Por Augusto Nunes
Encenado para disfarçar o
nocaute sonoro sofrido por Dilma Rousseff no Itaquerão, o espetáculo da
hipocrisia protagonizado pela seita lulopetista confirma o parecer do deputado
paulista Duarte Nogueira: "Eles são incapazes capazes de tudo". Messalinas de
longo curso capricham na pose de virgem profissional para ensinar que não se
faz uma coisa dessas com alguém que, mais que presidente, é mulher, mãe, avó e
quase setentona. O comentarista Eduardo Henrique lembra que Ruth Cardoso tinha
77 anos, filhos e netos em 2008, quando foi vítima da infâmia tramada por
Dilma, então chefe da Casa Civil, em parceria com a amiga e quadrilheira
Erenice Guerra.
Os que nunca enxergaram
limites para nada fingem que perderam o sono com o desabafo da multidão
de brasileiros cansada de ser tratada pelo governo como um bando de idiotas.
São os mesmos que não viram nada de mais no caso do dossiê forjado para jogar
lama na imagem da mulher de FHC. Na página 224 do livro Ruth Cardoso: Fragmentos de uma Vida, o
escritor Ignácio de Loyola Brandão recorda o ataque traiçoeiro, repulsivo e
muito mais doloroso que qualquer palavrão. Confira:
"Ruth Cardoso tinha
razão quanto a querer se distanciar da política como ela é feita no Brasil e em
certos setores de Brasília. Ela, que sempre foi uma pessoa célebre pela
integridade e pelo cuidado com a coisa pública, se viu ameaçada pela então
chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com um escândalo em torno de um dossiê
sobre os gastos corporativos da Presidência, em que alegava que Ruth havia
despendido milhares de reais ou dólares em compras fúteis, inúteis e banais, em
vinhos e comidas. Caiu mal no mundo político, no qual Ruth sempre foi
respeitada até mesmo pelos adversários mais ferrenhos. O jornalista Augusto
Nunes, que tem um blog dos mais visitados, não resistiu e comentou: "Dilma foi
a primeira a agredir uma mulher gentil, suave, e também por isso tratada com
respeito até por ferozes inimigos do marido". Pegaram pesado e Ruth sentiu o
baque, logo ela que sempre teve o cuidado de separar o privado do público, até
mesmo no aluguel de filmes exibidos no palácio. O dossiê teria sido preparado
pela secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. As reações contra o
dossiê foram imediatas e a chefe da Casa Civil se desculpou, voltou atrás.
Ruth, elegantemente, ainda que magoadíssima, aceitou as desculpas, porém o
círculo íntimo sabe quanto isso a feriu e atingiu um coração já afetado."
A frase citada por Loyola é
um trecho do post publicado em 26 de novembro de 2009 com o título Ruth Cardoso vs Dilma: 400 a 0. Leia a
íntegra do texto:
Ruth Cardoso foi a
prova definitiva de que milagres civilizatórios ocorrem mesmo nos grotões do
planeta. A discreta e talentosa paulista de Araraquara, que se casou muito
jovem com o sociólogo carioca Fernando Henrique Cardoso, seria a única
primeira-dama a desembarcar em Brasília com profissão definida, luz
própria e opiniões a emitir - sempre com autonomia intelectual e, se
necessário, elegante contundência. Durante oito anos, o brilho da
mulher que sabia o que dizia somou-se à luminosidade da
antropóloga respeitada em muitos idiomas para clarear o coração do
poder.
No fim de 1994, por não
imaginarem com quem logo lidariam, muitos jornalistas ouviram com
ceticismo a justificativa apresentada pelo presidente eleito para a viagem à
Rússia: "Vou como acompanhante da Ruth". Ela participaria como
palestrante de um congresso de antropologia promovido em Moscou,
ele aproveitaria para descansar alguns dias. Nenhum repórter cuidou de
conferir o desempenho da palestrante. Perderam todos a chance de
descobrir que Ruth era muito mais que a mulher do n° 1.
A melhor e mais
brilhante das primeiras-damas abdicou do título já no dia da posse do
marido. "Isso é uma caricatura do original americano, esse cargo não existe",
resumiu numa entrevista. Se não existia, Ruth inventou-o. Sem
pompas nem fitas, longe de fanfarras e rojões, montou o impressionante
conjunto de ações enfeixadas no programa Comunidade Solidária. Em
dezembro de 2002, os projetos em execução mobilizavam 135 mil
alfabetizadores, 17 mil universitários e professores, 2.500 associações
comunitárias, 300 universidades e 45 centros de voluntariado.
Acabou simbolicamente
promovida a primeira-dama da República no dia da morte que pareceria
prematura ainda que tivesse mais de 100 anos. A cerimônia do
adeus comprovou que o Brasil se despedia, comovido, de
alguém que o fizera parecer menos primitivo, mais respirável, menos boçal.
E que merecia ter morrido sem conhecer a fábrica de dossiês cafajestes da
Casa Civil chefiada por Dilma Rousseff.
Instruída
para livrar o governo da enrascada em que se metera com a gastança dos
cartões corporarativos, Dilma produziu um papelório abjeto que
tentava reduzir Fernando Henrique e Ruth Cardoso a perdulários
incuráveis, uma dupla decidida a desperdiçar o dinheiro da nação
em vinhos caros e futilidades gastronômicas. Dilma foi a
primeira a agredir uma mulher gentil, suave, e também por isso tratada
com respeito até por ferozes inimigos do marido.
A fraude que virou
candidata à presidência anda propondo que o país compare Fernando
Henrique a Lula. “O Lula ganha de 400 a 0″, delira. Qualquer partido mais
competente e menos poltrão teria topado há muito tempo esse confronto
entre a seriedade e a bravata, entre o conhecimento e a ignorância, entre
o moderno e o antigo, entre o real e o imaginário. Em vez de capitular sem
combate, o PSDB poderia ao menos sugerir que se compare Dilma Rousseff a
Ruth Cardoso. A Mãe do PAC aprenderia o que é perder por um placar de 400
a zero.
Passados quatro anos e
meio, o que Dilma ouviu no Itaquerão mostrou que 400 a 0 é pouco.
Fonte:"Direto ao Ponto"
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