De Reinaldo Azevedo
Dilma Rousseff, a presidente eleita, concedeu uma entrevista há pouco ao Jornal Nacional. Além da conversão ao catolicismo, converteu-se também à liberdade de imprensa, pela qual demonstrou apreço irrestrito. William Bonner poderia ter perguntando, mas talvez seja mesmo um pouco cedo, se ela vai, então, arquivar no lixo as “conclusões” da Confecom, de Franklin Martins. Teria a coisa ficado implícita?
O “Pelo Sinal” católico ela ainda não aprendeu a fazer. Vamos ver se aprende com mais rapidez os rituais da imprensa livre. Já defendeu a legalização do aborto e depois disse ter mudado de idéia. Como ministra chefe da Casa Civil, ajudou a elaborar o Programa Nacional-Socialista dos Direitos Humanos, que extinguia a liberdade de imprensa, e enviou ao TSE um programa de governo, devidamente rubricado, que fazia o mesmo. Das duas uma: ou mudou de idéia também nesse caso, e isso é boa notícia, ou acha que não estava defendendo censura antes, e isso é uma má notícia.
O primeiro tema sobre a qual foi convidada a perorar disse respeito a seu passado na luta armada - com o testemunho de um “companheiro” que sustentou que ela mesma nunca pegou no berro. Pode ser. Jacob Gorender, historiador de esquerda e autor do livro Combate nas Trevas, afirma que o Colina (Comando de Libertação Nacional), um dos grupos a que Dilma pertenceu, foi um dos poucos a fazer a defesa clara do terrorismo. Talvez ela pertencesse à facção lítero-musical do grupo, que organizava chás beneficentes com as senhoras respeitáveis da sociedade mineira. Enquanto alguns pegavam na metranca, outros pegavam no cabo da xícara. Depois ela fez parte da VAR-Palmares, uma organização também com alto índice de letalidade - pelo bem da humanidade. Mas ela resistiu. Que bom! Nem queria falar sobre isso propriamente. Veio só a título de ilustração. O que me chamou a atenção foi outra coisa.
Dilma, claro!, mudou porque o Brasil “se transformou” numa grande democracia. “Se transformou”? Geração espontânea? Ah, não! Foi a construção de muita gente - na contramão das apostas das companheira, que iam no outro sentido. Segundo ela, a sua geração “não imaginava” que isso pudesse acontecer. Pois é. Mas houve os que imaginaram. E foram devidamente combatidos por aqueles que pensavam como Dilma.
Ainda fazendo digressões sobre os sonhos de sua geração, afirmou que eles só se cumpriram, calculem vocês, com o governo do presidente Lula, quando o Brasil cresceu e distribuiu renda. Há aí uma dupla empulhação. Antes de Lula, a economia brasileira saiu da lama foi mesmo no período Itamar/Fernando Henrique Cardoso. O Real distribuiu renda, sim, e tirou pelo menos 15 milhões da miséria. E a outra mistificação? A turma de Dilma nunca quis democracia ou distribuir renda; queria ditadura comunista. Por que escrevo essas coisas? Como se nota, não é para que a petista não seja eleita. Escrevo porque uma presidente da República tem a obrigação de dizer a verdade - e o mesmo vale para este blog.
Surrealismo
A expressão máxima do surrealismo viria em seguida, quando Dilma, imaginem, admitiu que os primeiros anos da redemocratização foram muito difíceis por causa da inflação, muito mesmo… E se falou depois de como foi bom ter superado aquele tempo. E ela não disse uma vírgula sobre o Real, citado de passagem por William Bonner. Dilma não precisou corrigir a sua fala de havia segundos, quando afirmou que o “sonho” do Brasil justo só foi vivido mesmo com… Lula!
Na seqüência, como uma grande homenagem, certamente involuntária, à ironia, vimos o presidente em palanque a afirmar que o eleitor não permitiria que o Brasil voltasse ao passado. Qual passado? O da inflação descontrolada de Sarney? Não, né? Sarney hoje é Lula. O do destrambelhamento colorido? Não, né? Collor hoje é Lula. O Brasil não voltaria ao passado de FHC, aquele do Plano Real, que consertou a economia e pôs fim justamente à inflação.
Mais uma vez, provocada por Bonner, voltou a fazer o elogio da imprensa livre, de que aquela entrevista, acordou-se ali, seria exemplar. Que bom! Que Dilma a defenda mesmo, não?, inclusive quando chegar a hora de ser confrontada com suas contradições, um “risco” jornalístico a que também autoridades, e não só candidatos, devem ser expostos.
