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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

"Reforma política - PT se deixa levar pela glória de mandar e pela vã cobiça e quebra a cara. Que bom!"

Por Reinaldo Azevedo
O PT e o governo sofreram duas derrotas importantes ontem. A primeira: Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, escolheu o deputado Rodrigo Maia (Democratas-RJ) para presidir a comissão especial da reforma política. O relator é o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI). A instalação da comissão ocorreu na tarde desta terça-feira. Os petistas ficaram apenas com uma das vice-presidências, assim como o PSDB, outro partido de oposição.
Pois é… O Velho do Restelo, um reacionário adorável de "Os Lusíadas", de Camões, ao criticar o excesso de ambição dos portugueses, lamentou na praia que acabou por lhe grudar no nome quando a esquadra estava pronta para se lançar ao mar: "Ó glória de mandar, ó vã cobiça/ desta vaidade a quem chamamos Fama!". Segundo o Velho, essa glória de mandar é "fonte de desamparos e adultérios" e uma "sagaz consumidora conhecida/ de fazendas, de reinos e de impérios!". Vale dizer: pode levar os homens à ruína. Os portugueses, em todo caso, se deram bem. Mas os petistas quebraram a cara.
Em 2013, logo depois das jornadas de junho, falou-se da necessidade de uma reforma. Dilma Rousseff lançou a sua tese estúpida dos plebiscitos. O PT deu início à pregação do fim do financiamento privado de campanha, ladainha já entoada depois do mensalão, como se essa fosse a única origem da roubalheira. Na Câmara, o então presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) instituiu uma comissão para colher subsídios que resultassem numa PEC - Proposta de Emenda Constitucional - para a reforma política. O representante do PT no grupo e coordenador da comissão foi o então deputado Cândido Vaccarezza, que não se reelegeu.
Muito bem. Nasceu, assim, a PEC 352/2013 - íntegra aqui -, que é, sim, um texto muito razoável, embora eu discorde de muita coisa. O PT, acreditem, desautorizou Vaccarezza e passou, nesse particular, a tratá-lo como adversário. Tudo porque ele teve, diga-se, um comportamento correto na comissão, coligindo aquela que era a vontade da maioria. De resto, uma emenda sempre pode sofrer alterações. Quais são os pontos básicos da PEC 352?

- prevê o financiamento misto de campanha, com recursos públicos, privados ou ambos;
– remete para a lei o disciplinamento da doação das empresas;
– estabelece que toda doação é feita para partidos, não para candidatos;
– institui o voto facultativo;
– extingue a reeleição;
– partidos que se coligam nas eleições proporcionais são obrigados a manter o bloco depois;
– estabelece cláusula de barreira: só terão acesso a fundo partidário e tempo de rádio e TV as legendas que obtiverem ao menos 5% dos votos nacionais, em pelo menos um terço dos estados;
– mantém o sistema proporcional, mas exige um mínimo de votos para o deputado ser eleito;
– submete a reforma a um referendo.
Pois bem. O PT não quer essa reforma de jeito nenhum. Quer proibir a doação de empresas a campanhas - o que jogaria o processo político na clandestinidade -, instituir o financiamento público (o que o beneficiaria) e pretende que as mudanças sejam feitas por plebiscito. No referendo, a população é consultada depois e diz se aceita ou não as alterações.
Eu sou contra qualquer doação pública; defendo o voto distrital, não o proporcional, e acho que não faz sentido restringir a doações aos partidos. Mas que se vá para o debate, ora! A comissão especial é composta de 34 membros e tem um prazo de 40 sessões para concluir o trabalho.
Muito bem! O PT decidiu sabotar o texto ainda na Comissão de Constituição e Justiça. Eduardo Cunha, usando sua prerrogativa de presidente, avocou para o plenário, aprovou o início da tramitação e decidiu instituir a comissão. É que, em 2013, o PT ainda se via como o maior partido da Terra e achava que podia impor a sua vontade na porrada. Quem veio a público, então, para desautorizar Vaccarezza foi José Nobre (PT-CE), atual líder do governo na Câmara.
Não sei que destino terá a reforma. Há coisas boas ali, como o fim do voto obrigatório e o fim da reeleição para cargos executivos. O melhor caminho, claro!, é submeter o texto a referendo, que é a consulta posterior, não a plebiscitos. O texto carrega o nome de um petista, e o partido poderia ter um papel maior no debate. Agora, foi arrastado pelo furacão Cunha. Por quê? Em razão da glória de mandar, da vã cobiça. Segundo o Velho do Restelo, ela já destruiu impérios. Não sei, não… Acho que pode destruir também partidos…
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"

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