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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Entre o erro e a torcida

Por José Augusto Guilhon Albuquerque

As pesquisas eleitorais frequentemente servem às torcidas; caso contrário, as candidaturas não gastariam verdadeira fortuna com elas

Corria o ano da graça de 1985 e São Paulo, como as demais capitais, teve sua primeira eleição direta para prefeito, após longos anos de nomeação por um governador preposto do regime militar.
A disputa estava polarizada entre Jânio Quadros, com o apoio popular e das elites conservadoras, e Fernando Henrique Cardoso, de longe o favorito das elites progressistas e dos intelectuais.
No dia da eleição, o desfecho era imprevisível, a não ser para as respectivas torcidas. O Datafolha fez, naquele dia, pesquisa de boca de urna - pelo que me lembro, inovação ousada - que foi um desastre em todos os sentidos da palavra.
O resultado da pesquisa de boca de urna foi anunciado praticamente no momento em que as urnas se fechavam, dando FHC como vitorioso por poucos pontos. Mas, no final da noite, as urnas deram Jânio, por uma diferença de três pontos.
Ruim para o Datafolha e para aqueles que consideram que a eleição de Jânio contribuiu para aguçar as divisões internas entre as forças políticas que conduziram o processo de redemocratização, um desastre de grandes proporções.
Tenho em mãos o artigo publicado na Folha por Mauro Paulino, diretor do Datafolha ("Pesquisas não servem às torcidas", 10/8, Poder).
Acho que elas podem servir, sim, e frequentemente servem, senão as candidaturas não gastariam fortunas com elas. Mas não deviam, por isso deixo claro que sou eleitor do PSDB, como fui do MDB e do PMDB a seu tempo. Contudo, parafraseando Aristóteles, sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da verdade.
O Datafolha errou, em 1985, ao desconsiderar os eleitores que diziam, na boca da urna, não saber em quem votariam.
Com isso, sem divulgar, além dos votos expressos nos dois candidatos - que dariam a vitória a Fernando Henrique -, também a porcentagem de votos não declarados que, por ser superior à diferença entre os dois, deixava a eleição impossível de ser prevista, o Datafolha tratou "não sei" como sinônimo de voto em branco ou nulo.
A hipótese mais viável que surgiu na época foi a de que uma parte significativa dos "indecisos" na boca de urna estava, na verdade, mais inclinada a votar em Jânio. Quanto à hipótese de que os indecisos majoritariamente votassem nulo ou em branco, não ocorreu em 1985 nem tem sustentação na história das eleições.
No sábado, 21, ao decretar no alto da primeira página que Dilma "fica a três pontos da vitória no primeiro turno", a Folha comete o mesmo erro, pois sua conta também descarta, como brancos e nulos, os que "não sabem" em quem vão votar, diminuindo em quase dez pontos o total de votos válidos e aumentando, em consequência, o percentual atribuído à candidata.
O erro do Datafolha em 1985 foi compreensível. Agora, ao reincidir no erro, atribuindo a vitória antecipada a uma candidatura cuja preferência está sendo estimada em cerca de 40%, num momento em que a campanha para valer nem sequer começou e a quase dois meses da eleição, a Folha precisa se explicar melhor, sob pena de poder ser acusada de aderir à torcida.
Enviado por Sérgio Oliveira, de Charqueadas-RS

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