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sábado, 24 de abril de 2021

Deolindo Checcucci: Grande contribuição para o teatro na Bahia

Um dos nomes mais ativos e premiados do teatro baiano passou por Feira







1. Deolindo Checcucci, hoje

2.Deolindo Checcucci com Zé Maria, Antonia Velloso e Letícia Régia Ensaio, com leitura de texto, de "Quarto de Empregada"

3. Deolindo com Margarida Ribeiro em "Natal em Gothan City"

4. Deolindo Checcucci com Lia Robatto, após encenação de "Vozes do Desejo", no Teatro Martim Gonçalves, em 21de janeiro de 2016, que celebrou os 60 da Escola de Teatro e os 70 anos da Ufba, quando também foi homenageado 

5. Antônia Velloso no filme "Akpalô"

6. Marilda Checcucci também participou do filme "Akpalô"

7. Xilogravura de Deolindo Checcucci em capa de revista

Por Dimas Oliveira

Antes de se mudar para Salvador, para estudar, Deolindo Checcucci, 72 anos, atuou no teatro de Feira de Santana e aqui deixou sua marca. Nos tempos em que a cidade tinha teatro e respirava cultura. Ele chegou em Feira em 1965, vindo de Jequié, sua terra natal. Aqui, estudou no Ginásio Municipal - onde sua irmã Mariléa Rita era professora de Inglês (depois formou-se em Direito pela Ufba) - e no Colégio Estadual.

Ele conta: "Fui para Salvador em 1968, onde fiz o Clássico no Colégio  Central". O teatro sempre foi sua vocação. No Facebook, ele postou um registro feito em Jequié: "O teatro está comigo desde adolescente... na foto, estou atuando como o poeta da primavera".

Aluno do Curso de Formação do Ator na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 1968, e em seguida concluiu o Bacharelado em Direção Teatral em 1978. Tornou-se mestre em Direção Teatral na Universidade do Kansas, Estados Unidos, em 1983. Iniciou, em 1978, as atividades como professor no Curso de Teatro e Expressão Corporal, da Universidade Federal da Bahia.

Além de professor, Deolindo é autor de textos teatrais, diretor e ator. Trata-se de um dos mais destacados nomes das artes cênicas da Bahia - em agosto de 2020, foi homenageado pela Ufba.

A atuação dele é diferenciada no contexto acadêmico. A sua contribuição à Escola de Teatro é bem significativa. Como professor no Bacharelado em Direção Teatral, influenciou no ensino da instituição, principalmente no que se refere às disciplinas Cenografia, Prática de Ensaio, Direção e Montagem.

Foi chefe de Departamento de Técnicas do Espetáculo da Escola de Teatro, entre 1988 e 1992, e diretor da Escola de Teatro, de 1996 a 2000.

Experiência feirense

"Já tinha alguma experiência com o teatro  amador em Feira de Santana. Carlos Petrovich foi importante pra todos nós  que fazíamos teatro em Feira", disse.

No seu primeiro ano em Feira de Santana integrou-se ao movimento teatral e participou como ator da montagem de “O Boi e o Burro a Caminho de Belém”, encenada em praça pública e no Cine Santanópolis, na antevéspera do Natal. Suas irmãs, Marilda - que hoje mora em Florianópolis e trabalha na Universidade Regional de Blumenau - e Marilúcia - artista plástica que mora em Salvador -, também atuaram no espetáculo, o mesmo ocorrendo em "A Guerra Mais ou Menos Santa", de Mario Brasini, com direção de Francisco Barreto, em 1966.

Ainda em 1965, atuou em "A Bruxinha Que Era Boa". Em 1967, atuou em "Os Justos", de Albert Camus, encenada no auditório da Rádio Cultura. A peça durou nove meses de ensaios; e dirigiu a peça infantil "Dona Patinha Vai Ser Miss".

Em 1967, dirigiu "Quarto de Empregada", de Roberto Freire, com Antonia Velloso e Letícia Régia (hoje, Moraes). No ano seguinte, a vez de dirigir "Chapeuzinho Vermelho".

Em 1969, já em Salvador, vinha a Feira de Santana nos finais de semana para ensaiar as peças "Joãozinho e Maria", que foi o primeiro espetáculo feirense a ser encenado no Teatro Castro Alves; e "Natal em Gotham City", pelo Meta-Scafs, encenada no Teatro Martins Gonçalves da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Então, Deolindo dirigiu Antonia Velloso, a maior atriz de teatro de Feira de Santana, e  Margarida Ribeiro, que nomina o Teatro Municipal.

Destaque em Salvador

Paralelo à  Escola de  Teatro, ele fez alguns  trabalhos com Lia Robatto. Em 1969, dirigiu o espetáculo  infanto-juvenil "A Bela Adormecida", com adaptação  de Raimundo Blumetti. A peça  tinha uma estética  tropicalista com músicas de Gilberto Gil e Caetano Velloso. O cenário e figurino era de Zė  Maria. "O diretor do Teatro Vila Velha, João  Augusto, assistiu e fez muitos elogios. A peça  teve várias  premiações", lembra.

