Comentário de Ricardo Noblat
O que é que Maria levou com a nossa intervenção na crise de Honduras?
Publicações internacionais de peso disseram que o Brasil ampliou sua presença na América Central em detrimento, por exemplo, do México. E que atuou de forma mais ativa do que os Estados Unidos.
Bem, mas isso foi antes do desfecho da crise. Ela acabou sob o signo exclusivo de Barack Obama.
A se acreditar em Lula, entramos na crise meio sem querer quando Manoel Zelaya, o presidente deposto de Honduras, materializou-se há pouco mais de 40 dias dentro dos jardins da embaixada brasileira em Tegucigalpa.
De nada sabíamos, juram Lula e seus porta-vozes. Hugo Chávez, presidente da Venezuela e mentor de Zelaya, sabia de tudo. E providenciara os meios para que Zelaya batesse de repente à nossa porta.
Como negar o que Zelaya pedia? Que era bem o quê? Asilo não era.
Zelaya havia sido deportado para a Costa Rica pelos militares no dia 28 de junho passado tão logo fora deposto pela Suprema Corte de Justiça.
Zelaya pediu abrigo ao governo brasileiro. Se tivesse pedido asilo entraria para a História como o deportado que preferiu correr o risco de voltar ao seu país para de lá, mais tarde, escafeder-se na condição de asilado. Uma piada!
E Zelaya também pediu ampla liberdade para usar a embaixada como escritório político. Se não pediu conseguiu na marra.
Ali comandou reuniões e concedeu entrevistas – o que seria proibido a um asilado. Dali emitiu ordens para que seus partidários se manifestassem contra o governo de fato de Honduras presidido por Roberto Micheletti, eleito por votação unânime do Congresso.
Na verdade, o governo Lula acreditou que Zelaya tinha mais força política do que demonstrou. E acreditou também que Micheletti não se manteria por muito tempo no cargo enfrentando sanções econômicas e a condenação da comunidade internacional.
Enganou-se duas vezes.
A derrubada de Zelaya foi legal, segundo a Constituição. Afinal ele tentara mudá-la para introduzir a reeleição de presidente. A deportação é que foi ilegal.
Micheletti resistiu mais do que se supunha. E o governo Barack Obama pressionou menos do que se esperava.
São poderosos os interesses americanos em Honduras. Um dos mais pobres países do mundo importa dos Estados Unidos 70% do que consome.
De todo modo era preciso encontrar uma saída que salvasse muitas faces – a americana, influente no pedaço, a do resto do mundo e a da democracia hondurenha, por suposto.
O tempo e o calendário eleitoral contribuíram para que se chegasse ao acordo anunciado na última sexta-feira. Está marcada para o próximo dia 29 a eleição do sucessor de Zelaya. Que tomará posse no dia 27 de janeiro.
Manda a Constituição que a partir de hoje o comando das Forças Armadas passe a obedecer à Suprema Corte de Justiça. O Congresso decidirá a sorte de Zelaya ainda esta semana.
O acordo prevê que o substituto de Micheletti comande um governo de união nacional até que o futuro presidente instale o seu. Mas não prevê que o substituto seja Zelaya.
Micheletti e Zelaya pertencem ao Partido Liberal, que está rachado quanto ao retorno de Zelaya ao cargo. Ele só se dará se quiser o Partido Nacional, chefiado por Porfírio Lobo.
Há quatro anos, Lobo perdeu a eleição para Zelaya por míseros sete mil votos. Achou que foi garfado, mas preferiu se calar. É novamente candidato – e dessa vez deve vencer.
Foi com ele que se reuniu Thomas Shannon, subsecretário de Estado americano para a América Latina, antes de anunciar o fim da crise hondurenha.
Shannon arrancou de Lobo a promessa de que os liberais votarão a favor da restituição de Zelaya.
Por sua vez, Lobo arrancou de Shannon a garantia de que os Estados Unidos reconhecerão a legitimidade das eleições hondurenhas quer Zelaya seja devolvido ao poder ou não.
Na tarde do último sábado, o deputado Ramón Velásques, secretário do Congresso, deu uma medida da “boa vontade” dos seus colegas com Zelaya.
“Se nossa decisão for a de nomear um substituto para Zelaya na presidência, não vejo razão para que seja ele”, argumentou. “A restituição de Zelaya é uma questão jurídica e o Congresso é uma instituição eminentemente política. Precisamos de um parecer da Suprema Corte”.
O que foi mesmo que Maria levou com a crise de Honduras?
Pouca coisa.
Revelou-se uma generosa hospedeira.
Ganhou espaço favorável na mídia internacional.
Meteu-se de forma acintosa nos assuntos internos de outro país, o que fere antigos tratados.
Na hora H, não foi ouvida nem cheirada para a confecção do acordo que pôs fim à crise.
Publicações internacionais de peso disseram que o Brasil ampliou sua presença na América Central em detrimento, por exemplo, do México. E que atuou de forma mais ativa do que os Estados Unidos.
