Nenhuma das efemérides que a Pátria costumava lembrar com demonstrações de júbilo e civilismo, como a da Independência, Proclamação da República e Abolição mereceram mais atenções e referências do que as dedicadas ao cinquentenário da Revolução de 64. Todas, evidentemente, para demonstrar erros, excessos e descomedimentos do regime militar e tentar manter a base de sustentação que deu o governo do país à chamada esquerda.
A grande plataforma da esquerda tem sido o combate ao Movimento de 64, mas o tempo passou, 64 vai ficando longe e é necessário diariamente tratar do assunto com os exageros possíveis, que levaram até à exumação de vítimas de prováveis assassinatos, ex-presidentes, hipótese desfeita pela perícia médico-legal, o que dá a certeza alentadora de que ainda restam pessoas honestas neste país.
A velocidade dos fatos desencadeados no 31 de março surpreendeu até as lideranças das Forças Armadas. O país inteiro vivia clima de preocupações e incertezas. Quando o movimento foi deflagrado, esperava-se luta e resistência em alguns Estados, inclusive na Bahia.
Um chefe revolucionário confidenciou, tempos depois, a amigos, que as forças revolucionárias, se encontrassem forte resistência em Salvador, pretendiam instalar em Feira de Santana centro de comando de operações. A fuga precipitada do presidente João Goulart para o Uruguai, poucas horas depois de deflagrado o movimento, surpreendeu a todos. Na Bahia houve apenas a posição dúbia do governador Lomanto Jr., que provocou hesitações e duvidas.
Um cidadão, que colhia assinaturas em abaixo-assinado pedindo a deposição do prefeito desta cidade foi preso pela Polícia Militar. Chefes políticos e o povo não sabiam o que iria acontecer. Alguns políticos desapareceram para não assumir posições. Preso o prefeito e afastado, definitivamente, do cargo, os boatos, muitos deles alarmantes, tomaram as ruas.
Em pesado ambiente de confusão e incertezas toda a responsabilidade caiu nas costas da Câmara. Altamir Lopes, vice-presidente do Legislativo, assumiu a Prefeitura até a posse do prefeito que a Câmara elegeu, Joselito Amorim, que livrou o Município do descrédito, da inoperância e da situação de insolvência em que se encontrava. A Câmara nunca sofreu pressões para decidir e mente quem afirma, hoje, que deliberou cercada de metralhadoras. Tomou medidas acertadas num momento de crise. Combateu decisões judiciais concedidas sob encomenda e deu cunho de legalidade às suas deliberações. Houve quem sugerisse o “impeachment” do prefeito deposto e várias outras disparatadas soluções foram aventadas. Nomes foram lembrados para ocupar a Prefeitura mas a Câmara, por sua maioria, que era apenas de um voto, agiu com serenidade, buscando o único caminho possível em momento de extrema gravidade. Declarou vago o cargo de prefeito, o que era inquestionável, e elegeu, para a chefia do Executivo, o seu presidente, o único vereador que tinha experiência de governo. Amorim construiu o Estádio, o prédio do Ginásio Municipal, restaurou as combalidas finanças municipais e a confiança do comércio no governo.
O cinquentenário da Revolução merece reverências mas dos que se disseram perseguidos e humilhados e a usaram para se eleger, se projetar e continuar a viver sem nada fazer a não ser em proveito próprio. Mas, a Câmara, ao devolver, recente e simbolicamente, o mandato ao prefeito deposto, praticou apenas ato demagógico. Ninguém devolve o que não tirou e nunca possuiu.
Fonte: Jornal "Folha do Norte", edição de sexta-feira, 16
Nenhum comentário:
Postar um comentário