No  ano seguinte, em 1970, ele encenou a peça de Eugene Ionesco "O Futuro Está  nos Ovos", um clássico do teatro do absurdo. "A montagem unia encenação  e público  no palco do Teatro Castro Alves e foi muito bem recebida e o espetáculo teve várias  premiações", relata.

Em 1979, como conta, "foi montado importante espetáculo para a época e atualidade, cujo título era 'Bocas do Inferno', com texto de Cleise Mendes, baseado na vida e obra de Gregório de Matos, que dirigi, encenado no Renascente Circus. No elenco, Gessy Gesse, Armindo Bião, Frieda Gutman, Wilson Mello, Mario Gadelha e muitos outros".

Deolindo também lembra de outro espetáculo que dirigiu, "Desmemórias", em 1980, com texto de Cleise Mendes, Guido Guerra e Ana Pedreira Franco.

- Toda essa trajetória  foi no período  da ditadura militar. Paralelo ao movimento hippie. Paz e amor eram as palavras de ordem. A partir dos anos 70, continuei na Escola de Teatro, estudando direção teatral. Ao me graduar, fui convidado para integrar  o quadro de professores. Em 1980, fui fazer mestrado em Direção  Teatral na Universidade de Lawrence, Estados Unidos. Voltei em 1984", disse mais.

Deolindo escreveu muitas peças e dirigiu  peças de sua autoria e de autores brasileiros e internacionais. Exemplos de "A Bela e a Fera", "A Roupa Nova do Rei", "Julinho Contra a Bruxa do Espaço", e "Um, Dois, Três, Alegria". "Tenho textos inéditos", revela.

Outros espetáculos dirigidos por Deolindo Checcucci: "A Procura do Brinquedo Perdido", em 1969; "O Arquiteto e o Imperador" - também atuou com ator nesta peça - e "O Pique dos Índios ou A Espingarda do Caramuru", ambos em 1973; "A Viagem de um Barquinho" e "Dorotéia", os dois em 1978; "Abre Mais" e "Cândido ou Otimismo", em 1980. Trabalhos que consolidam mais sua atuação como diretor teatral.

Na sua contribuição para o teatro na Bahia, ele publicou a  Coleção Teatro Baiano, pela Editora da Ufba, com suas peças, dívida em três volumes.  "Protagonistas Nordestinos" ("O Voo da Asa Branca ou Luiz Gonzaga, o Rei do Baião", "Maria Quitéria", "Raul Seixas", "Irmã Dulce" e "A Mulher de Roxo"); "Peças de Amor e Ódio" ("Um Corte no Desejo", "Curra", "Sexo É Com Walkíria", "Ciúme de Você" e "Misererenobis"); e "Musicais Infanto-Juvenis" ("Um Dia, um Sol", "Na Lua, na Rua, na Tua", "Em Busca do Sonho Perdido", "A Coroa de Raquel" e "Joana, a Boneca de Pano Que Virou Barbie").

Em 1978, ganhou o Troféu Martim Gonçalves, prêmio de Melhor Diretor, pelo trabalho em "O Patinho Preto". 

Em 1995, ganhou o Prêmio Álvaro de Carvalho de Melhor Texto por "Um Dia, um Sol", em concurso nacional.

"O Voo da Asa Branca ou Luiz Gonzaga, o Rei do Baião" ganhou o Prêmio Copene de Melhor Espetáculo Infanto-Juvenil, em 2000.

Em 21 de janeiro de 2016, após encenação de "Vozes do Desejo", no Teatro Martim Gonçalves, espetáculo que celebrou os 60 da Escola de Teatro e os 70 anos da Ufba, Deolindo também foi homenageado.

Participou de vários seminários relativos à Dramaturgia e Teatro para a Infância e Juventude, firmando-se como diretor de espetáculos para o público infantil. 

Outras artes

Deolindo Checcucci também fez cinema. Foi co-diretor do filme “Akpalô”, com José Frazão, lançado em abril de 1972. Filme que teve a atriz feirense Antonia Velloso em destacado papel, além de Anecy Rocha, Harildo Deda, Marilda Checcucci, Mario Gusmão, e Simone Hoffman no elenco. É classificado com integrante do "cinema marginal baiano".

Também teve incursões nas artes plásticas. Uma xilogravura de sua autoria ilustrou capa da revista "Arte e Cultura", editada por Dimas Oliveira e lançada em 1967. E, uma colagem dele sumiu da sala de espera do Cine Santanópolis, em exposição quando da estreia da peça "Viúva Porém Honesta", em 1967. Retratava a face de um general em um corpo de gorila. Isso, nos anos cinzentos do regime militar. 

P.S.: O autor deste artigo conheceu Deolindo Checcucci em 1967, quando atuou como sonoplastista e contra-regra nas montagens de "O Justo" e "Dona Patinha Vai Ser Miss". Foi quando convidou-o para fazer a capa da revista "Arte e Cultura".

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