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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Tradição e raiz

Por César Romero
Em cartaz no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, dirigido por Pedro Arcanjo, a exposição Crônica Sertaneja de Juraci Dórea.  A curadoria na mostra, que segue até o dia 10 de setembro, é de Ayrson Heráclito.  O artista nasceu em Feira de Santana. Arquiteto desde 1968, é mestre em Literatura e Diversidade Cultural.  Dirigiu o Departamento de Cultura do Município de Feira de Santana, de 1994 a 1996.
Pintor, desenhista, gravador, escultor, poeta e professor teve sua primeira exposição em 1962, na Biblioteca Municipal Arnold Silva em Feira de Santana. Daí sua carreira deu partida chegando a importantes exposições no Brasil e exterior, especialmente a XIX Bienal Internacional de São Paulo, 43º Bienal de Veneza e a IIIº Bienal de Havana.
Vivendo entre duas culturas, por um lado o Recôncavo e bem mais ainda a região sertaneja, absorveu e transfigura com obstinação pessoas simples, as lendas, os cantadores, violeiros, a literatura de cordel, os costumes, a religiosidade, as festas de tradição, a cultura do couro. Uma síntese do imaginário popular, quando revela bens culturais de raiz brasileiras. Busca uma arte que se identifique aos costumes de sua terra, em torno do mais autêntico. Decodificar esse universo místico e abrangente tem sido um dos seus desafios.
Juraci Dórea é da família que busca uma arte brasileira como aconteceu com Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, Gilvan Samico, Sante Scaldaferri, Francisco Liberato, J.Cunha, Antonio Maia, Rubem Valentim, Emiliano Di Calvalcanti.
Sua pintura bem cuidada, minuciosa, tem comunicação imediata com o espectador a quem cabe decifrar os códigos do sertão, referência fundamental. O trabalho do artista guarda para esta e gerações futuras, uma série de bens singulares que formatam a cultura nacional. Suas pesquisas plásticas visuais é um documento, uma cosmovisão do sertão brasileiro, que se estendem pelos estados da Bahia, Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Rio Grande do Norte, portanto uma pintura nordestina, focando mais intensamente o sertão baiano.
Juraci Dórea ajustou um vocabulário bem definido à sua maneira, criando uma iconografia extremamente pessoal, intransferível. Um idioleto formatado com o passar do tempo.
A pintura de Juraci Dórea é um ato político, quando indica os procedimentos relativos à comunidade, coletividade, referentes à sociedade onde vive ou atua, um saber organizado sobre um conjunto de atividades humanas.
Crônica Sertaneja tem montagem soberba, bem pensada, curadoria afinada com o pensar do artista.
A expo consta de 40 trabalhos entre desenhos, pinturas, esculturas, instalações e objetos. Um acerto.

César Romero é artista plástico e crítico de arte
Fonte: Correio

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