Por Reinaldo Azevedo
Tenho escrito aqui alguns comentários críticos à forma como se
conduz, no PSB, a assunção de Marina Silva ao posto de candidata do partido à
Presidência da República, embora saibamos todos que ela pertence a um partido
chamado Rede, ainda sem existência formal, abrigado no PSB. Prestem atenção ao
substantivo que escolhi: assunção! Eu poderia ter optado por "ascensão", do
verbo "ascender", que é mover-se fisicamente para cima, subir. Mas optei por "assunção" porque a palavra tem uma carga religiosa. Pode ser sinônimo de "ascensão", mas o seu primeiro significado diz respeito à subida de Maria ao
Céu, acontecimento celebrado, vejam vocês, no dia 15 de agosto.
Sim, Marina, ex-católica e ex-candidata a freira, é hoje
evangélica. Não estou fazendo especulações nesse terreno. Dou relevo, ao falar
em sua "assunção", à aura mística, verdadeiramente religiosa, que muitos
pretendem emprestar ao evento. O simples questionamento sobre o pensamento de
Marina a respeito disso ou daquilo causa uma espécie de indignação em certas
áreas da militância política. Parecem dizer: "Como ousam ficar fazendo essas
perguntas terrenas à nossa candidata, que não é deste mundo?".
Ocorre que Marina é deste mundo, como qualquer um de nós, como
qualquer político. E, obviamente, não é a única a rejeitar a corrupção na vida
pública. Tampouco é a monopolista da ética, da moral, dos bons costumes e do
bem. Logo, não pode usar essa aura para se proteger das próprias contradições.
Tem de responder por suas escolhas, mais do que qualquer um de nós. A razão é
simples: se eu, Reinaldo, decido fazer isso ou aquilo, a minha decisão tem
pouca importância; mexe com a vida de pouca gente. Se a líder da Rede, ora do
PSB, for eleita presidente, o que quer que faça dirá respeito a milhões de
pessoas. Então ela tem de prestar contas, sim, por suas escolhas.
Muito bem. Não sou uma pessoa de opiniões ambíguas sobre isso e
aquilo. Isso me rende prazeres e dissabores também. Um deles é despertar a
fúria de certos setores organizados, muitos deles financiados com dinheiro
público. Eis que percebo que gente que, até anteontem, execrava o meu
pensamento e o que escrevo, passou a reproduzir, em sinal de aprovação, textos
e comentários críticos a Marina Silva. Ou seja: quando eu desaprovo, por
exemplo, uma fala da presidente Dilma, então sou um pulha; quando desaprovo a
líder da Rede, então sou um cara bacana.
Como reagir diante disso? Simplesmente não dando bola. Não escrevo
o que escrevo nem falo o que falo para ser amado ou para ser odiado. O meu
compromisso com você, que está do outro lado, e com quem me contrata é um só:
deixar claro o que penso. E meu pensamento é sempre o mesmo: aqui no meu blog,
na Jovem Pan ou na Folha. Não tenho um conjunto de valores adaptado a cada
veículo.
Se os blogs alugados pelo PT e pelo governo federal estão
reproduzindo as críticas que faço a Marina, o que posso fazer além de nada?
Eles sabem o quanto os repudio. Eu nunca aceitei os petistas como meus juízes,
nem quando me atacam nem quando me elogiam. Tenho, como todas as pessoas, meus
candidatos. Mas mantenho, antes de mais nada, um compromisso com o ouvinte e
com os leitores.
A imparcialidade de um jornalista não está em ser neutro diante de
qualquer acontecimento, como quem não sabe distinguir o bem do mal. Alguém pode
ser, por exemplo, indiferente ao horror que acontece no Iraque? A
imparcialidade de um jornalista de opinião, que é o que sou, está em dizer o
que pensa sem se preocupar se seu pensamento vai desagradar ou agradar a A, B
ou C. Antes de emitir um juízo sobre determinado assunto, nunca me preocupei em
saber quem concorda comigo ou quem discorda de mim. No dia em que eu fizer
isso, estarei rompendo o principal compromisso que tenho, que é com você, leitor.
Então, como diria Jair Rodrigues, deixe que digam, que pensem, que
falem. Nós seguiremos a nossa trilha.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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