O “Pelo Sinal” católico ela ainda não aprendeu a fazer. Vamos ver se aprende com mais rapidez os rituais da imprensa livre. Já defendeu a legalização do aborto e depois disse ter mudado de idéia. Como ministra chefe da Casa Civil, ajudou a elaborar o Programa Nacional-Socialista dos Direitos Humanos, que extinguia a liberdade de imprensa, e enviou ao TSE um programa de governo, devidamente rubricado, que fazia o mesmo. Das duas uma: ou mudou de idéia também nesse caso, e isso é boa notícia, ou acha que não estava defendendo censura antes, e isso é uma má notícia.
O primeiro tema sobre a qual foi convidada a perorar disse respeito a seu passado na luta armada - com o testemunho de um “companheiro” que sustentou que ela mesma nunca pegou no berro. Pode ser. Jacob Gorender, historiador de esquerda e autor do livro Combate nas Trevas, afirma que o Colina (Comando de Libertação Nacional), um dos grupos a que Dilma pertenceu, foi um dos poucos a fazer a defesa clara do terrorismo. Talvez ela pertencesse à facção lítero-musical do grupo, que organizava chás beneficentes com as senhoras respeitáveis da sociedade mineira. Enquanto alguns pegavam na metranca, outros pegavam no cabo da xícara. Depois ela fez parte da VAR-Palmares, uma organização também com alto índice de letalidade - pelo bem da humanidade. Mas ela resistiu. Que bom! Nem queria falar sobre isso propriamente. Veio só a título de ilustração. O que me chamou a atenção foi outra coisa.
Dilma, claro!, mudou porque o Brasil “se transformou” numa grande democracia. “Se transformou”? Geração espontânea? Ah, não! Foi a construção de muita gente - na contramão das apostas das companheira, que iam no outro sentido. Segundo ela, a sua geração “não imaginava” que isso pudesse acontecer. Pois é. Mas houve os que imaginaram. E foram devidamente combatidos por aqueles que pensavam como Dilma.
Ainda fazendo digressões sobre os sonhos de sua geração, afirmou que eles só se cumpriram, calculem vocês, com o governo do presidente Lula, quando o Brasil cresceu e distribuiu renda. Há aí uma dupla empulhação. Antes de Lula, a economia brasileira saiu da lama foi mesmo no período Itamar/Fernando Henrique Cardoso. O Real distribuiu renda, sim, e tirou pelo menos 15 milhões da miséria. E a outra mistificação? A turma de Dilma nunca quis democracia ou distribuir renda; queria ditadura comunista. Por que escrevo essas coisas? Como se nota, não é para que a petista não seja eleita. Escrevo porque uma presidente da República tem a obrigação de dizer a verdade - e o mesmo vale para este blog.
Surrealismo
A expressão máxima do surrealismo viria em seguida, quando Dilma, imaginem, admitiu que os primeiros anos da redemocratização foram muito difíceis por causa da inflação, muito mesmo… E se falou depois de como foi bom ter superado aquele tempo. E ela não disse uma vírgula sobre o Real, citado de passagem por William Bonner. Dilma não precisou corrigir a sua fala de havia segundos, quando afirmou que o “sonho” do Brasil justo só foi vivido mesmo com… Lula!
Na seqüência, como uma grande homenagem, certamente involuntária, à ironia, vimos o presidente em palanque a afirmar que o eleitor não permitiria que o Brasil voltasse ao passado. Qual passado? O da inflação descontrolada de Sarney? Não, né? Sarney hoje é Lula. O do destrambelhamento colorido? Não, né? Collor hoje é Lula. O Brasil não voltaria ao passado de FHC, aquele do Plano Real, que consertou a economia e pôs fim justamente à inflação.
Mais uma vez, provocada por Bonner, voltou a fazer o elogio da imprensa livre, de que aquela entrevista, acordou-se ali, seria exemplar. Que bom! Que Dilma a defenda mesmo, não?, inclusive quando chegar a hora de ser confrontada com suas contradições, um “risco” jornalístico a que também autoridades, e não só candidatos, devem ser expostos.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Um comentário:
O que mata é a ingratidão dessa gente, francamente!
Eu, sinceramente, não espero nenhum gesto no sentido de que reconheçam qualquer mérito da turma de FHC. São muito egoístas prá isto.
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