Por Mara Bergamaschi
"Imagina na Copa". Não dá para imaginar mais
nada, mal ou bem, porque a Copa simplesmente chegou. A ficha caiu: faltam seis
meses, só. E sem estádio ícone, nem aeroporto super, nem novíssimas estações de
metrô, nem trem bala Rio-São Paulo, nem hotel das Arábias em cartão postal.
Menos, menos, muito menos.
Segure a cívica vaidade vã,
lamente a megalomania e nem se lembre do fantástico Ninho do Pássaro de Pequim
(construção de US$ 500 milhões, equivalentes à reforma do Maracanã). Considere:
o panteão moderno de Brasília, que custou R$ 1,7 bi e um operário morto, com
aquelas colunas todas, bem que impressiona.
Esqueça a estrutura de
ferro e aço que despencou na lama do estádio construído para abertura do
Mundial, o Itaquerão de São Paulo – jazigo perpétuo de dois outros
trabalhadores. Tragédia que nem os mais pessimistas esperavam.
Mantenha o prumo, caia na
real, almeje o possível. Digamos: torcedores conscientizados ao longo dos
últimos quatro anos e, quem sabe, um Maracanã sem inundação no seu entorno.
Quanta ambição! Menos, bem menos: a realidade aqui é inimaginavelmente dura.
Até para a intocável Fifa.
Escaldada pela Copa das Confederações, ela se prepara, sempre em grande estilo,
para o pior: no sorteio da Copa, na sexta-feira passada, realizado em luxuoso e
exclusivo resort da Bahia, soube-se que havia dois policiais para cada três
convidados do evento.
Com ou sem protestos, a
blindagem do público da Copa, ainda que por forças de segurança muito aquém do "padrão Fifa", está mais do que testada. Iludida, revoltada ou alijada, a
maioria dos brasileiros vai parar em junho para ver o Mundial. Na Hora H da
seleção, quem, no país do futebol, ficará indiferente?
Mesmo sendo anfitriões,
nosso orgulho cívico dependerá mais do resultado obtido no gramado do que das
realizações fora dele. Fora do campo, é patente - e gritaram isso as
manifestações de Junho -, que as conquistas, no Esporte e além dele, foram
superestimadas. Restará a batalhados atletas: jogar bem, controlar os
adversários e contar com a sorte.
Se escaparmos dos riscos de
vexame, no final será apresentado um balanço favorável da Copa, apesar de
estouros em orçamentos regionais. Houve, é certo, quem trabalhasse direito. Mas
se ganharmos o hexa, que legado importa?
Começará em seguida a
rodada que definirá o placar de outubro. Veremos erguer-se novamente o mundo
dourado para eleitores. A hora da abundância: mais, mais e mais promessas -
inclusive para as Olimpíadas de 2016.
Mara Bergamaschi é jornalista e escritora.
Foi repórter de política do Estadão e da Folha em Brasília.
Fonte: "Blog do Noblat"

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