Bem, mas isso foi antes do desfecho da crise. Ela acabou sob o signo exclusivo de Barack Obama.
A se acreditar em Lula, entramos na crise meio sem querer quando Manoel Zelaya, o presidente deposto de Honduras, materializou-se há pouco mais de 40 dias dentro dos jardins da embaixada brasileira em Tegucigalpa.
De nada sabíamos, juram Lula e seus porta-vozes. Hugo Chávez, presidente da Venezuela e mentor de Zelaya, sabia de tudo. E providenciara os meios para que Zelaya batesse de repente à nossa porta.
Como negar o que Zelaya pedia? Que era bem o quê? Asilo não era.
Zelaya havia sido deportado para a Costa Rica pelos militares no dia 28 de junho passado tão logo fora deposto pela Suprema Corte de Justiça.
Zelaya pediu abrigo ao governo brasileiro. Se tivesse pedido asilo entraria para a História como o deportado que preferiu correr o risco de voltar ao seu país para de lá, mais tarde, escafeder-se na condição de asilado. Uma piada!
E Zelaya também pediu ampla liberdade para usar a embaixada como escritório político. Se não pediu conseguiu na marra.
Ali comandou reuniões e concedeu entrevistas – o que seria proibido a um asilado. Dali emitiu ordens para que seus partidários se manifestassem contra o governo de fato de Honduras presidido por Roberto Micheletti, eleito por votação unânime do Congresso.
Na verdade, o governo Lula acreditou que Zelaya tinha mais força política do que demonstrou. E acreditou também que Micheletti não se manteria por muito tempo no cargo enfrentando sanções econômicas e a condenação da comunidade internacional.
Enganou-se duas vezes.
A derrubada de Zelaya foi legal, segundo a Constituição. Afinal ele tentara mudá-la para introduzir a reeleição de presidente. A deportação é que foi ilegal.
Micheletti resistiu mais do que se supunha. E o governo Barack Obama pressionou menos do que se esperava.
São poderosos os interesses americanos em Honduras. Um dos mais pobres países do mundo importa dos Estados Unidos 70% do que consome.
De todo modo era preciso encontrar uma saída que salvasse muitas faces – a americana, influente no pedaço, a do resto do mundo e a da democracia hondurenha, por suposto.
O tempo e o calendário eleitoral contribuíram para que se chegasse ao acordo anunciado na última sexta-feira. Está marcada para o próximo dia 29 a eleição do sucessor de Zelaya. Que tomará posse no dia 27 de janeiro.
Manda a Constituição que a partir de hoje o comando das Forças Armadas passe a obedecer à Suprema Corte de Justiça. O Congresso decidirá a sorte de Zelaya ainda esta semana.
O acordo prevê que o substituto de Micheletti comande um governo de união nacional até que o futuro presidente instale o seu. Mas não prevê que o substituto seja Zelaya.
Micheletti e Zelaya pertencem ao Partido Liberal, que está rachado quanto ao retorno de Zelaya ao cargo. Ele só se dará se quiser o Partido Nacional, chefiado por Porfírio Lobo.
Há quatro anos, Lobo perdeu a eleição para Zelaya por míseros sete mil votos. Achou que foi garfado, mas preferiu se calar. É novamente candidato – e dessa vez deve vencer.
Foi com ele que se reuniu Thomas Shannon, subsecretário de Estado americano para a América Latina, antes de anunciar o fim da crise hondurenha.
Shannon arrancou de Lobo a promessa de que os liberais votarão a favor da restituição de Zelaya.
Por sua vez, Lobo arrancou de Shannon a garantia de que os Estados Unidos reconhecerão a legitimidade das eleições hondurenhas quer Zelaya seja devolvido ao poder ou não.
Na tarde do último sábado, o deputado Ramón Velásques, secretário do Congresso, deu uma medida da “boa vontade” dos seus colegas com Zelaya.
“Se nossa decisão for a de nomear um substituto para Zelaya na presidência, não vejo razão para que seja ele”, argumentou. “A restituição de Zelaya é uma questão jurídica e o Congresso é uma instituição eminentemente política. Precisamos de um parecer da Suprema Corte”.
O que foi mesmo que Maria levou com a crise de Honduras?
Pouca coisa.
Revelou-se uma generosa hospedeira.
Ganhou espaço favorável na mídia internacional.
Meteu-se de forma acintosa nos assuntos internos de outro país, o que fere antigos tratados.
Na hora H, não foi ouvida nem cheirada para a confecção do acordo que pôs fim à crise.
2 comentários:
Resumindo ainda mais, Maria devia ter enchido a boca d'água e não se metido nos embróglios dos outros, da mesma forma que sempre foi sugerido à nossa oposição, quando tentava defender nossa paz, nosso sossêgo e nossa grana em relação aos "amigos" bolivarianos do petralhão.
Eu quis dizer "imbróglios".
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