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domingo, 15 de fevereiro de 2009

O futuro dos jornais

Por Antonio Tozzi
A reportagem de capa desta semana da revista "Time" aborda exatamente os tempos negros vividos atualmente pelos jornais. Evidentemente, o autor da análise pessimista, Walter Isaacson, ex-editor da própria "Time", aborda a questão dos jornais americanos, apresentando números que comprovam a queda de faturamento das empresas de mídia, enquanto se constata o aumento do número de leitores - sobretudo entre o público jovem que, normalmente, rejeitava o formato de jornal impresso.
A questão é saber como as empresas poderão sair desta sinuca em que se encontram. Ao mesmo tempo que a tecnologia democratizou o acesso à mídia global, dificultou os mecanismos de faturamento. Ou seja, pode-se ler publicações de países do mundo inteiro num simples clicar de botão - com exceção feita, infelizmente, àqueles países governados por regimes ditatoriais que impedem o livre acesso à informação.
Para estes governantes, informação válida apenas aquela que lhes agrada. Desnecessário citar os nomes dos países, os mesmos de sempre, que querem dominar as mentes dos seus povos controlando a informação, caso de China, Coréia do Norte, Cuba, Birmânia etc.
Mas, voltando ao mundo real, o jornalismo, segundo Isaacson, está seriamente ameaçado. Tanto a profissão de jornalista, porque, em breve, as empresas não mais poderão pagar salários justos a seus profissionais, como o próprio jornalismo, que pode perder força, como instituição, pois ficará rendido completamente ao poder dos anunciantes, uma vez que as outras fontes de renda praticamente estão deixando de existir: venda em banca e assinatura. Ora, por que alguém vai assinar uma publicação se pode lê-la - e outras também - on-line sem pagar um centavo por isto?
Para piorar a situação, os anúncios em webpages e portais não estão revelando-se a fonte de receita que os provedores de conteúdo esperavam. E a crise econômica veio somente agudizar e tornar público a agonia das empresas de mídia.
Além dos tradicionais (e cruéis) cortes de pessoal, algumas empresas estão tentando saídas criativas para superar a crise e não perecer. Aqui, no sul da Flórida, dois jornais concorrentes - "Sun Sentinel" e "The Palm Beach Post" - uniram suas equipes de entrega para otimizar os custos. Em vez de dois entregadores de jornais, as empresas estão empregando apenas um para fazer o mesmo trabalho. Isto, é claro, cortou empregos neste setor.
O "Christian Science Monitor" e o "Detroit Free Press" decidiram suspender suas edições impressas e continuam publicando conteúdo on-line. No Brasil, a "Tribuna da Imprensa", do Rio, e a "Gazeta Esportiva", de São Paulo - um dos mais tradicionais jornais de esporte do país - também adotaram esta postura. Isaacson admite ter sido um erro a liberação gratuita de conteúdo e sugere, pelo menos, um pagamento mínimo, do tipo assinatura eletrônica via pay pal. Na opinião dele, mesmo que fosse um centavo, a quantidade gerada possibilitaria uma boa arrecadação para as publicações, como, aliás, faz atualmente o "Wall Street Journal".
Na mesma edição, porém, uma matéria de Josh Quittner é mais pragmática. O autor não acredita que tentar cobrar por aquilo que já é gratuito surtirá qualquer efeito junto aos usuários, até porque sempre haverá alguém fornecendo conteúdo grátis e quebrando a corrente.
Em vez de culpar a tecnologia, ele propõe fazer da tecnologia uma aliada. Por isto, defende a adoção de e-readers, instrumentos que transformam a leitura eletrônica um prazer, eliminando as torturantes chamadas de e-mails, messengers pop-ups e afins, que apenas irritam quem está interessado em ler um artigo.
A verdade é que, mais do que nunca, as empresas de mídia precisam unir-se e buscar alternativas para sobreviver - e lucrar, a fim de garantir emprego para os jornalistas e demais funcionários que trabalham no setor. O duro mesmo será convencer alguém a pagar por aquilo que já recebe de graça, como frisou Quittner.
A pergunta que fica é a seguinte: você pagaria para ter acesso a conteúdo ou simplesmente manteria os canais abertos, sob risco de ver as companhias jornalísticas desaparecerem?
* Jornalista, Antonio Tozzi é ex-repórter do jornal "O Estado de S. Paulo", ex-editor da CBS Brasil, e atualmente editor da revista "Latin Trade" e do jornal "Achei USA".

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