Por
Reinaldo Azevedo
O PT realizou a sua convenção nacional neste sábado e oficializou a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da
República. Ela vai ganhar? Ela vai perder? Não sei. Seja como for, estamos
assistindo a um capítulo do fim de um ciclo. Se o PT tiver mais um mandato, o
que espero que não aconteça, vai se arrastar no poder pelos próximos quatro
anos, como um cadáver adiado. Não tem mais nada a oferecer ao país. Restará
torcer para Dilma terminar o mandato sem uma crise de proporções gigantescas.
Acabou! Os petistas não têm mais futuro a oferecer. E explico o
que quero dizer com isso. Um partido não tem de estabelecer com a sociedade e
uma relação de doador e donatário de benesses. Até porque a riqueza que se
distribui tem de ser produzida por alguém - e, por certo, não é pelos partidos,
não é mesmo? Quando afirmo que o petismo não tem mais "futuro" a oferecer,
refiro-me à perspectiva de mudanças que possam efetivamente melhorar a vida dos
brasileiros no médio e no longo prazos, fazendo deles mais do que pedintes e
beneficiários de migalhas.
O repertório do PT se esgotou. Os programas sociais estão aí, em
curso, mas a gestão não sabe como conciliar, em proporções ao menos razoáveis,
crescimento econômico, combate à inflação e juros civilizados. Ao contrário: a
realidade se tornou perversa, descompensada: inflação e juros altos para
crescimento baixo. O que restou ao PT? justamente a relação viciada de doador e
donatário.
Para que esse discurso convença, é preciso demonizar o outro;
transformá-lo na fonte de todos os males do Brasil e da política, a exemplo do
que se viu, mais uma vez, neste sábado. A convenção petista, dados os discursos
que lá se fizeram - inclusive o da presidente -, oferece aos brasileiros
apenas um debate sobre o passado. Lula, ele mesmo, foi bastante explícito a
respeito. Convidou os presentes para a dialética do obscurantismo. Disse ser
preciso convencer os eleitores que tinham 7, 8 anos quando o PT chegou ao poder
e hoje estão com 19, 20. Afirmou que é preciso lhes dizer que quão ruim era o
país…
Ocorre que só havia país em 2003 porque os tucanos haviam chegado
ao poder em 1995 e porque o PT perdeu a guerra contra o Plano Real. Só havia
país em 2003 porque havíamos vencido a batalha contra os fatores estruturais da
hiperinflação. Só havia país em 2003 porque havíamos vencido a batalha em favor
da privatização, que dotou o país de infraestrutura em setores essenciais.
Quem, em 2002, votava pela primeira vez, aos 16, 17, 18, tinha de 8 a 10 em
1994, quando o plano foi implementado. A propósito: uma pessoa que nasceu em
1986 era uma criança no ano do do Real, está hoje com 28, é um adulto, e não
sabe o que é um país com hiperinflação. E só não sabe porque o PT foi derrotado
em 1994 e 1998 e porque teve de jogar fora o seu programa para se eleger em
2002.
A disputa sobre o passado, como a propõe o partido, é
essencialmente desonesta; é intelectualmente vigarista, porque define o
adversário como um monopolista do mal e se coloca como um monopolista do bem. "E os adversários do PT? Não fazem o contrário?" Não. Desconheço quem lastime
ou reprove a ampliação de programas sociais que o partido levou adiante no
poder. Podem não ser, e não são, a resposta para todos os males, mas se trata
de um ativo que a legenda tem - e reconhecido por todos. O PT, no entanto, é
incapaz de admitir que é uma realidade derivada da estabilidade econômica
contra a qual lutou. "Fez isso porque era mau?" Não! Porque, em razão de
preconceitos ideológicos, não reconhecia seus instrumentos como válidos. E
estava, obviamente, errado.
Agora o país chegou a um nó que requer mais do que o tatibitate
redistributivista do PT. E a turma não sabe o que fazer. Está ilhada em seus
próprios preconceitos e na sua falta ade alternativa. Daí que pretenda
fortalecer essa fachada de grande doador de benesses, acusando o adversário de
verdugo das causas sociais. Como resta pouco a oferecer no terreno da doação,
os petistas repetem a sua propaganda de TV, inventam um passado que não existiu
e o colocam como uma sombra a ameaçar o futuro.
Na convenção, em suma, o PT apelou a um passado que não houve para
capturar as pessoas para um futuro que, com o PT no poder, jamais haverá. Não
sei se vai funcionar. Caso seja bem-sucedido, depois de uma luta difícil - o
que o obrigará a multiplicar o "promessismo" -, uma coisa é certa: será a
última vez. O PT está por pouco: na hipótese otimista, seis meses. Na
pessimista, quatro anos e meio. E aí o país se liberta de uma formidável teia
de mistificação. Até poderia se cobrir de glórias. Mas, para tanto, teria de ser
um defensor incondicional da democracia. O partido que faz lista negra de
jornalistas, no entanto, gosta mesmo é de ditadura. "Ah, mas não é um ditador!"
É só porque não pode, não porque não queira.
PS: Será que aquele comentador de peladas acha este um texto que "espalha o ódio", escrito para "leitores fanáticos"?
Fonte: “Blog
Reinaldo Azevedo
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