Prezado Dimas Oliveira!
Primeiramente, muito obrigado por suas gentis palavras antecedendo minha alocução no encontro do Rotary Clube de Feira de Santana. Foi uma apresentação que muito me lisonjeou e fez recordar fatos e datas nunca esquecidos, ainda que adormecidos no baú da memória.
Que bom reviver lembranças dos tempos de muita criatividade, mas de tristeza pelos fatos que a conjuntura política da época obrigou-nos a vivenciar. Como se não bastasse ter de suportar o pesado ônus da indiferença do meio social, os agentes da cultura frequentemente são submetidos à violência das mentes obscurantistas, que governam visando manter o status quo. O desenvolvimento de Feira bem demonstra como a cidade perdeu insignes talentos e muito se atrasou culturalmente ao longo de décadas. Lembremo-nos de Fernando Ramos, Olney São Paulo, Eurico Boaventura, Raimundo de Oliveira e tantos outros que partiram em busca de realização profissional, pois em sua própria terra nunca tiveram seu talento reconhecido.
Sua menção à longa duração da montagem da peça "Os Justos" provocou-me risos. De fato, 11 meses foi um tempo demasiado longo para levar ao palco uma peça teatral que um elenco profissional faria em três meses. Mas houve razão para tal, pois a montagem começou com um racha no grupo Scafs, daí resultando, o Meta-Scafs; seguiram-se desistência de atores, compromissos meus em Salvador, indisponibilidade de um local para apresentação etc. O projeto em si era um grande desafio, ninguém até então havia montado este texto na Bahia, a temática abordava a delicada questão da justiça na Rússia revolucionária. Acresce ainda que Camus escreveu um texto muito literário e especialmente difícil para atores amadores. Mas valeu como aprendizado teórico para o elenco, ainda que não tenha alcançado a plateia desejada.
Bem, resta-me agradecer pelos livros que me presenteou e enviarei por Antonier Rios uma obra de Goethe, que espero seja do seu agrado. Continue o meritório trabalho de comunicador e memorialista, pois você já pertence à história cultural de Feira! Saudações goetheanas e um forte abraço!
Álvaro Almeida
Presidente da Associação Goethe da Bahia
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