lhe foi dada. No segundo, governará com autonomia.
Dilma comportou-se como uma boneca durante a campanha no primeiro e no segundo turno. Nada disse e nada fez que contrariasse Lula, seus mais ostensivos conselheiros políticos designados por ele (José Eduardo Dutra, presidente do PT, e Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda) e o responsável pelo marketing da campanha.
Compreensível. Dilma jamais disputara uma eleição. Jamais sonhara em ser candidata a presidente da República. Carecia de experiência. Foi uma aluna aplicada. E seria injusto não reconhecer que em vários momentos ela até surpreendeu positivamente os que a levavam pela mão.
Somente Lula e Dilma é que sabem qual foi a base do acerto feito entre eles.
Em conversa informal com um grupo de jornalistas durante a campanha, o ex-marido de Dilma fez questão de sublinhar mais de uma vez: “Ela é de uma fidelidade canina a Lula. Jamais o trairá”. Os poucos políticos que a conhecem bem assinam embaixo.
Dilma é mandona. Tem idéias próprias. É dada a explosões de raiva. Não se constrange em tratar mal seus subordinados.
A luta armada contra a ditadura militar de 1964 endureceu-lhe o espírito. Para sobreviver, ela não poderia falhar nem admitir que os outros falhassem. Respeito à hierarquia e disciplina são traços característicos dela.
É visível o desconforto de Lula com a proximidade do fim do seu mandato. Ele não esconde isso de ninguém.
Escondeu que ao se reeleger em 2006 passou a acalentar o projeto de mudar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Sondou auxiliares e governadores a respeito. Não encontrou apoio como esperava.
O terceiro mandato consecutivo tinha duas contra-indicações. A primeira: dividiria o país e custaria um bom pedaço da popularidade de Lula. O Congresso poderia aprová-lo, mas o Supremo Tribunal Federal talvez não.
A segunda contra-indicação: ele poria em risco a ambiciosa idéia do PT de governar por 20 anos - no mínimo.
Para que a idéia vingue seria necessário que entre Lula de 2002 a 2010 e Lula de 2014 a 2022 assumisse o cargo uma pessoa de confiança do PT e de Lula, agradecida por chegar à presidência e conformada em só governar por um mandato. A não ser que Lula mais adiante desista ou não possa voltar ao poder. Desistir é improvável.
Ao falar de Dilma, é tentador lembrar o general Eurico Gaspar Dutra, o 16º presidente da República do Brasil. Dutra foi ministro da Guerra de Getúlio Vargas, e também o líder do golpe militar que em 1945 derrubou Getúlio, ditador desde 1930. Em seguida, Dutra foi eleito presidente com o apoio de Getúlio.
Uma frase massificada pela campanha de Dutra ficou famosa e rendeu-lhe muitos votos: “Ele disse: Vote em Dutra”. No caso, “ele” era Getúlio.
Dutra governou um país em boa situação financeira - como Dilma governará. Tinha seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - o Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia).
Era um desenvolvimentista - como Dilma. O Estatuto do Petróleo foi elaborado no seu governo. A partir do Estatuto, o país começou a construir suas primeiras refinarias e a adquirir seus primeiros navios petroleiros.
Dutra pensou em angariar popularidade quando o Brasil sediou a Copa do Mundo de 1950. O campeão foi o Uruguai.
Outra frase de Getúlio marcou o final do governo Dutra: “Ele voltará”. No caso, “ele” era o próprio Getúlio, que sucedeu Dutra e governou entre 1951 e 1954. Mas essa é outra história.
Hoje, Dutra é mais conhecido como nome de estrada - a que liga Rio a São Paulo inaugurada durante seu governo.
Boa sorte, presidente Dilma!
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