Opção de transferência bancária para a Pessoa Física: Dimas Boaventura de Oliveira, Banco do Brasil, agência 4622-1, conta corrente 50.848-9

Clique na imagem

*

*
Clique na logo para ouvir

terça-feira, 3 de abril de 2018

Amélia Rodrigues: Uma cultura esquecida


Ter seu nome colocado para servir de topônimo de um lugar é motivo de muita honra. Há casos, entretanto, e por incrível que pareça, é o local que se sente honrado com tal fato.

Por Dázio Brasileiro Filho
Amélia Augusta Rodrigues do Sacramento, nascida na Fazenda Campos, situada na Vila de Oliveira dos Campinhos, pertencente à cidade de Santo Amaro, filha de Félix Rodrigues do Sacramento e Maria Raquelina do Amor Divino, foi uma das maiores poetisas baianas. 
Escreveu peças para teatro, letras de hinos, textos para revistas infantis e as suas cartas escritas às amigas eram verdadeiras obras-primas. Seus livros, discursos, palestras, peças para teatro, conferências, traduções foram, em suma, obras literárias completas, adotando, para muitas delas, vários pseudônimos.
Sua lista de poemas é muito grande. Entre eles podemos destacar: "Vida de Maria Vitória da Encarnação", "Religiosa Clarissa", "A Promessa", "Ao Amanhecer", "Serenata", "A Rola Morta", "A Abadessa da Lapa", com este último narrando, em versos, o assassinato da sóror Joanna Angélica de Jesus, a primeira heroína da epopeia da Independência Nacional, que, como todos sabem, foi atravessada pelas baionetas dos soldados lusitanos, às 12 horas, do dia 20 de fevereiro de 1823, quando procurava impedir a invasão do claustro.
Escrever cartas era um dom dessa poetisa, e o fazia com grande maestria. Aqui destacamos duas: "Cartas a Uma Amiga" (livro que reuniu inúmeras cartas) e outra dedicada a sua mãe, escrita em versos, "O Amor Maternal".
Por ter essa grande habilidade com as palavras, Da. Amélia discursou em inúmeras conferências nos mais diversos acontecimentos. Muitos, também, foram os textos para os mais diferentes eventos. Destacamos um desses, por ocasião do falecimento do monsenhor Clarindo de Souza Aranha, quando exteriorizou seu pensamento sobre a morte:
"Que é a morte? Um abismo de trevas? um hieróglifo indecifrável? Um oceano sem margens onde o homem submerge para sempre, e se aniquila e se acaba por inteiro, como esvaecido sonho, como ilusão inconsistente? Não. A morte bem explicada está pela voz sacro santa da religião até, por que todas elas confessam a vida por vir."
Dentre seus livros, podemos nominar "Mestra e Mãe" - livro unanimemente aprovado pelo Conselho de Instrução Pública da Bahia, e descrito,na oportunidade, como "um guia luminoso para auxiliar as mães na grande obra de educação dos filhos e às mestras para as lições cotidianas de suas tenras discípulas." Já o livro "Flores da Bíblia: do Éden à Terra da Promissão foi descrito como uma obra-prima, segundo literatos daqueles tempos. Anotamos o seguinte comentário do crítico literário Soares d'Azevedo: "... pode-se dizer que o poema de Da. Amélia Rodrigues, em 450 alentadas páginas, é o melhor mimo literário que estes últimos anos têm visto...".
Para expressar sua grande religiosidade, Da. Amélia compôs maviosos hinos sacros, tais como: "Hino do Congresso das Vocações Sacerdotais" (realizado em Salvador, em setembro de 1929), "Hino Patriótico à Imaculada" e "Hino à Santa Igreja". Este último ela fez letra e música e em ritmo de marcha.
No teatro, destacou-se com as peças "Fausta", "Natividade", "Progresso Feminino" (comédia) e seu poema "O Réu de Amanhã" foi reeditado com algumas modificações com o nome de "Vagabundo" e transformado numa peça. Este poema pareceu antever o que estamos vivendo hoje. Vejamos:
"O dia inteiro pelas ruas anda / enxovalhado, roto, indiferente,/ mãos nos bolsos, olhar impertinente, / um machucado chapeuzinho à banda,
Cigarro à boca, modos de quem manda,/ um Dândi da miséria alegremente / a procurar ocasiões somente / em que as tendências bélicas expanda.
E tem doze anos só! Flor do monturo, / quem lhe arranca o veneno ao seio impuro / e os tentáculos do mal, que em torno avança ?!
Quem vai fazer a peregrina esmola / de atirá-lo à oficina, ao templo, à escola, / mudando esta ameaça em esperança?!..."
Traduziu o livro "O Bufarinheiro", de Y. d'Isne.
Outras obras desta intelectual baiana: "Contos Avulsos", "Flores Recreativas", "Rosas do Lar", "Serenata", dentre muitas mais.
Segundo a professora Ívia Alves, Da. Amélia Rodrigues foi à precursora do movimento feminista na Bahia.
Por último vamos falar da maior obra de Da. Amélia Rodrigues: a Aliança Feminina, entidade que, tendo por finalidade uma maior liberdade feminina, promovia conferências para as senhoras da sociedade; incentivava escolas e cursos de economia, prendas domésticas, educação, teatro e literatura e concertos, além de muitas outras atividades. 
Era uma mulher além do seu tempo. Defendia o voto das mulheres no processo eleitoral e a necessidade de fazer constar seus nomes em textos e publicações pois, geralmente, utilizavam pseudônimos, a exemplo da própria Da. Amélia que usou vários. A Aliança, fundada em Salvador, espalhou-se por vários estados, a exemplo do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, sendo que,neste último, ainda existe até hoje uma associação com o seu nome. Por seu trabalho, talento e dedicação, tornou-se conhecida em boa parte do Brasil, numa época em que as comunicações quase não existiam.
Nota - A grafia e pontuação das citações estão conforme o original.
Dázio Brasileiro Filho é vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana (IHGFS)

Nenhum comentário: