Por
Reinaldo Azevedo
É claro que o TSE cedeu à reivindicação do PSDB e autorizou uma
auditoria nas eleições. A voz das pessoas decentes, que foram às ruas, venceu.
Cheguei a pensar que o tribunal havia negado que se tratasse de uma auditoria,
mas eram apenas os setores confusos da imprensa - isso na hipótese benigna.
Ficam mal o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o corregedor do
tribunal, João Otávio de Noronha, que haviam emitido opiniões absurdas a
respeito. O segundo falou fora dos autos. O outro misturou alhos com bugalhos e
especulou até sobre preconceito regional, num parecer meio aloprado. O site do
TSE é explícito, num texto cujo título é este: "TSE aprova auditoria do PSDB
sobre sistemas eleitorais de 2014". Lá está escrito: "Por unanimidade de votos,
o Plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acolheu, na sessão desta
terça-feira (4), pedido do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) para
que a sigla tenha pleno acesso aos sistemas de votação, apuração e totalização
dos votos das eleições de 2014 para que o partido possa, se desejar, realizar
uma auditoria própria". Alguma dúvida?
Atenção! O TSE cedeu a rigorosamente todos os pedidos do PSDB, com
exceção de um, e é isso que chegou a gerar certa confusão. O partido havia
pedido que os dados da eleição fossem tornados disponíveis a uma comissão
formada por partidos políticos. Não haverá essa comissão. Mas o PSDB indicará
um grupo de peritos que terão acesso a todas as informações - até onde se sabe,
rigorosamente todas. As dúvidas suscitadas e as múltiplas denúncias de irregularidades
poderão ser confrontadas com o sistema, para saber se ele é seguro. É o que as
ruas estavam pedindo. Sabem o nome disso? Auditoria!
Mas há gente querendo chamar de outra coisa. Como já citei aqui, certa
estava, neste particular ao menos, Julieta, a adolescente maluquete de
Shakespeare: se a rosa tivesse outro nome, ainda assim, teria igual perfume.
Se alguém quer chamar de outra coisa a auditoria, por que não chama de "rosa"?
Não se trata, é bom que fique claro, de uma recontagem de votos -
até porque, no sistema eletrônico, o procedimento nem seria exatamente esse.
Trata-se de averiguar se as muitas denúncias de irregularidades procedem ou
não; se o sistema está ou não sujeito a intercorrências externas. Ninguém quer
derrubar a presidente Dilma Rousseff por isso. Não é e nunca foi esse o
intento. A menos, claro, que se chegue a uma fraude. O ponto é e sempre foi
outro.
É mentira que as pessoas que estão protestando nas ruas, cobrando
a auditoria, integrem, como chegou a afirmar, lamentavelmente, a Abraji
(Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), "grupos insatisfeitos com
o resultado das eleições presidenciais". De saída, lembro que, nas democracias, "grupos insatisfeitos com o resultado das eleições" podem, sim, se manifestar,
desde que o façam dentro dos limites legais. Mas não! Não era e não é o caso!
Os cidadãos querem saber mais sobre o sistema das urnas eletrônicas - um
direito legítimo - e pedem o impeachment de Dilma na hipótese, e só nesta
hipótese, de que ela soubesse dos desmandos na Petrobras. Ela não sabia? Então
fica. Ela sabia? Então sai. Leis existem e têm de ser cumpridas. Não é uma
operação tão complexa.
Também é mentira que os que pedem intervenção militar deem a
direção do protesto. Essa é uma distorção lançada no mercado de ideias pelo
jornalismo "parapetista", cuja militância é mais pernóstica porque não é clara.
Afirma-se como dado de realidade o que é só uma distorção ideológica
deliberada.
João Otávio de Noronha, corregedor do TSE, estava errado - aliás,
é o primeiro a reconhece-lo. Afinal, votou a favor da auditoria, que pretende
seja chamada de outro nome. Rodrigo Janot, procurador-geral da República estava
errado. A auditoria não enfraquece a democracia nem põe sob suspeição o
resultado das eleições. Na verdade, ela vai fortalecer a confiança das pessoas
nas urnas eletrônicas caso não se encontrem falhas.
Os que tentaram colar no povo a pecha de golpistas foram
derrotados pelos fatos e pela mobilização nas ruas e nas redes sociais. É esse
o caminho.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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