Por Reinaldo Azevedo
O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, tornou-se
personagem graúda da Operação Lava Jato. A Procuradoria-Geral da República
ainda não pediu nem mesmo a abertura de um inquérito contra ele. Os critérios
de Rodrigo Janot, nesses casos, têm um quê de insondável - ou de bastante
sondável -, mas os motivos para tanto estão dados. O governo tenta minimizar as
suspeitas. É inútil. Elas são muito graves. Antes que continue, uma lembrança
importante: dois dos homens fortes de Dilma - o outro é Edinho Silva, da
Comunicação Social, já um investigado - foram atropelados pela operação.
Sigamos.
Conforme revelou o Estadão na quinta passada, mensagens de
telefone interceptadas pela Operação Lava Jato apontam relações, vamos dizer,
muito especiais entre Wagner, então governador da Bahia, e Léo Pinheiro, que
presidia a empreiteira OAS. As conversas foram mantidas entre agosto de 2012 e
outubro de 2014.
E o que revelam os diálogos de Pinheiro com
subordinados e com o próprio Wagner? Que a empreiteira apelou aos préstimos do
governador para resolver pendências que mantinha com o Funcef - fundo de pensão
dos funcionários da CEF, comandado por petistas - e com o Ministério dos
Transportes. Isso, por si, constitui crime ou indício de crime? É claro que
não!
Empresas, assim como sindicatos de trabalhadores,
podem apelar à autoridade política de um governador para que interceda em favor
de um pleito seu - desde que tudo seja feito às claras, à luz do dia, fora de
uma relação de troca. Ocorre…
Ocorre que não é isso o que sugerem os diálogos que
vieram a público. As conversas apontam que a OAS pagou despesas de campanha de
Nelson Pellegrino, candidato derrotado do PT à Prefeitura de Salvador em 2012.
E Wagner, em razão da autoridade política que detinha, aparece no centro dessa
articulação.
Na linguagem cifrada empregada pela turma, com bem
pouca imaginação, diga-se, o chefão petista é chamado de "maestro", numa alusão
ao compositor alemão Richard Wagner, e de JW - o que não requer nenhum voo
interpretativo. Nota à margem: Wagner, o compositor, era alemão e antissemita.
Wagner, o agora ministro, é judeu. Não é senso de ironia de quem se mete em
tramoia. É só ignorância mesmo.
Léo Pinheiro foi condenado em primeira instância a
16 anos de prisão. Especulou-se, inicialmente, que pudesse fazer delação
premiada. Até agora, nada. Trata-se de um dos empresários mais próximos de Luiz
Inácio Lula da Silva. A OAS reformou o tríplex de Lula no Guarujá e um sítio em
Atibaia, feito ao gosto do Apedeuta, que, no entanto, está no nome de dois
sócios de Lulinha, um de seus filhos.
Voltemos a Wagner. Há duas questões relevantes aí.
É claro que o ministro mais importante da articulação política não pode estar
empenhado em se defender. Na verdade, a ele caberia a defesa do governo. Em
segundo lugar, evidencia-se, mais uma vez, que, com o PT, chegou ao paroxismo a
transformação do estado e seus entes em mero guichê de demandas privadas, desde
que os interessados paguem o preço da intermediação. Com o partido, o velho
patrimonialismo assumiu a dimensão do assalto puro e simples.
É preciso ainda ter um pouco de memória. Em 2007, a
Polícia Federal deflagrou a Operação Navalha, que colocou na cadeia 46 pessoas.
O centro do escândalo era a empreiteira Gautama, da Bahia. Seu proprietário,
Zuleido Veras, tinha uma carteira enorme de amigos poderosos. Entre eles,
contavam-se, por exemplo, José Sarney, Renan Calheiros e, sim!, Jaques Wagner.
No dia 25 de novembro de 2006, Zuleido emprestou
sua lancha, batizada de Clara - um espetáculo de US$ 1,5 milhão, com 52 pés e
três suítes - ao então governador da Bahia. Sim, era Jaques Wagner. Ele
resolveu oferecer um passeio pelas águas da Baía de Todos os Santos à então
ministra da Casa Civil. Ela atendia pelo nome de Dilma Rousseff.
Seis meses depois, Zuleido estava na cadeia. E o PT
vendeu a patacoada de que isso só havia acontecido porque o partido combatia a
corrupção. Entenderam?
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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