Por Reinaldo Azevedo
Alô, leitores do blog que moram no Rio! Coloquem aí
na agenda: amanhã, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, a partir das
19h30, ocorre o lançamento de um livro delicioso: "Não É a Mamãe - Para
Entender a Era Dilma", do jornalista Guilherme Fiuza, um dos melhores, mais
agudos, mais cultos e mais divertidos textos da imprensa brasileira.
O livro, publicado pela Editora Record, reúne 100
artigos de autoria de Fiuza publicados na revista "Época" e no jornal "O
Globo". As crônicas são separadas em cinco capítulos, cada um correspondendo a
um ano da trajetória recente da "presidenta", a partir de 2010, o da campanha
eleitoral:
"2010 - DILMA É A MÃE";
"2011 - A FAXINEIRA";
"2012 - A BABÁ DE ROSEMARY";
"2013 - A PLEBISCITÁRIA";
"2014 - MAMÃE VOLTOU".
"2010 - DILMA É A MÃE";
"2011 - A FAXINEIRA";
"2012 - A BABÁ DE ROSEMARY";
"2013 - A PLEBISCITÁRIA";
"2014 - MAMÃE VOLTOU".
O título é uma alusão ao bordão de Baby Sauro, da "Família Dinossauro", seriado que fez muito sucesso na década de 90. Aliás, ele
está de volta no canal Viva. E começa justamente nesta quinta. Dilma associada
a dinossauros? A gente pode rir de sarcasmo ou melancolia. Não precisa de
explicação.
Falarei do livro com mais vagar. Fiuza tem outra
qualidade, ainda que involuntária: é um ilustre membro daquela lista negra de
nove pessoas elaborada pelo PT, da qual também faço parte. Segundo os
companheiros, somos o mal do Brasil. Se, um dia, eles conseguirem criar o "Estado Petista da Empulhação e do Levante", vocês sabem o que acontecerá com
as nossas respectivas cabeças… Enquanto não acontece, a gente se diverte.
Leia "Não É a Mamãe". Ali está revelada a alma da
era Dilma. Reproduzo, abaixo, um dos cem textos do livro.
*
Cadê a quadrilha que estava aqui?
Cadê a quadrilha que estava aqui?
Nelson Rodrigues foi novamente convocado por Dilma
Rousseff. Sempre que tira os olhos do teleprompter, a presidente sofre em sua
árdua missão de fazer sentido. Nelson foi o primeiro a satirizar essa esquerda
parasitária escondida atrás de bandeirolas do bem. Hoje talvez o dramaturgo
acrescentasse ao "padre de passeata" a "presidenta de teleprompter". Alguém
precisa avisar à assessoria de Dilma quem foi Nelson Rodrigues. Era mais
honesto quando ela traficava a imagem de Norma Bengell.
Ao assinar contratos de concessão de rodovias,
Dilma citou o companheiro Nelson para dizer que "os pessimistas fazem parte da
paisagem, assim como os morros, as praças e os arruamentos". Por que não
acrescentar: assim como as estradas estouradas, os aeroportos em ruínas e o
sistema elétrico em estado de coma. A paisagem da infraestrutura brasileira
hoje é tão impactante que fica até difícil enxergar nela os pessimistas - mesmo
que eles desfilem pelados contra a mentira da conta de luz barata, e o
desfalque de 12 bilhões de reais do contribuinte para sustentá-la.
Dilma tem razão: não há motivo para pessimismo.
Basta olhar a situação dos seus amigos mensaleiros. Eles montaram um duto de
dinheiro público para o partido governista, na maior engenharia já vista para
roubar o Estado de dentro do Palácio do Planalto. Mas o otimista, ao contrário
do pessimista, sempre espera pelo milagre. E ele veio: rasurando a sua própria
decisão, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o bando do mensalão, famoso
pela monumental arquitetura do valerioduto, não era uma quadrilha.
O esquema que envolvia ministro de Estado,
tesoureiro e presidente de partido, banqueiro, funcionário público graduado e
outros companheiros fiéis, todos ligados por um mesmo despachante e uma mesma
base operacional, agindo de forma orquestrada e sistemática para o mesmo e
deliberado fim, não constituía uma quadrilha. Agora o Brasil já sabe: só há
quadrilha quando os criminosos que fazem tudo isso juntos são pessimistas perdidos
na paisagem.
O discurso épico do ministro Luís Roberto Barroso,
inocentando os otimistas do crime de formação de quadrilha - e liberando-os da
prisão em regime fechado -, é um marco de esperança para os bandoleiros
solidários, que abominam as trampolinagens individualistas e neoliberais. E
assim chega ao fim o julgamento do mensalão, com a sentença histórica
prenunciando os novos tempos: agir em bando com estrelinha no peito não é
quadrilha, é socialismo.
Foi emocionante ver os ministros Ricardo Lewandowski
e Dias Toffoli - os já famosos Batman e Robin do PT no Supremo - voando com
suas capas em defesa de Barroso e do seu Direito lírico. Todo esse otimismo
permitia antever a chegada da sobremesa: a absolvição de João Paulo Cunha (o
Mandela brasileiro) do crime de lavagem de dinheiro. A tese vencedora, mais uma
vez esgrimida com arte por Barroso, foi de que o então presidente da Câmara dos
Deputados participou da corrupção sem saber que o dinheiro que recebia era
sujo. Era o dinheiro do mensalão, operado por seus companheiros de cúpula do
PT, mas ele, assim como Lula, não sabia. Os otimistas são distraídos mesmo.
O ministro Luís Roberto Barroso chegou a dizer que
João Paulo não sabia da origem ilícita do dinheiro porque não fazia parte da
quadrilha. Logo retificou, dizendo que o réu não fora denunciado por formação
de quadrilha. Nem precisava esclarecer, todo mundo já sabe que quadrilha não
existe. Inclusive o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz,
considerando-se o seu rolezinho na prisão da Papuda para visitar José Dirceu, o
chefe da ex-quadrilha.
Disse Agnelo: "Eu sou governador, vou ao presídio a
qualquer hora e visito quem eu quiser." Está certo. Se Deus e a quadrilha não
existem, tudo é permitido. Agnelo deve ter ido levar umas palavras cruzadas a
Dirceu.
O companheiro Nelson Rodrigues dizia que a única
forma possível de consciência é o medo da polícia. A desinibição da
ex-quadrilha mostra que, para o PT, Nelson está definitivamente superado.
O recado de Dilma aos pessimistas servia também
como resposta às críticas feitas à sua política econômica no aniversário de 20
anos do Plano Real. Os autores do plano disseram que esse negócio de esconder
inflação com tarifas inventadas e esconder déficit público com maquiagem de
contas não vai acabar bem. Mas depende do ponto de vista.
As pesquisas apontam a reeleição de Dilma em
primeiro turno, com toda a política monetária do crioulo doido, a
infraestrutura em petição de miséria, a pilhagem do mensalão e do pós-mensalão,
a contabilidade criativa, as ongs piratas penduradas na floresta de
ministérios, a sangria do BNDES para a Copa dos malandros e grande elenco de
jogadas solidárias.
Isso não vai acabar bem para a paisagem brasileira.
Mas não tem problema, porque os companheiros otimistas estão a salvo dela
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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